Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Manuela de Mattos Salazar (UFPE)

Minicurrículo

    Manuela de Mattos Salazar, mestre em Comunicação pela Universidade Federal de Pernambuco, possui graduação em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná, e especialização em jornalismo digital pela AESO – Faculdades Integradas Barros Melo.

Ficha do Trabalho

Título

    Destruição e criação: temporalidade nas naturezas mortas de Ori Gersht

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Este trabalho investiga as relações temporais resultantes do uso de diferentes linguagens – pintura, fotografia, vídeo – e de novas tecnologias em três trabalhos do artista israelense Ori Gersht. Ao contrapor o fator estático das naturezas mortas, gênero ligado à ideia de transitoriedade, com os movimentos velozes e explosivos, o artista propõe uma renovação nesta tradição pictórica com um debate a respeito das relações entre vida e morte, mas, sobretudo, entre beleza e violência.

Resumo expandido

    Em Blow up (2007), da série History Repeating, Ori Gersht reproduz de modo milimetricamente calculado arranjos florais inspirados em quadros do pintor francês de naturezas mortas do século XIX, Henri Fantin-Latour. Em seguida, o artista promove explosões nestes artefatos e registra em velocidades inconcebíveis para o olhar humano (como 1/6000 de um segundo) o instante mínimo do acontecimento. O resultado são vídeos que desaceleram e fotografias que congelam o impacto causado pela explosão. “Gersht contrasta a violência da explosão com a calma das pinturas de natureza morta tradicionais, embora a mensagem mórbida permaneça” (PETRY, 2013, 54, tradução nossa).

    A mesma coisa podemos ver em Pomegranate (2006), da mesma série, quando o artista reproduz um singelo bódegon do espanhol Juan Sanchéz Cotán, mas substitui um marmelo por uma romã, na composição. Trata-se de uma observação sobre a polissemia do nome desta fruta em hebraico, que também por significar granada. No vídeo da obra, vê-se, em câmera lenta, um projétil cruzar o enquadramento e atravessar a romã, espalhando suas sementes para todos os lados, o que, de fato, aconteceu de maneira imensamente veloz e imperceptível ao olho humano. “O momento da criação é o momento da destruição em si”, afirma Gersht.

    Por fim, Gersht compôs On Reflection (2015) a partir de uma série de arranjos de flores artificiais, inspirados nos pintados pelo belga Jan Brueguel, o Velho, no século XVII. Desta vez, ele os filmou e os fotografou refletidos em um espelho, e descargas elétricas destruíram as superfícies reflexivas, o que, novamente por desaceleração e congelamento, provocou o surgimento de fractais, movimentos e reflexos difusos, registradas nas diversas obras da série. Ao trabalhar simultaneamente com pintura, fotografia tecnológica e vídeo, Gersht, de fato, propõe um repertório de temporalidades, que retomam e atualizam as relações entre a morte e a vida, a beleza e a infalibidade do tempo sobre as coisas, já presentes desde as primeiras manifestações das naturezas mortas, na Antiguidade.

    Assim, visamos neste trabalho investigar este novo modo de ver o gênero das naturezas mortas, cujo advento proporciona uma variedade de instâncias temporais, provocadas pela distinção e mistura entre movimento e estática. Temos aqui, portanto, um still life que não é tão still, e uma natureza efetivamente morta pela brutalidade de forças usadas nas obras. A esta discussão, portanto, soma-se outra, sobre a relação entre beleza e violência, na rapidez de projéteis disparados, e explosões inesperadas, que o próprio artista assume ser uma preocupação originária seu tempo vivendo em Tel Aviv. Com a poeira que paira lentamente em Blow up, as sementes de romã vermelhas suspensas no ar, o uso calculado de sonoridades alarmantes, Gersht promove um encontro com um universo de guerra, e suas temporalidades suspensas e agoniantes diante da fragilidade da vida.

    Além da influência dos grandes mestres da pintura das naturezas mortas de séculos passados, Gersht também se pauta nas revoluções tecnológicas fotográficas, como, por exemplo, a obra de Harold Edgerton, e podemos sentir ressoar influências de outros artistas contemporâneos que lidam com variações temporais como Michael Wesely e Sam Taylor Wood. A tecnologia é essencial: seus trabalhos são realizados com uma dezena de câmeras e uma série de computadores ligados em rede à explosivos, que proporcionam a nossa visualização de um tempo que está além do que podemos experienciar. Assim, também pretendemos entender como os trabalhos de Ori Gersht se confrontam com conceitos absolutos de verdade e de tempo passado na fotografia, no vídeo e na pintura.

Bibliografia

    BRYSON, Norman. “Looking at the Overlooked – Four Essays on Still Life Painting”. London, 1990.

    DUBOIS, Philippe. O ato fotográfico. Campinas: Papirus, 1993

    FATORELLI, Antonio. Fotografia contemporânea – Entre o cinema, o vídeo e as novas mídias. Rio de Janeiro: Senac Nacional, 2013.

    FONT-RÉAULX, Dominque de. “Painting and Photography – 1839-1914”. Paris, Flammarion, 2012.

    LISSOVSKY, Maurício. A máquina de esperar – Origem e estética da fotografia moderna. Rio de Janeiro: Mauad X, 2008.

    PETRY, Michael. Nature Morte – Contemporary artists reinvigorate the Still-Life tradition. Nova York: Tahmes & Hudson, 2013.

    Obras:
    Ori Gersht, Big Bang, 2006: https://vimeo.com/113898052
    Ori Gersht, Pomegranate, 2007: https://vimeo.com/113897887
    Ori Gersht, On Reflection, 2015: https://vimeo.com/111638584