Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Juslaine de Fátima Abreu Nogueira (Unespar)

Minicurrículo

    Doutora em Educação, com mestrado e licenciatura em Letras. Dedica-se aos Estudos do Discurso Cinematográfico, especialmente em conexões com a teorização pós-estruturalista de Gênero e Sexualidade e da Educação. É professora adjunta no curso de Cinema da Universidade Estadual do Paraná, onde participa do grupo de pesquisa Cinema: criação e reflexão – Cinecriare (Unespar/CNPq). Também é pesquisadora do Laboratório de Investigação em Corpo, Gênero e Subjetividade na Educação – Labin (UFPR/CNPq).

Ficha do Trabalho

Título

    MULHERES CINEASTAS E ESTÉTICA DA EXISTÊNCIA: TESSITURAS DA OBRA-VIDA

Resumo

    Esta trabalho debruça-se sobre a filmografia de duas cineastas – Agnès Varda e Petra Costa – e suas conexões com a produção de um pensamento ético-político-estético que persegue a elaboração da vida na e como obra de arte. Para tanto, busca-se amparo nas contribuições de Foucault sobre estética da existência, mobilizando a questão sobre como a arte e a vida corporificada podem reverberar, indissociavelmente, uma atitude que busca criar outros modos do viver consigo mesmo e do viver-em-comum.

Resumo expandido

    Esta comunicação insere-se em uma pesquisa sobre a obra de algumas mulheres cineastas, a fim de tentar cartografar seus pensamentos cinematográficos, bem como identificar pistas de como estes se encontram com uma problematização que reverbera em seus corpos e em suas experiências femininas, como singularidade e como coletividade. Desse modo, toma-se como fonte de investigação a filmografia produzida por algumas cineastas – no escopo deste trabalho, os filmes As Praias de Agnès (2008) e Os catadores e Eu (1999), produções mais recentes de Agnès Varda, bem como Olhos de Ressaca (2009), Elena (2012) e Olmo e a Gaivota (2014), de Petra Costa – buscando conexões entre a produção artística e o pensamento político-estético manifestados por estas cineastas (em entrevistas, depoimentos, artigos), notadamente no tocante a uma busca pela elaboração da vida na e como obra de arte. Para tanto, esta pesquisa busca amparo nas contribuições de Michel Foucault sobre estética da existência, entendida aqui como um trabalho de subjetivação que, como prática ético-estética, é tanto a realização de uma crítica do mundo existente, quando o convite a construir um mundo-outro. Neste espectro, este trabalho mobiliza-se pela interrogação sobre como a arte e a vida corporificada ressoam, indissociavelmente, uma atitude que busca criar outros modos de existir, ecoando radicalmente em outros modos do viver consigo mesmo e do viver-em-comum. Em outras palavras, inquieta-nos refletir como uma atitude epistemológico-artística realizada por mulheres cineastas pode constituir-se numa outra relação consigo, instauradora de uma manifestação da verdade que se materializa no próprio corpo-artista e no próprio corpo-artístico. A contemporaneidade tem apontado para um amadurecimento importante das teorizações feministas que têm movimentado-se num questionamento das mulheres sobre seu estar no mundo, sobre os regimes político-normativos que interceptam seus corpos e suas vivências e, portanto, esta caminhada feita por mulheres, em toda a multiplicidade das suas experiências, suspeita-se, pode estar gerando um encontro singular entre pensamento, teoria e criação femininas. A aposta, portanto, que sustenta esta pesquisa é que há um encontro entre uma filmografia feita por mulheres, suas escolhas estéticas e sua linguagem fílmica fulgurando um pensamento e uma teorização própria de mulheres cineastas e, mais ainda, apontando para a construção de uma ética-estética da existência, ou seja, sinalizando, no sentido foucaultiano, a atitude de pensar a própria vida como obra de arte.
    Esta é uma investigação que gesta-se, sobremaneira, no incômodo de que há um cinema muito potente realizado por mulheres, contudo ainda negligenciado nas relações de poder que permitem reconhecer a atividade artístico-criativa feminina como voz autorizada a pensar o mundo e a produzir uma estética cinematográfica relevante. O cinema é ainda um território machista, violento e opressor às mulheres. Assim, a produção de cineastas mulheres pode nos apontar possibilidades de escuta das vivências femininas marcadas por tentativas de silenciamento, desautorização, descrédito, minorização, violência e assédio, bem como, sobretudo, podem nos apontar possibilidades de resistência, uma vez que, perseguindo a noção de estética da existência tematizada por Michel Foucault, tais filmes poderiam significar a busca por uma narrativa de si, na condição do escancaramento de experiências femininas múltiplas que têm buscado uma (re)invenção de si por meio de uma tessitura da vida na obra de arte e como obra de arte. Com isto, este trabalho também intenciona fortalecer um espaço que volte-se ao pensamento artístico de cineastas mulheres, tomando-o como fontes que podem trazer um frescor novidadeiro à teoria e à crítica do cinema, histórica e hegemonicamente pautadas nas vozes masculinas.

Bibliografia

    BUTLER, Judith. Relatar a si mesmo: crítica da violência ética. Belo Horizonte: Autêntica, 2015.

    FOUCAULT, Michel. Ditos & Escritos. Vol. V. Ética, Sexualidade, Política. 2. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2010.

    ______. A coragem da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2011.

    RAGO, Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 2013.

    ROLNIK, Suely. Cartografia sentimental: transformações contemporâneas do desejo. Porto Alegre: Sulina; Editora da UFRGS, 2011.