Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Angelita Maria Bogado (UFBA)

Minicurrículo

    Graduada em Com. Social e em Letras, Mestrado em Estudos Literários pela (UNESP). Doutoranda em Com. e Cultura Contemporâneas (UFBA). Desde 2009 é professor do curso de Cinema e Audiovisual da UFRB, responsável pelas disciplinas de Lgg e Expressão Cinematoráfica I e II. Tem experiência na área de narrativas com ênfase em análise fílmica. Atualmente se dedica ao estudo do entrelugar no cinema contemporâneo brasileiro. Participa do Núcleo de Análise do Cinema Documentário Nanook (UFBA-Poscom).

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema do entrelugar: um estudo sobre limiares e fronteiras

Resumo

    A potência do termo entrelugar, enquanto um espaço de contato, nos permite adotá-lo nos estudos de cinema justamente pelo seu caráter agregador. O conceito de cinema do entrelugar possibilita um vasto campo de conexões, para este artigo nos concentraremos nas ideias de limiar e fronteira. A proposição fornece uma importante reflexão para percebermos como os cineastas operam formas de saltar entre tempos e espaços, tidos a priori como fronteiriços, comunicando-os.

Resumo expandido

    Para o estudo do cinema do entrelugar no documentário contemporâneo brasileiro, primeiramente, visitamos as ideias de Silviano Santiago e Homi Bhabha. A potência do termo, enquanto um espaço de contato, nos permite adotá-lo nos estudos de cinema justamente pelo seu caráter agregador. O conceito de cinema do entrelugar possibilita um vasto campo de conexões, para este artigo nos concentraremos nas ideias de limiar e fronteira. Walter Benjamin enfatiza “O limiar deve ser rigorosamente diferenciado da fronteira”. Limiar traz em si a ideia de fluxo, transição, movimento. Já o conceito de fronteira, segundo Jeanne Marie Gagnebin, está ligado “a contextos jurídicos de delimitação territorial”. A proposição fornece uma importante reflexão para percebermos como os cineastas operam, através da linguagem, formas de saltar entre tempos e espaços, tidos a priori como fronteiriços, comunicando-os. Como cineastas contemporâneos constroem planos-limiares em seus filmes como forma de tentar desconstruir ou denunciar as fronteiras entre centro e periferia?
    Para compreender e demonstrar como esse cinema do entrelugar tem se comportado, levamos em consideração, primeiramente, o próprio pulsar do registro fílmico mais recente como Branco sai, preto fica (Adirley Queirós, 2014), Orestes (Rodrigo Siqueira 2015) e Vozerio (Vladimir Seixas, 2016).
    Qual o espaço, a possibilidade e a importância de se praticar um cinema do entrelugar em um ambiente onde muros interditam o diálogo, muitas vezes impossibilitando o seu transbordamento? É nesse ponto da história, anos 2014 e 2017, esse limiar entre os filmes que foram e os que ainda estão por vir que pretendemos refletir sobre as fronteiras impostas ao entrelugar.
    O cinema do entrelugar tem sido um espaço dissonante, onde se pode, como pregou Benjamin, “escovar a história a contrapelo” derrubar os muros da história oficial e romper com o discurso dominante. Até o momento, o cinema do entrelugar fez ver e ouvir os silêncios, os apagamentos e as lacunas da história.
    O cenário impele, irremediavelmente, o contemporâneo para um discurso identitário e territorial de lugar. As zonas limiares construídas pelo cinema do entrelugar são uma forma de resistir às culturas e políticas de apagamento. O entrelugar cinematográfico propõe espaços tanto de contato quanto de denúncia da separação, contudo, diante de um país murado por discursos de ódio, o diálogo está interditado, aparentemente não há contado, passagem ou limiar possível. A fronteira, nesse momento, também pode ser vista não apenas como impotência de transição, mas como potência e afirmação de identidades.
    Acreditamos, assim como Paul Zumthor (2014), que caminhamos para um limiar de uma nova era da oralidade. A “energia coletiva” da qual observa Zumthor, está presente na fala de Adirley Queirós, Rodrigo Siqueira, Vladimir Seixas e tantos outros cineastas contemporâneos como vamos demonstrar aqui. O cinema do entrelugar se traduz por criar modos fílmicos de passagem e, assim apresentar novas formas de realinhamento cultural, político e social.

Bibliografia

    BENJAMIN, W. Passagens. BH: Editora UFMG, 2006.
    BHABHA, H. K. O local da cultura. BH: Ed. UFMG, 2007.
    BRASIL, A. A performance: entre o vivido e o imaginado. In: Experiência estética e performance. PICADO, B; MENDONÇA, C. M.; CARDOSO, J. (Orgs.). Salvador: EDUFBA, 2014, p. 131-145.
    GAGNEBIN, J. M. Limiar, aura e rememoração. SP: Editora 34, 2014.
    HANCIAU, N. J. “Entrelugar”. In: Conceitos de literatura e cultura. Org. Eurídice Figueiredo. Juiz de Fora: UFJF, 2005, p. 125-141.
    TEIXEIRA, F. E. O ensaio no cinema: formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea. SP: HUCITEC, 2015.
    MIGLIRIORIN. Ensaios no Real. RJ: Beco do Azougue, 2010.
    MONDZAIN, M. J. Imagem, ícone, economia: as fontes bizantinas do imaginário contemporâneo. RJ: Contraponto, 2013.
    ZUMTHOR, P. Performance, recepção, leitura. SP: Cosac Naify, 2014.