Ficha do Proponente
Proponente
- Guilherme Rezende Landim (UFJF)
Minicurrículo
- Mestre e bacharel em Comunicação pela UFJF, além de bacharelando em Ciências Sociais (UFJF/2016-), atualmente desenvolvo projetos teóricos e práticos relacionados à linguagem cinematográfica, com foco no documentário, sendo que minhas pesquisas tem se dado no campo da Antropologia Visual, com trabalhos voltados principalmente ao documentário etnográfico. Tenho experiência nas áreas de Artes e Comunicação, com ênfase em Cinema e Audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- Ancestralidade e Memória na construção identitária no documentário
Seminário
- Cinema e Ciências Sociais: diálogos e aportes metodológicos
Resumo
- Partindo do princípio do argumento de Claudine de France (1998), de que o registro audiovisual “permite que a tradição oral se fortaleça a partir da apreensão das manifestações visuais do sensível” propõe-se investigar a oralidade, a ancestralidade e a memória, por meio das narrativas orais/visuais no documentário “Batuque: (en)cantos de luta”, narrativas que pressupõem a reunião e análise de um conjunto de entrevistas, fotografias, filmagens, arquivos sonoros e textos.
Resumo expandido
- No que tange ao universo da representação do visível, por meio dos preceitos metodológicos de Claudine de France, propõe-se nesta pesquisa uma metodologia que compreenda observação direta, enquete oral, observação fílmica e observação diferida (FRANCE, 1998, p. 14), além dos relatos da pesquisa de campo e da análise de arquivos. Na medida em que “descrever o real consiste em definir como objetivo – ou por atitude metodológica – o descobrimento progressivo dos mínimos aspectos do sensível” (FRANCE, 1998, p. 13), propõe-se realizar a análise do processo de um filme exploratório, no qual a equipe cinematográfica, realiza uma imersão em campo, por meio de suas apreensões (anotações, discurso oral do ator social, registro e observação fílmica) a respeito do Batuque Afro-brasileiro de Nelson Silva. Trata-se de um grupo musical de raiz que atualmente conta com 19 integrantes, homens e mulheres negros(as), sendo a maior parte deles(as) com mais de 60 anos. O Batuque foi criado e dirigido por Nelson Silva, com a ideia de formar um conjunto que tivesse função sociocultural em favor das manifestações do negro em Juiz de Fora (MG). O repertório de mais de 80 letras e arranjos musicais (sambas, lamentos, batuques, canções, toadas, maculelês e hinos) foi composto por Nelson Silva, sendo que há uma forte relação das músicas com a história da população negra em Juiz de Fora. A música é um forte elo entre as pessoas do grupo, que encontram-se todas as terças-feiras para ensaiar. Perguntas semiestruturadas, foram realizadas e filmadas com os integrantes do Batuque Afro-brasileiro de Nelson Silva entre Julho e Setembro de 2016, remetendo principalmente a esta forma de expressão do grupo, a qual exerce em suas vidas um modo de se relacionar com o mundo, envolto por sua espiritualidade, devido à sua ligação com o catolicismo e com as religiões de matriz africana, além de remeter à ancestralidade de cada integrante, como afirma um deles “Todo o conhecimento musical que eu tenho começou aqui no Batuque. Na época também com o padre Sérgio Moreira na Catedral: A primeira missa que eu cantei com o coral foi com o Batuque Afro-brasileiro e aí passei a gostar muito, ao ver as histórias e passei a prestar bem atenção. O Batuque foi uma abertura musical pra mim” (MOTA, 2016). A partir da afirmação do atual regente do grupo e das observações de campo, infere-se o fato de que a música perpasse a noção de identidade e memória de cada batuqueiro(a). Influências como o samba, a seresta, o tambor mineiro, o jongo dentre outros estilos musicais são recorrentes nos relatos das entrevistas, nas observações de campo e nas pesquisas em arquivos. Cada integrante traz elementos de suas vivências musicais para o grupo, e nos ensaios aprendem novos estilos e reconfiguram estas influências. Nas incursões em institutos de pesquisas, museus, arquivos, centros de memória e outros acervos, como os pessoais, observa-se que o registro que se tem do Batuque Afrobrasileiro de Nelson Silva encontra-se puído, esparso, mal distribuído, sem um locus, onde se tenham informações do grupo reunidas e organizadas. A qualidade dos áudios e vídeos é precária, grande parte dos acervos fotográficos e outros conteúdos estão guardados, esquecidos ou mesmo perdidos por integrantes do grupo. Dessa forma, visa-se com a pesquisa em questão compreender o conjunto dessas memórias esparsas junto aos relatos do grupo, por meio do filme, como constituição de uma narrativa para construção identitária do grupo, tendo em vista alguns questionamentos: Como se apresentam para o público e para a equipe do filme? Como se veem? Quais as características mais marcantes de sua descrição? Quais as relações entre a origem do grupo e seu período atual? Quais são as identificações dos atuais integrantes com o Nelson Silva? Como o descrevem? Como criam uma identidade de herança negra? Como as memórias e estórias contribuem para a construção de uma identidade social e social e cultural coletiva?
Bibliografia
- BAMBA, Mahomed. Jean Rouch: cineasta africanista? DEVIRES, Belo Horizonte, V. 6, N.
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