Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Ana Luisa de Castro Coimbra (UFMG)

Minicurrículo

    Doutoranda em Artes, na linha de cinema, pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG. Mestre pelo programa de Pós-Graduação em Memória: Linguagem e Sociedade, da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia – UESB, com estágios sanduíches na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp e na Universidad Nacional del Litoral – UNL , em Santa Fé, Argentina. Graduada em Comunicação Social – Rádio e TV pela Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC.

Ficha do Trabalho

Título

    Robatto, Glauber e o mar: primeiros tempos do cinema na Bahia

Resumo

    A partir dos filmes produzidos por Alexandre Robatto Filho, propomos para este trabalho observar como os movimentos cinematográficos se consolidaram na Bahia até resultar no chamado Ciclo de Cinema Baiano. Além disso, pretende-se notar como o legado robattiano influenciou cineastas ainda em formação, inclusive Glauber Rocha. Servindo de inspiração para produzir filmes ou partindo da ideia de superá-lo, entendemos que Robatto Filho foi referência para uma geração de realizadores daquela época.

Resumo expandido

    Alexandre Robatto Filho desenvolveu, por quase trinta anos na Bahia, atividades cinematográficas deixando como legado importantes registros documentais. Como obra inaugural, realiza, no final da década de 1930, Vacina BCG, um filme científico rodado em 8mm encomendado pela Secretaria de Saúde Pública do Estado.
    Durante quase 30 anos, documenta o que se revelava no contexto social e histórico da época. Os hábitos, costumes, a cultura popular, o pitoresco, o que era originário da Bahia estavam no centro de seu interesse e, não por acaso, se tornariam temas dos seus documentários mais auto-expressivos, aqueles cujos temas escolheu filmar, empregando um cuidado estético maior e uma elaboração documental diferenciada se comparado com os filmes de encomenda que realizou. Dos anos de 1950, datam os trabalhos mais reconhecidos de Robatto Filho e, dessa época, se destaca a atuação do Clube de Cinema, facilitando o acesso a filmes diferentes dos que eram exibidos nos circuito convencional. Outro aspecto relevante para o notório amadurecimento da sua estética cinematográfica foi a convivência com artistas de cenas variadas, sendo os mais próximos o escritor Jorge Amado, o artista plástico Carybé e o maestro Paulo Jatobá.
    Do conjunto de sua obra, sobressaem os documentários Entre o Mar e o Tendal (1953), Xaréu (1954), Vadiação (1954) e Uma Igreja Bahiana (1955), filmes demarcados pelos temas que lhe eram estimados, dando a ver, na cena posta, o profissionalismo e cuidado estético de quem escolheu a imagem como força poética para testemunhar o mundo à sua volta.

    Entre o mar e o tendal é resultado de cinco meses de filmagem, quando, após vivência com a comunidade de pescadores na praia de Itapuã, Robatto Filho consegue reunir material suficiente para montar o curta-metragem. Afeiçoado aos temas marítimos e instigado pela vida singular daquela comunidade pesqueira que ainda preservava os hábitos praticados pelos seus antepassados que eram escravos, o documentarista coloca em cena, fazendo uso de uma linguagem cinematográfica apurada e estética marcante, o desenrolar das atividades que iam desde os a armação de redes, a coleta dos xaréu (espécie de peixe que passavam pela região) e o transporte para o tendal (local de ação dos encarregados de conservar as redes). A força poética é percebida não somente no modo como as imagens são apresentadas em tela, mas também pelo texto que, embora detalhista, traz lirismo, tornando-o não apenas informativo.

    Aproveitando o mesmo material fílmico de Entre o Mar e o Tendal, Robatto Filho faz uma nova montagem lançando, em 1954, Xaréu. De modo mais direto, com forte apelo musical e poucas imagens contemplativas, o documentário também retrata a pesca, mas o texto narrado emprega tom saudosista, deixando transparecer que a intenção de Robatto Filho era, também, de preservar a memória de uma prática em vias de desaparecer.

    Quem assiste a esses dois trabalhos sobre a pesca de xaréu não deixa de notar similaridades com Barravento, filme expoente da cinematografia brasileira, lançado 1962, primeiro longa metragem do cineasta Glauber Rocha. A aproximação entre os filmes – embora um seja documentário e o outro ficção – não se restringe somente à temática: a locação foi a mesma, em muitas cenas os enquadramentos eram parecidos, a utilização de uma luz dura e a reprodução de alguns cânticos, como Quando eu venho de Aruanda, música que abre o documentário Xaréu.

    A partir dos filmes produzidos por Alexandre Robatto Filho, o que propomos para este trabalho é observar como os movimentos cinematográficos se consolidaram na Bahia até resultar no chamado Ciclo de Cinema Baiano (1958 – 1964). Além disso, pretende-se notar como o legado robattiano influenciou cineastas ainda em formação, inclusive Glauber Rocha. Servindo de inspiração para o ofício de realizador de filmes ou partindo da ideia de superá-lo, entendemos que Robatto Filho foi referência para uma geração que queria, naquela época, produzir cinema na Bahia.

Bibliografia

    CARVALHO, Maria do Socorro Silva. A Nova Onda Baiana. Cinema na Bahia 1958-1962. Salvador: Edufba 2003.

    DIAS, José Umberto (org.). Walter da Silveira: O eterno e o efêmero. Salvador: Oiti Editora e Produções Culturais Ltda., 2006.

    GATTI, José. Barravento – A estréia de Glauber. Florianópolis, Editora da UFSC, 1987.

    GOMES, Paulo Emílio Salles. Paulo Emílio: crítica de cinema no suplemento literário. vol. II, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

    RISERIO, Antônio. Avant-Garde na Bahia. São Paulo: Instituto Lina Bo e P. M. Bardi , 1995.

    ROCHA, Glauber. Revisão Crítica do Cinema Brasileiro. São Paulo, Cosac e Naify, 2003.

    SETARO, André; UMBERTO, José. Alexandre Robatto Filho: pioneiro do cinema baiano. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1992.

    SETARO, André. Panorama do cinema baiano. Salvador, Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1976.

    SILVEIRA, Walter da. História do cinema vista da província. Salvador: Fundação Cultural do Estado da Bahia, 1978.