Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Luís Henrique Barbosa Leal Maranhão (UFRB)

Minicurrículo

    Graduado e Mestre em Comunicação pela UFPE, atualmente é Professor da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Desenvolve pesquisa em cinema e fotografia, ministrou oficinas de formação audiovisual e dirigiu os curtas Retinianas (2010) e Fotograma (2016), que circularam por festivais como Montevidéu, FIDOCS, Valdivia, Biarritz, Hamburgo e Dei Popoli. É membro da Parabelo Filmes, trabalha como diretor de fotografia e integrou os coletivos audiovisuais Contravento e do movimento #OcupeEstelita.

Ficha do Trabalho

Título

    Reflexão sobre imagem e crítica da violência em Marker,Godard e Guzmán

Resumo

    Se a produção contemporânea de imagens é, hoje, sensivelmente atravessada pela reprodução, quais articulações de imagens seriam capazes de romper com a mera reprodução e estabelecer uma crítica do presente? Partindo dessa questão, proponho pensar como, através dos recursos de montagem e do uso do comentário, diretores como Marker, Godard e Guzmán interrogam as imagens e estabelecem, em diferentes obras, uma reflexão sobre a violência, a condição estética e o caráter histórico das imagens.

Resumo expandido

    Recentemente, a tecnologia e os meios digitais propiciaram a um número exponencialmente maior de pessoas a possibilidade de fazer imagens “com uma velocidade e numa escala jamais vistas” (LISSOVSKY, 2011, p.12). Parece fundamental, portanto, em uma época em que a experiência social é tão marcada pela circulação de imagens, interrogar o sentido que estas e suas formas de disposição produzem. Se “nunca a imagem se impôs com tanta força no nosso universo estético, técnico, cotidiano, político, histórico” (DIDI-HUBERMAN, 2008, p. 209), quais relações ela constrói nesses campos? Se a produção contemporânea de imagens está, hoje, sensivelmente atravessada pela reprodução e “agora mais do que nunca, fotógrafos são um modo pelo qual uma fotografia produz outra fotografia” (LISSOVSKY, 2011, p. 11), quais articulações de imagens seriam capazes de romper com a mera reprodução e instaurar uma temporalidade reflexiva, estabelecer uma crítica do presente? Nessa perspectiva, este trabalho propõe-se a pensar como, através dos recursos de montagem e do uso do comentário, diretores como Chris Marker, Jean-Luc Godard e Patrício Guzmán interrogam as imagens e estabelecem, em algumas de suas obras, uma reflexão sobre a violência, a condição estética e o caráter histórico das imagens.
    Nesse sentido, destaco a sequência de Level Five (1996) na qual, Chris Marker nos apresenta ao material de arquivo de uma mulher que se joga de um precipício. Diante da imagem, que a montagem faz a opção por repetir em aproximações sucessivas, nosso olhar se detém sobre os gestos da mulher. Paralelamente, o comentário direciona nossa atenção para o instante preciso no qual, antes de pular, a mulher olha para a câmera. A montagem, então, paralisa a imagem nesse instante e a narração problematiza a intervenção da câmera sobre os acontecimentos, refletindo sobre a dimensão ética da “ação” do cinegrafista e sua espera por um acontecimento “como um caçador observa através da sua mira” (MARKER, 1996).
    Igualmente, o tratamento que Jean-Luc Godard confere à fotografia de Ron Haviv captada em 1992, em Bijeljina (Bósnia), durante os conflitos nos Balcãs, representa uma proposta estética inovadora no campo cinematográfico, que constrói um espaço de significação crítica para a violência; em Je vous salue, Sarajevo (1993), o diretor “decupa” a imagem fotográfica – optando por nos mostrar fragmentos desta, em planos mais abertos e mais fechados, até revelá-la por inteiro – transformando-a, através dos procedimentos de montagem e narração, em um manifesto poético sobre “a suspensão seletiva de humanidade que qualquer guerra engendra” (DOS ANJOS, 2015, p.234) e o desafio da sobrevivência “em tempos sombrios” (ARENDT, 1970).
    Além destes, podemos pensar, ainda, como experiência cinematográfica que tensiona os limites da visibilidade a sequência do cinegrafista sueco Leonardo Henrichsen que – baleado por um soldado do Exército chileno em um dos enfrentamentos que antecedem o golpe de Estado de 1973 – acaba por filmar sua própria morte; tal sequência, impactante pela violência que revela, foi montada por Patrício Guzmán de maneiras distintas no encerramento do primeiro episódio (1975) e na abertura do segundo episódio (1977) da trilogia A batalha do Chile, e constitui um acontecimento capaz de problematizar o caráter múltiplo das imagens e suas implicações histórico-político-estéticas.

Bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio. O cinema de Guy Debord Em: Image et mémoire, Hoëbeke, 1998b. Disponível em: http://bit.ly/1pwdx1E.

    ARENDT, Hannah. Men in hard times. New York: Harcourt, 1970.

    BENJAMIN, Walter. O autor como produtor (1934) Em: Obras Escolhidas 1 – Mágia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 1994.

    DIDI-HUBERMAN, Georges. Quando as imagens tocam o real, 2008. Disponível em: http://bit.ly/18Tay5o

    DOS ANJOS, Moacir. Je vous salue, Sarajevo Em: PUPPO, Eugênio; ARAÚJO, Mateus (org.). Godard inteiro ou o mundo aos pedaços, 1a. ed. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2015.

    LISSOVSKY, Maurício. Dez proposições acerca do futuro da fotografia e dos fotógrafos do futuro Em: Facom, número 23, 2011.

    MONDZAIN, Marie-José. A imagem pode matar? Lisboa: Vega, 2009.

    RANCIÈRE, Jacques. O destino das imagens (2001). Rio de Janeiro: Contraponto, 2012.