Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    ANA LUCIA DE ALMEIDA SOUTTO MAYOR (EPSJV/FIOCRUZ)

Minicurrículo

    ANA LUCIA DE ALMEIDA SOUTTO MAYOR é Doutora em Literatura Comparada pela UFF (2006), Mestre em Literatura Brasileira pela UFRJ (1990) e membro, desde 2007, do Grupo de Pesquisa, Ensino e Extensão “Currículo e linguagem cinematográfica na educação básica”, coordenado pela Profa. Dra. Adriana Fresquet (FE/UFRJ). Atualmente é Pesquisadora em Saúde Pública no Laboratório de Iniciação Científica na Educação Básica (LIC-PROVOC), da EPSJV/FIOCRUZ. Docente Titular (aposentada) do CAp./UFRJ.

Ficha do Trabalho

Título

    Nas trilhas do desejo: ciência, educação e arte em “A pele que habito”

Resumo

    O presente artigo pretende por discutir as relações entre iniciação científica no Ensino Médio e arte, tomando como ponto de partida a análise de uma monografia acerca do cinema de Pedro Almodóvar, notadamente em seu filme “A pele que habito”, desenvolvida por um aluno da EPSJV/FIOCRUZ. O objetivo central dessa reflexão é investigar de que modo a dimensão estética da linguagem cinematográfica contribui para a formação do jovem pesquisador, examinando a análise realizada acerca do filme.

Resumo expandido

    A Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio compreende, à luz dos princípios da politecnia, que o processo de desenvolvimento educacional pressupõe o acesso integrado aos domínios do trabalho, da ciência e da cultura. O currículo dos estudantes prevê o “Programa Trabalho, Ciência e Cultura”, voltado para a consolidação da pesquisa como elemento central para a formação humana, estimulando os jovens a serem produtores de conhecimento, por meio da elaboração de uma monografia de final de curso, permitindo ao aluno desenvolver a pesquisa de um tema de interesse próprio, vivenciando todas as etapas de construção de um texto científico.
    Problematizar as relações entre processos de iniciação científica e linguagens de arte implica colocar em xeque o pensamento e a criação como elementos decisivos em ambas as esferas do conhecimento humano. Interessa-me pensar como a arte contribui para instigar e desafiar o pensamento científico, à luz da premissa de que ela, em razão de desestabilizar a percepção, pelo estranhamento provocado pelos objetos estéticos, é um vetor potente de estímulo à indagação, à imaginação e à criação humanas.
    Para refletir sobre essas questões, do ponto de vista conceitual, discutirei as contribuições de três filósofos – Gaston Bachelard, Gilles Deleuze e Félix Guattari -, cujas reflexões apontam para uma discussão acerca da natureza do pensamento científico, do papel do obstáculo e do problema nas investigações científicas (Bachelard) e para a dimensão criadora na filosofia, na ciência e nas artes (Deleuze e Guattari).
    O conceito de obstáculo assume uma importância capital na construção do pensamento bachelardiano, na medida em que, segundo o filósofo, o obstáculo se apresenta não como um elemento exterior ao processo de construção do conhecimento, mas como algo intrínseco ao ato de descobrir, de conhecer: “O real nunca é “o que se poderia achar” mas é sempre o que se deveria ter pensado. (…) No fundo, o ato de conhecer dá-se contra um conhecimento anterior, destruindo conhecimentos mal estabelecidos, superando o que, no próprio espírito, é obstáculo à espiritualização.” (BACHELARD, 1996, p.11)
    Como o obstáculo, o conceito de problema também encontra, no pensamento de Bachelard, uma decisiva relevância. Estranhar fatos, desconfiar de verdades, por em xeque o estabelecido: eis os desafios primeiros de um olhar científico sobre o mundo. Nas palavras do filósofo, “é justamente esse sentido do problema que caracteriza o verdadeiro espírito científico. Para o espírito científico, todo conhecimento é reposta a uma pergunta. Se não há pergunta, não pode haver conhecimento científico. Nada é evidente. Nada é gratuito. Tudo é construído. (BACHELARD, 1996, p.18)
    Ao lado da dimensão criativa do pensamento filosófico, Deleuze e Guattari enfatizam a presença do exercício do pensamento não somente no âmbito da filosofia, mas também em outros domínios do conhecimento humano: “o pensamento não é um privilégio da filosofia: filósofos, cientistas, artistas são antes de tudo pensadores.” (MACHADO, 2009, p.13). Filosofia como potência criadora; ciência e arte como potências do pensamento: convergências epistemológicas, resguardando singularidades e funções de cada um desses domínios. Para além das convergências, possibilidades de tangenciamentos provocadores entre filosofia, arte e ciência, justapondo criação e pensamento.
    Do ponto de vista metodológico, para examinar a análise realizada nesta monografia, este estudo utiliza dois caminhos: em relação ao texto do estudante, elementos da Análise do Discurso, tais como as marcas da enunciação no enunciado e a tematização. No que diz respeito à análise da sequência de “A pele que habito”, foi adotada a perspectiva metodólogica de análise fílmica proposta por Alain Bergala (2008), em que o autor recomenda a leitura de “fragmentos fílmicos”, de modo a introduzir os estudantes na discussão de aspectos estéticos e temáticos das narrativas analisadas.

Bibliografia

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
    Bachelard, Gaston. (1996) A formação do espírito científico: contribuição para uma
    psicanálise do conhecimento. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
    Bergala, Alain. (2008). A hipótese-cinema: pequeno tratado de transmissão do cinema
    dentro e fora da escola. Rio de Janeiro: Booklink – CINEAD-LISE-FE/UFRJ.
    Gregolin, Maria do Rosario Valencise. (1995) “Análise do discurso: conceitos e
    aplicações.” In: Alfa, 39: 13-21.
    Macedo, Yuri Oliveira. (2016) Desejo e sexualidade: uma viagem pelo cinema de
    Almodóvar. Monografia apresentada à Escola Politécnica de Saúde Joaquim
    Venâncio. Rio de Janeiro: EPSJV.
    Machado, Roberto. (2009) Deleuze, a arte e a filosofia. Rio de Janeiro: Zahar.