Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    RODRIGO AUGUSTO FERREIRA DE MORAES (UFRJ)

Minicurrículo

    Bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente cursa Pós-graduação em Comunicação no PPGCOM-UFRJ, onde desenvolve sua dissertação a respeito da representação do erotismo na obra de Carlos Reichenbach. Como realizador dirigiu o curta-metragem premiado Repórter Isso e o longa-metragem Okutá Ió, ainda não finalizado.

Ficha do Trabalho

Título

    Erotismo e o Abjeto em Carlos Reichenbach: Extremos do Prazer

Seminário

    Corpo, gesto, performance e mise en scène

Resumo

    O presente trabalho faz parte de uma pesquisa mais ampla acerca da representação do erotismo e do uso do abjeto na filmografia de Carlos Reichenbach. Para o presente seminário será utilizado o filme “Extremos do Prazer” dirigido em 1984, no qual o diretor coloca em evidência o debate acerca do feminino e do desejo como formas de representação, além do uso do abjeto através da violência de modo a estabelecer um diálogo entre o sadismo o sangue e o erótico.

Resumo expandido

    Esse trabalho faz parte da minha pesquisa de mestrado em curso no PPGCOM-UFRJ, no qual analiso filmes do período “erótico” da produção de Carlos Reichenbach, delimitada entre os anos de 1981 e 1984. Último filme dessa fase, Extremos do Prazer (1984) no qual Reichenbach criou uma atmosfera de interação entre personagens em uma casa na qual se reúnem em um final de semana. O diretor constrói a narrativa de forma ambígua ao trazer à tona personagens machistas, libertários, de gerações distintas, mas com uma narrativa conduzida prioritariamente pelas personagens femininas.
    Em um primeiro momento a exposição se pautará, de forma introdutória, na análise da construção dos personagens do diretor e suas formas performativas, e como essas “construções” afetam o desenrolar da narrativa. No início do filme, Ricardo (Roberto Miranda) exibe seus músculos para os outros personagens. Luís (Luiz Carlos Braga), então, passa a alternar seu olhar, subjetivo, entre a cintura de Ricardo e os seios de Marcela (Taya Fatoon), em uma evidente mensagem da transitoriedade da sexualidade, como afirma Michel Foucault no primeiro volume de História da Sexualidade (1988), no qual estabelece que a sexualidade seria um “dispositivo histórico”, e não um fator inerente ao ser humano, afirmando assim que seria construída pelas relações históricas. A construção de performances desses personagens pode ser debatida também através dos estudos de Judith Butler que em Corpos que Pesam: Sobre os Limites Discursivos do Sexo (1993), discute como a linguagem pode afetar as performances sociais dos sujeitos. Esses estudos são importantes no sentido de estabelecer um ponto de partida para a discussão que será aprofundada posteriormente, relacionada ao sadismo; à violência; e do abjeto.
    Em um segundo momento, a partir das relações sádicas que se estabelecem entre os personagens, e do uso do sangue, esse trabalho buscará um entendimento das referências do diretor relativas às questões da violência e do abjeto (KRISTEVA, 1982), este último fortemente relacionado com a intimidade feminina.
    A ligação do sexo com a morte/violência se dá a partir da relação entre Ricardo e Marcela, que contém componentes sádicos e de modo mais direto através da relação de Luís com Ruth, mulher com a qual ele tivera uma relação e que o mesmo teria assassinado a pedido da própria. Em O Erotismo (2011), o erótico é problematizado por Georges Bataille – que o entende como uma transgressão organizada na qual o interdito pressupõe o afastamento do homem da natureza, estabelecendo um diálogo com o trabalho de Sigmund Freud, O mal-estar na civilização (2011), onde analisa como o indivíduo ao se afastar da violência e controlar seus instintos primários passa a se constituir em sociedades, mas não sem experimentar um profundo mal-estar. Da mesma forma (BATAILLE p.64) afirma que “o excesso se manifesta na medida em que a violência prevalece sobre a razão”, corroborando dessa maneira que a violência ligada ao erotismo (sadismo) passa pelo interdito da transgressão, ao passo que o indivíduo tende a buscar seus instintos primários, contrários a essa racionalidade. O trabalho seria forma através da qual esse indivíduo se alia à razão de forma a “adiar” seu “impulso imediato comandado pela violência do desejo” (BATAILLE, p.64). Ainda BATAILLE afirma, ao citar SADE que: “o movimento do amor, levado ao extremo, é um movimento de morte”. A partir desses estudos pretendo analisar como a narrativa constrói e desconstrói posteriormente, as relações de sadismo presentes no filme e como a violência se insere de maneira a afirmar o interesse do diretor no desejo.
    Por fim esse estudo pretende também debater os pontos convergentes e divergentes entre as teorias de Kristeva e Bataille sobre o abjeto, considerando que a primeira o trata a partir de um estudo psicanalítico, enquanto o segundo analisa a abjeção através de um fenômeno psicossocial e buscar compreender como Reichenbach faz uso dessas teorias em sua narrativa.

Bibliografia

    BATAILLE, Georges. O erotismo. Belo Horizonte: Autêntica, 2014.
    __________________. L’Abjection Et Les Formes Miserables, in Essais de sociologie, (Euvres completes, Paris: Gallimard, 1970.
    BUTLER, Judith. Bodies that Matter: On the Discursive Limits of Sex. Florence, USA: Routledge, 1993.
    FOUCALT, Michel. História da Sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
    FREUD, Sigmund. O mal-estar na civilização. Trad. Paulo César de Souza. São Paulo: Penguin/Companhia das Letras, 2011.
    KRISTEVA, Julia. Powers of Horror – an enssay on abjection. Tradução de LEON S.
    ROUDIEZ. New York, 1982.
    MULVEY, Laura. Visual and Other Pleasures (Language, Discourse, Society). Palgrave Macmillan, 2007.
    SANTOS, Matheus Araújo. Abjeto em disputa : dissidências ou não entre Bataille, Kristeva e Butler. In Estudos e políticas do CUS: Grupo de pesquisa Cultura e sexualidade. Salvador: EDUFBA, 2013.