Ficha do Proponente
Proponente
- Bárbara Felice (ECA/USP)
Minicurrículo
- Bárbara Felice estuda o pensamento sobre história e cinema na obra de Jean-Claude Bernardet como mestranda da ECA/USP. Documentalista, atua em instituições de preservação audiovisual desde a graduação e, atualmente, realiza o tratamento do arquivo pessoal de Jean-Claude Bernardet na Cinemateca Brasileira. Suas áreas de interesse abrangem cinema brasileiro, história do cinema brasileiro, crítica de cinema, cinema e educação e cinema e gênero (feminista e LGBT).
Ficha do Trabalho
Título
- Cinema e história na obra de Jean-Claude Bernardet
Resumo
- Examinaremos as transformações, continuidades e interrupções, do pensamento sobre história e cinema presente na produção escrita e docente de Jean-Claude Bernardet. A análise compreenderá o período de 1965, quando atua como professor substituto de Paulo Emílio Salles Gomes no curso de cinema da UnB, até a publicação de Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro, livro centrado na releitura da obra sobre história e cinema brasileiro de Paulo Emílio Salles Gomes, Alex Viany, e outros autores.
Resumo expandido
- Heterogênea e multidisciplinar, a obra de Jean-Claude Bernardet se manifesta em diversas mídias, do texto ao corpo. Nessa vastidão, as relações entre o cinema e a história figuram como um eixo de irradiação que resulta, por exemplo, no roteiro do filme O caso dos Irmãos Naves (1967), de Luís Sérgio Person, baseado em um caso real de tortura ocorrido durante o período do Estado Novo, ou em São Paulo Sinfonia Cacofonia (1995), filme-ensaio que dirige e no qual a cidade de São Paulo aparece através das lentes do próprio cinema brasileiro, recuperada a partir de arquivos fílmicos. Em busca de identificar continuidades e interrupções do pensamento sobre história e cinema de Jean-Claude Bernardet, analisaremos a produção escrita e a atuação como docente do intelectual de 1965 até 1995. O período compreende desde o início da atuação de Bernardet como docente, nesse primeiro momento como professor substituto de Paulo Emílio Salles Gomes na disciplina História do Cinema e Ideias Cinematográficas, ministrada no recém criado curso de cinema da Universidade de Brasília, até a publicação da primeira edição de Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro, obra de referência para os estudos sobre história e cinema no Brasil na qual Bernardet retornará aos escritos do que chama de historiografia clássica do cinema brasileiro, constituída, de acordo com o autor, principalmente pelas obras de Paulo Emílio Salles Gomes e Alex Viany para, dentre outras revisões, propor mudanças nos métodos de escrever essa história.
Para isso analisaremos, dentro desse período, tanto os textos publicados de Bernardet que tratam do assunto, como seus livros e suas críticas na mídia impressa diária, quanto documentos presentes em seu arquivo pessoal depositado na Cinemateca Brasileira. Serão analisados os planos de aula montados por Bernardet e Paulo Emílio Salles Gomes para a disciplina de História do Cinema e das Ideias Cinematográficas; as críticas publicadas em jornais acompanhadas de seus respectivos manuscritos, do conjunto documental referente a um seminário coordenado por Bernardet que se realizou no MIS e no Instituto Goethe (que contém correspondências entre ele e os intelectuais debatedores, nas quais estão expostas negociações sobre as falas e a programação do evento); a correspondência onde se negocia a feitura do texto e se anuncia a recusa por parte dos editores do de Cinema Brasileiro: propostas para uma história; e os materiais produzidos no processo de escrita de Vitória sobre a lata de lixo da história, artigo de jornal e capítulo do livro Cineastas e Imagens do povo, publicado em 1985, centrado no caso do filme Cabra marcado para morrer.
Em Historiografia Clássica do Cinema Brasileiro, Bernardet aproxima-se do termo pontos de irradiação, espécie de síntese que faz tanto de ideia de David Neves quanto de Glauber Rocha, e que é colocado como alternativa à chamada historiografia clássica. Buscamos, portanto, os pontos de irradiação do conjunto documental correspondente ao recorte determinado. Em investigação inicial, já antevemos as estreitas relações entre seu pensamento sobre história do cinema e sua atuação como educador; a preocupação com o filme enquanto objeto histórico; as relações entre o filme histórico e o Estado; a atenção à função dos mitos na historiografia.
Para fins de apresentação, nos centraremos em um ou dois casos que emanem de documentos e a partir dos quais seja profícua a investigação dos pontos de irradiação delineados.
Bibliografia
- Autran, Arthur. “Panorama da historiografia do cinema brasileiro.” ALCEU. Revista de (2007).
Autran, Arthur. Alex Viany: crítico e historiador. Vol. 290. Editora Perspectiva, 2003.
BERNARDET, Jean-Claude. Historiografia clássica do cinema brasileiro. Metodologia e pedagogia. São Paulo, Annablume, 2008, 2a ed.
_____. Cinema brasileiro: propostas para uma história. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1979.
_____. Piranha no Mar de Rosas. São Paulo, Nobel, 1982.
_____ e RAMOS, Alcides. Cinema e História do Brasil. São Paulo, Ed. Contexto/EDUSP, 1988.
_____. Jean-Claude Bernardet (depoimento, 2013). Rio de Janeiro, CPDOC, 2013, 43pg.
_____. Jean-Claude Bernardet (depoimento, 2013). Rio de Janeiro, CPDOC, 2013, 53pg.
_____. Cineastas e imagens do povo. 2ª ed. São Paulo, Companhia das Letras, 2003.
Gomes, Paulo Emílio Salles. Cinema, trajetória no subdesenvolvimento. Vol. 8. Paz e Terra, 1980.
LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Editora UNICAMP, 1996. p. 538.