Ficha do Proponente
Proponente
- Denize Correa Araujo (UTP)
Minicurrículo
- Denize Correa Araujo, PhD em Literatura Comparada, Cinema e Artes – UCR-USA; Pós-Doutora em Cinema – UAlg-Portugal. Coordenadora da Pós em Cinema e Docente do PPGCom-UTP, Linha de Pesquisa em Estudos de Cinema e Audiovisual; Membro do Conselho Internacional, do PC e do SRC da IAMCR, Líder do GP CIC, CNPq, Coordenadora do GT Imagem e Imaginários Midiáticos – Compós, Vice-Head do Visual Culture Working Group da IAMCR e Curadora do FICBIC – Festival Internacional de Cinema da Bienal de Curitiba.
Coautor
- Cynthia Schneider (UTP/IFPR)
Ficha do Trabalho
Título
- Documentários de Scorsese: cinema, teatro, literatura e música
Seminário
- Interseções Cinema e Arte
Resumo
- O objetivo do estudo é a análise de tres biopics de Martin Scorsese, na possibilidade dos mesmos se tornarem testemunhos/memória para o futuro. Como corpus, figuram “Uma carta para Elia”( 2010), sobre Elia Kazan, diretor de teatro e cinema, “Public Speaking” (2010), sobre a escritora Fran Lebovitz e “George Harrison, living in the material world” (2011), retratando o guitarrista dos Beatles. Como referencial teórico, adotamos os conceitos de Beatriz Sarlo, Nichols, Carroll, Renov e Kristeva.
Resumo expandido
- Esta proposta é parte da pesquisa conjunta de Denize Correa Araujo, PhD e Pós-Doutora, e Cynthia Leticia Schneider, Pós-Doutoranda, com bolsa PNPD do PPGCom- UTP. O objetivo deste estudo é a análise de tres biopics do cineasta Martin Scorsese, no sentido de questionar sua função de serem testemunhos/memória para o futuro. A produção de biopics, ou seja, cinebiografias, documentários sobre figuras de renome, tem se intensificado na última década, embora alguns com pouco sucesso ao inserir informações não precisas de acordo com as famílias, como no caso da cantora Amy ou da Princesa Grace Kelly.
Sugerimos que as inserções do cinema com a arte podem ser de tipos diversos, como “cinema- arte”, que seria o filme com ênfase em recursos mais estéticos e artísticos, ou “cinema sobre arte”, no caso de representações sobre movimentos de vanguardas de arte e de intertextos do cinema com a arte, ou ainda, no terceiro caso, como no estudo em questão, “cinema sobre artistas”, uma categoria onde o (a) artista e sua arte é o tema. Tendo como corpus três documentários biopics de Scorsese, um sobre Elia Kazan, diretor de teatro e de cinema (“Uma carta para Elia”, 2010 ), outro sobre literatura, tendo a escritora Fran Lebovitz como protagonista (“Public Speaking”, 2010) e outro sobre música (“George Harrison, living in the material world”, 2011), retratando um dos Beatles, esta pesquisa tem como objetivo específico verificar até que ponto a subjetividade interfere na forma e essência dos filmes, contracenando com o poder da memória.
Os enfoques e pontos de vista sobre os três filmes fazem questionar o papel da emoção e da indiferença, da afetividade e da performance, permitindo uma diferenciação entre as produções e uma denominação específica para cada documentário. Para Fran Lebowitz, Scorsese dá plena liberdade de ação, fazendo da protagonista o próprio show e permitindo a denominação de “documentário-selfie”. Ao retratar Elia Kazan, Scorsese se posiciona ao lado de Kazan de modo subjetivo, pessoal e intimista, endossando suas ações, o que poderia ser denominado de “documentário-cúmplice”. George Harrison, o guitarrista líder dos Beatles, foi lembrado em documentário longo (mais de 3 horas), um filme que contempla a espiritualidade oriental de George, suas fotos desde a infância e sua batalha contra o câncer, e poderia ser denominado de “documentário-homenagem”.
Como referencial teórico, estão presentes os conceitos de Beatriz Sarlo sobre memória subjetiva e de Stanislávski sobre construção da personagem. Sobre a construção dos biopics, as idéías de Julia Kristeva embasam os intertextos entre clips de filmes, entrevistas e fotos. Em relação ao documentário como gênero cinematográfico, os conceitos de base são de Bill Nichols, sendo que Michael Renov e Noel Carroll nos apóiam no papel da subjetividade na montagem do documentário.
Um dos pilares que sustentam os documentários pode ser a projeção de que, no futuro, os mesmos serão fontes de memórias. Contudo, a subjetividade que os permeia faz com que pontos de vista diversificados criem montagens que justificam pesquisas, considerando que certos aspectos são privilegiados em detrimento de outros negligenciados. A asserção de que tudo é ficção ou tudo é documentário, funcionando como tese-antítese, encontram na síntese uma possibilidade de montagem de documentários híbridos, que documentam fatos com certas inovações criativas.
No caso da análise em questão, o cineasta Scorsese adota estilo semelhante a cada retratado. No caso de Elia Kazan, há um tom intimista, como de uma carta realmente, enquanto que à Fran Lebovski é permitida a atuação livre, como protagonista de sua própria vida. Na cinebiografia de George Harrison o tom é afetuoso e o relato inicia na infância, permeado por entrevistas e atuações da banda. Considerando esses aspectos, caracterizamos os biopics como “documentário-cúmplice”, “documentário-selfie” e “documentário-homenagem, respectivamente.
Bibliografia
- BOURDIEU, Pierre. A ilusão biográfica. In: FERREIRA, Marieta de Moraes; AMADO, Janaína (orgs.). Usos e abusos da história oral. 8.ed. RJ: Editora FGV, 2006. pp. 183 – 191.
CARROLL, Noel. The return of the Medium Specificity Claims and the Evaluation of the Moving Image. Palestra de Abertura a XX SOCINE. Universidade Tuiuti do Paraná – UTP, 18 de outubro de 2016.
KRISTEVA, Julia. Introdução à semanálise. Trad. Lúcia Helena França Ferraz. 2ed. São Paulo: Perspectiva, 2005.
NICHOLS, Bill. Introdução ao documentário. Campinas: Papirus Editora, 2005.
______. Representing reality: issues and concepts in documentary. Bloomington: Indiana University Press, 1991.
RENOV, Michael. The subject of documentary. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2004.
SARLO, Beatriz. Tempo passado: cultura da memória e guinada subjetiva. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
STANISLÁVISKI, Constantin. A Construção da Personagem. Tradução: Pontes de Paula Lima. RJ: Civilização Brasileira. 1970.