Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    felipe maciel xavier diniz (UFRGS)

Minicurrículo

    Professor no curso de Produção Audiovisual da Uniritter, doutorando em comunicação na UFRGS, cineasta, diretor de filmes como Desenredo (2015), Por onde passeiam tempos mortos (2014), Arquivos da Cidade (2009), entre outros.

Ficha do Trabalho

Título

    O Novíssimo Cinema Brasileiro e a Afirmação de uma Qualquerização

Resumo

    Este texto visa problematizar as operações de linguagem empreendidas nos filmes do chamado Novíssimo Cinema Brasileiro, através de uma hipótese de que tais produções são pressionadas por um desvio à qualquerização no modo como expõe suas imagens. Esta qualquerização está amparada por três variáveis que são: o fora como mediação, a desdramatização como encenação e o espaço-qualquer como território. Ao aprofundarmos essas variáveis compreenderemos como esta qualquerização se expressa.

Resumo expandido

    Jean-Louis Comolli, em um conjunto de textos publicado em 1969 nos Cahiers du Cinéma apontou para um movimento significativo no cinema de ficção da época que incorporou as estratégias do direto em suas tramas. Baseado principalmente nos filmes produzidos pela Nouvelle Vague, o autor analisou aquilo que chamou como uma tendência do cinema moderno, que esforçava-se para mesclar em seus campos estéticos estilos que tradicionalmente haviam sido separados em lados opostos: a ficção e o documentário. Comolli (1969) sustenta, portanto, a tese de um sistema de reciprocidade, em que as técnicas e modos do cinema direto (originalmente enquadrados pelas lentes documentais) se incorporam aos filmes ditos de ficção.
    Em um artigo mais recente, inspirado nos textos de Comolli sobre o desvio pelo direto na ficção, Victor Guimarães escreve sobre o desvio pela ficção, já em um contexto do Novíssimo Cinema Brasileiro. Segundo ele, há exposto neste recorte fílmico, uma linguagem que multiplica procedimentos, que produz uma contaminação entre diferentes estratégias narrativas e mais uma vez chama atenção para os agenciamentos que se dão entre o gesto cotidiano, amparado pelo acaso, e os jogos dramáticos, estruturados pelas propostas de mise-en-scène. “Procurar almejar a vibração da vida ordinária é resistir a voracidade do espetáculo, é fazer com que o cinema tenha que se empenhar na espessura do mundo para encontrar uma outra ficção possível” (GUIMARAES, 2013).
    Nossa hipótese vai mais além. Apesar de concordarmos com Comolli em suas teses sobre o direto na ficção e com Guimarães, quando debate as potencialidade do cinema quando a ficção envolve o vivido, compreendemos as imagens do Novíssimo Cinema Brasileiro não somente como produtos de um desvio pelo direto, ou de um desvio pela ficção, mas através de um desvio pela qualquerização. Assumimos, primeiramente, o abandono total dos gêneros. Pensamos os filmes pela via das possibilidade de encenação, sejam elas quais forem, para então chegarmos em um personagem errante que passeia por uma determinada mise-en-scène sem qualquer compromisso com os referentes. Porém, é importante salientar que esta qualquerização no Novíssimo Cinema Brasileiro não se baseia puramente em um elogio a indeterminação, mas na afirmação do paradoxo.
    Quando uma cena evidencia um personagem que desempenha um papel, enquadrado por uma mise-en-scène, que ao mesmo tempo remete a um acontecimento vivido pelo ator/personagem fora do universo cinematográfico, assistimos a uma expansão das cadeias significativas. Não pela reciprocidade entre diegese e realidade, mas pela simultaneidade entre acontecimentos de ordens distintas, mas que operam na cena indissociáveis. Quando o personagem vive em cena, a partir de uma determinada encenação, um drama particular que vem de fora, ele também potencializa o jogo de cena. Não por expressar a contaminação entre fronteiras, mas por afirmar, em última instância que não existem fronteiras, já que as formas não delimitam territórios e sim os extinguem.
    É então que chegamos a três variáveis que, no nosso entendimento, circunscrevem muitos filmes das produções recentes que amparam o Novíssimo, e que apontam para o desvio à qualquerização que mencionamos: o espaço qualquer como território, o fora como mediação e a desdramatização como encenação. Ao mesclarmos as teorias sobre o qualquer e o contemporâneo, de Agamben, com as reflexões sobre o Novíssimo Cinema Brasileiro realizadas por autores brasileiros contemporâneos, nossa ideia é aprofundar estes três vetores e assim nos aproximarmos da comprovação da hipótese a respeito da qualquerização levantada anteriormente.

Bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio. A comunidade que vem. São Paulo: Autêntica, 2013.

    _____. O Que é o Contemporâneo? E Outros Ensaios. Chapecó: Argos, 2009.

    AUMONT, Jacques. O Olho Interminável. São Paulo: Cosacnaify, 2011b.

    BRASIL, André. Formas de Vida na Imagem: da indeterminação à inconstância. Revista da Famecos, Porto Alegre, n. 17, p. 190-198, dez. 2010.

    COMOLLI, Jean-Louis. O Desvio pelo Direto. Cahiers du Cinéma, n.211, 1969. Disponível em: http://docslide.com.br/documents/6comolli-desvio-direto.html, acesso em 05, jan de 2017.

    DELEUZE, Gilles. A Imagem Tempo. São Paulo: Brasiliense, 2013.

    FELDMAN, Ilana. A indeterminação sob suspeita no cinema brasileiro contemporâneo: os distintos casos de Filmefobia e Pan-cinema permanente. Revista Galáxia, São Paulo, n. 20, p. 121-133, dez. 2010.

    GUIMARAES, Victor. O Desvio pela Ficção: Contaminações no Cinema Brasileiro Contemporâneo. Revista Devires, Belo Horizonte, n. 10, p. 58-77, dez. 2013