Ficha do Proponente
Proponente
- Carlos Cézar Mascarenhas de Souza (UFS)
Minicurrículo
- Graduação em Psicologia, com Mestrado e Doutorado em Teoria da Literatura pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). No momento, atua como professor do Núcleo de Teatro da Universidade Federal de Sergipe (NTE/UFS) e no Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Cinema (PPGCINE/UFS), onde vem desenvolvendo estudos interdisciplinares que procuram abordar fenômenos estéticos do campo cinematográfico e da dramaturgia, tendo em vista articulações com contribuições da perspectiva psicanalítica
Ficha do Trabalho
Título
- A anti-hospitalidade que habita o fetiche em “Um lugar ao sol”
Resumo
- Este estudo consiste na realização de uma leitura transdisciplinar envolvendo uma articulação entre os discursos do cinema, da arquitetura, psicanálise e filosofia a partir do filme-documentário “Um Lugar ao Sol”, de Gabriel Mascaro. Para tanto, abordaremos os discursos proferidos pelos sujeitos entrevistados através do documentário, de modo a apontar possíveis implicações entre as noções de “anti-hospitalidade” e “fetiche”, tendo como amparo as contribuições de Jacques Derrida e Jacques Lacan.
Resumo expandido
- Este estudo consiste na realização de uma leitura transdisciplinar envolvendo uma articulação entre os discursos do cinema, da arquitetura, psicanálise e filosofia a partir do filme-documentário “Um Lugar ao Sol”, de Gabriel Mascaro. Levando em conta o neologismo “hostipitalidade”, forjado pelo filósofo Jacques Derrida para designar o caráter paradoxal do sentimento expresso pelo sujeito quando se encontra na posição de receber e acolher alguém, bem como do conceito “mais-de gozar” proposto pelo psicanalista Jacques Lacan, efetuaremos uma leitura-escuta dos discursos pronunciados pelos sujeitos que fazem seus depoimentos no filme-documentário acima referido, no qual se assiste aos relatos acerca dos seus respectivos pontos de vistas referentes à condição de morar em apartamentos na “cobertura” dos prédios.
Se existe um termômetro para se aferir o ritmo em que determinadas alterações vêm ocorrendo nas modalidades das relações psicossociais em função das injunções que a economia do mercado global neoliberal vem promovendo no cenário planetário, esse termômetro é, precisamente, a cidade. O desenvolvimento urbano tornou-se uma assunto da maior importância nas pautas das discussões que problematizam a qualidade das condições da vida individual e coletiva, na medida em que o espaço urbano resulta numa espécie de plataforma geográfica pela qual os mandamentos das economias políticas e culturais, inevitavelmente, se materializam na encarnação concreta de um cenário onde os sujeitos humanos se projetam nas negociações dos seus interesses, sonhos e desejos, enfim.
No documentário “Um Lugar ao Sol”, aborda-se o universo dos moradores de cobertura em algumas das principais cidades brasileiras. Daí, resulta um curioso apanhado de visões acerca do sentido de habitar essas construções, normalmente entendidas como signo de uma condição privilegiada no contexto da verticalização das cidades, o qual se tornou o modelo predominante no cenário urbano do Brasil. Com efeito, através dos depoimentos exibidos pelo documentário, desponta-se um material bastante valioso para se ensejar fecunda reflexão, sobretudo no âmbito da realidade educacional, na medida em que em meio às falas dos sujeitos entrevistados se evidenciam diversos aspectos e componentes da complexa trama imaginária e simbólica, que concorrem diretamente no agenciamento de certos modos de subjetivação da sociedade brasileira atual. Por esse motivo, em nossa metodologia recorreremos ao apoio das contribuições do pensamento psicanalítico, na medida em que através deste viés possamos acessar uma leitura referida a um suposto modo de estar e gozar, a partir dos elementos significantes que emergem nos discursos dos sujeitos ou atores sociais que habitam as coberturas dos edifícios.
O “mais-de-gozar” é um neologismo proposto por Jacques Lacan, com a intenção de referir no campo do funcionamento psíquico a uma homologia com a noção marxista de “mais-valia” para, deste modo, apontar à promessa de gozo que permeia o ideal envolvido nos movimentos desejantes. A partir dessa noção lacaniana é que iremos propor uma reflexão acerca da questão das condições de hospitalidade no ambiente da cidade e, ao mesmo tempo, convocar um outro neologismo conceitual, que é a noção de “hostipitalidade”, forjada por jacques Derrida. Esta palavra, cuja conotação ambígua procura abarcar a um só tempo os sentidos de hostilidade e hospitalidade para, assim, ressaltar certos paradoxos na economia das relações humanas no âmbito de suas respectivas trocas e produção de sentidos.
Bibliografia
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