Ficha do Proponente
Proponente
- Pedro de Araujo Nogueira Tinen (Unicamp)
Minicurrículo
- Pedro Tinen é mestrando no programa de pós-graduação em Multimeios na Unicamp, onde pesquisa sobre o erotismo e as políticas identitárias no cinema do diretor japonês Nagisa Oshima, com orientação de Gilberto Alexandre Sobrinho. Com graduação em Comunicação Social, entre 2013 e 2014, realizou uma pesquisa de iniciação científica na área de cinema queer e ficção científica, com orientação de Karla Bessa.
Ficha do Trabalho
Título
- A questão Brecht: Ôshima e os signos de teatralidade
Seminário
- Corpo, gesto, performance e mise en scène
Resumo
- Misturando estratégias Brechtianas com elementos do teatro japonês, O Enforcamento (Koshikei, 1968) evidencia a teatralidade da justiça ao mesmo tempo em que questiona a possibilidade de identificação através da representação. O filme de Nagisa Ôshima expõe o problema teórico acerca dos modos de representação no cinema japonês. Esta comunicação propõe uma revisão do conceito de ‘modo apresentacional’, de Noël Burch em ‘To the Distant Observer’ (1979), a partir de uma análise textual do filme.
Resumo expandido
- Frequentemente referenciado como um diretor Brechtiano, Nagisa Ôshima, em sua busca por um cinema efetivamente político, fez uso de diversas técnicas que almejaram o distanciamento crítico do espectador. Porém, um segundo olhar revela que nem todas as técnicas utilizadas são, necessariamente, variações cinematográficas das proposições de Brecht. Em O Enforcamento (Koshikei, 1968), explorou o potencial político dos modos de representação ao abordar a história de R., um personagem coreano condenado à morte no Japão. Escancarando a teatralidade da justiça, a sobrevivência do protagonista à tentativa de execução, e sua subsequente amnésia, obriga os oficiais da prisão a reencenarem o crime ao qual ele havia sido condenado, na tentativa de forçar a recuperação da memória através da encenação. O resultado é uma inversão do processo legal: através da gestualidade, são as ações dos carrascos que são postas em evidência, não as do acusado.
Em seu livro ‘To the Distant Observer: Form and Meaning in the Japanese Cinema’, Noël Burch diferencia o modo ocidental representacional do modo japonês apresentacional, no qual, o segundo se distingue do primeiro pela evidenciação do artifício da forma. De acordo com Burch, o modo apresentacional foi adaptado para o cinema no Japão dos anos de 1930, influenciado pelas tradições do kabuki, kodan e bunraku. Em uma tentativa de demarcar uma diferença, a alteridade do cinema japonês é tomada como alternativa ao cinema narrativo burguês, em uma análise que mistura os efeitos do modo apresentacional das artes tradicionais japonesas com o modernismo cinematográfico.
‘Brechtiano’ e ‘apresentacional’, apesar de suscitarem efeitos similares, não são sinônimos. De tal modo, a análise das políticas de reflexividade de O Enforcamento revela as idiossincrasias da crítica de Burch, que valoriza a propriedade apresentacional do cinema japonês pela maneira com que é produzido um distanciamento crítico e afetivo, atribuindo assim, uma qualidade anacronicamente moderna ao cinema clássico japonês. Apesar de seminal, o argumento de Burch sobre a diferença cultural implica na construção de um cinema nacional homogêneo e de alteridade idealizada.
O Enforcamento é um dos marcos da Nouvelle Vague Japonesa, sua estrutura repetitiva e burlesca se aproxima do teatro do absurdo e questiona a possibilidade de se gerar identificação através da representação clássica. Com a análise fílmica e a discussão teórica, esta comunicação tem o objetivo de inferir sobre o potencial político da forma e sobre um dos debates mais críticos nos estudos de cinema asiático hoje: os modos de representação.
Bibliografia
- ANDERSON, Joseph e RICHIE, Donald. 1958. “Traditional Theater and the Film in Japan”. Film Quarterly v. 12 n. 1: 2-9.
BONITZER, Pascal. 1970. “Oshima et les corps-langages”. Cahiers du Cinéma 218 (Março) : 30-34.
BURCH, Noël. To the distant observer: form and meaning in the Japanese cinema. Berkeley: University of California Press, 1979.
NAGIB, Lúcia. World Cinema and the Ethics of Realism. Nova Iorque: Continuum, 2011.
OSHIMA, Nagisa. Cinema, censorship, and the state: the writings of Nagisa Oshima, 1956-1978. Edição e introdução de Annette Michaelson. Cambridge: MIT, 1992.
POLAN, Dana. “Politics as Process in Three Films by Nagisa Oshima”. Film Criticism v. 8 n.1: 35-41.
TURIM, Maureen. The Films of Nagisa Oshima: images of a Japanese iconoclast. Berkeley, Los Angeles, Londres: University of California Press, 1998.