Ficha do Proponente
Proponente
- Milena Leite Paiva (UNICAMP)
Minicurrículo
- Milena Leite Paiva é designer visual e diretora de arte. Graduada em Design (UNEB) e Mestra em Multimeios (UNICAMP). Atualmente é doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais da UNICAMP, onde desenvolve uma pesquisa centrada no papel da direção de arte na construção da visualidade no audiovisual, com foco no emprego conceitual e técnico da cor nos processos da referida função. É integrante do Grupo de Pesquisa MANTIS – Cor, Cariz e Sintaxe Visual.
Ficha do Trabalho
Título
- Estética, Cor e Direção de Arte em Meu Pedacinho de Chão
Resumo
- Este artigo apresenta uma análise estética da telenovela Meu Pedacinho de Chão (2014), dirigida por Luiz Fernando Carvalho e veiculada pela Rede Globo de Televisão, com foco no emprego conceitual e técnico da cor nos processos da direção de arte e na sua expressão na visualidade da obra. Serão aplicados o conceito de imagem de Aumont (1993) e as ideias de Block (2010) acerca da construção da narrativa visual no audiovisual, além de fundamentos da teoria das cores, conforme Guimarães (2000).
Resumo expandido
- Este artigo apresenta uma análise estética da telenovela Meu Pedacinho de Chão (2014), dirigida por Luiz Fernando Carvalho e veiculada pela Rede Globo de Televisão, com foco no emprego conceitual e técnico da cor nos processos da direção de arte e a sua expressão na visualidade da obra. Considerando o conceito de imagem proposto por Aumont (1993) e os escritos de Block (2010) acerca da construção da narrativa visual em produtos audiovisuais a partir dos processos práticos da produção, analisamos um conjunto de sequências da telenovela que aponta para um uso experimental e original da cor na televisão brasileira. Para fundamentar a discussão utilizamos ainda uma base conceitual oriunda da teoria das cores, conforme a pesquisa desenvolvida por Guimarães (2000).
Compreendendo-se que no conjunto dos trabalhos televisivos de Luiz Fernando Carvalho é possível apontar uma prerrogativa de subversão a processos e perspectivas projetivas no contexto industrial da Rede Globo, em sua busca autoral e dialética entre o artesanal e o industrial, definimos como objeto de análise a telenovela Meu Pedacinho de chão, por esta obra representar tanto uma valorização de processos e técnicas artesanais em um contexto de processos industriais da direção de arte quanto pelo seu alinhamento a um apelo televisivo à estetização imagética evidenciado pelo uso ostensivo de recursos de pós-produção digital, tal como de efeitos visuais e de correção da imagem; o que aponta para o caráter interdisciplinar da construção estética no audiovisual. Observa-se em Meu Pedacinho de Chão uma radicalização da visualidade televisiva. Os processos circunscritos ao universo prático da direção de arte são expandidos ao limite expressivo, o que se expressa esteticamente nas imagens.
Esta análise será norteada pela concepção de que, sejam estáticas ou em movimento, as imagens ficcionais trazem o registro de um processo de criação pautado na manipulação de materialidades e visualidades específicas para expressar ideias e sentidos particularizados. A investigação foi assim direcionada aos processos conceptivos da imagem circunscritos às prerrogativas de projeto da criação espacial e material da cena no audiovisual, em sua relação estrutural com as dimensões conceptivas da cor, considerando, para tanto, a realização de um mapeamento de processos, conceitos e falas originais destes “lugares” de criação e da análise dos seus desdobramentos no aspecto visual da obra. Buscou-se traçar uma abordagem teórica e prática das diretrizes visuais intrínsecas ao projeto visual de uma produção audiovisual ficcional e da sua expressão nos domínios cromáticos da imagem.
No contexto das práticas audiovisuais, a composição da materialidade cênica é estruturada com base em uma paleta de cores conceituada e montada no período da pré-produção e de pesquisa da direção de arte, sempre em diálogo com a direção de fotografia. Esta paleta define o arranjo e a combinação de cores e tonalidades que irão perpassar os elementos cênicos. A partir das cores sugeridas, é possível definir todo o planejamento e o controle cromático de cenários, de figurinos e de maquiagem. Cores que irão definir posteriormente narrativas e sentidos particulares nas imagens. A análise do Meu Pedacinho de Chão é realizada segundo dois direcionamentos cromáticos: o da cor “material” que define a materialidade da cena, e o da cor “imaginária”, resultante da projeção visual desses elementos na imagem a partir do trabalho da fotografia (criação de luz, sombras, tonalidades e planos) e de correção na pós-produção. A visualidade das obras é composta, neste sentido, por um arranjo de cores “imaginárias”, cores pensadas de forma a sustentar a representação ficcional: o universo imaginário da obra, seus espaços, objetos e personagens, enfim, a diegese.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. A imagem. Campinas, SP: Papirus, 1993.
_____________. O olho interminável: cinema e pintura. Cosac e Naify: São Paulo, 2004.
BLOCK, Bruce A. A narrativa visual: criando a estrutura visual para cinema, TV e mídias digitais. Tradução: Cláudia Mello Belhassof. São Paulo: Elsevier, 2010.
BUTRUCE, Débora Lúcia Viera. A Direção de arte e imagem cinematográfica. Sua inserção no processo de criação no cinema brasileiro dos anos 1990. 2005. 227f. Dissertação (Mestrado em Comunicação) – Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Imagem e Informação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2005.
CARVALHO, Luiz Fernando. Meu pedacinho de chão. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2014.
GUIMARÃES, Luciano. A cor como Informação. A construção biofísica, lingüística e cultural da simbologia das cores. São Paulo: Annablume, 2000.
HAMBURGER, Vera. Arte em cena: a direção de arte no cinema brasileiro. São Paulo: Editora Senac São Paulo; Edições Sesc São Paulo, 2014.