Ficha do Proponente
Proponente
- ROBERTA AMBROZIO DE AZEREDO COUTINHO (UFPE)
Minicurrículo
- Graduada em jornalismo e especialista em estudos cinematográficos pela UNICAP-PE. Mestre pelo programa de pós-graduação em comunicação da UFPE, onde produziu uma dissertação sobre a representação dos sons do mundo no cinema de Lucrecia Martel. Atualmente é doutoranda no mesmo programa onde concluiu o mestrado e desenvolve um estudo acerca do papel do elemento sonoro ruído no cinema contemporâneo. Sua área de interesse acadêmica se concentra nos estudos do som fílmico.
Ficha do Trabalho
Título
- Análises sobre o uso do sound effect como leitmotiv no cinema
Seminário
- Teoria e Estética do Som no Audiovisual
Resumo
- O artigo pretende problematizar a produção de sentido operada pelo sound effect quando tal elemento é explorado enquanto leitmotiv. Sob a óptica do conceito de “objeto sonoro não identificado”, e por meio da análise fílmica, propomos um estudo desta composição peculiar nos filmes “A mulher sem cabeça” e “Ensaio sobre a cegueira”. Parte-se da hipótese de que estas produções, ao apostarem na inovação dos formatos clássicos do leitmotiv, conferem a este recurso uma intensa potencialidade imersiva
Resumo expandido
- A sedimentada familiaridade do público com os códigos musicais fez com que desde os primórdios do cinema sonoro os realizadores explorassem a música não só enquanto condutor emocional da dramaticidade das cenas, mas também como um elemento estruturante dos enredos. O leitmotiv – conceito musicológico surgido no final do século XIX no contexto criativo e analítico das óperas de Richard Wagner – apresenta-se como uma instância aglutinadora desta dupla funcionalidade musical requerida pelos filmes, uma vez que opera por meio de uma lógica associativa entre temas musicais e componentes narrativos.
Conceitualmente, pode ser definido como um recurso narrativo-estilístico explorado na designação de “(…) temas, melodias ou pequenas sequências com função ilustrativa, caracterizadora, integradora, alusiva ou antecipativa. Frequentemente o leitmotiv acompanha ou anuncia o aparecimento de personagens, emoções ou símbolos significantes” (BAPTISTA, 2007, p.137). Embora tal ferramenta criativa, seguindo a tradição operística, assuma primordialmente um formato musical no contexto fílmico, âmbito onde se tornou massivo, o ruído, entendido aqui como todo som do filme que não é voz, nem música, também é um elemento sonoro que serve à composição do leitmotiv (CONSTATINI, 2001; CARREIRO, 2011).
No entanto, tal formato parece atípico no contexto contemporâneo, com exceção das produções do horror, onde o leitmotiv “ruidoso” consiste em uma ferramenta substancial, sobretudo, quando assume a função de se associar à instância monstruosa, sugerindo sua presença mesmo quando não a vemos. Dessa maneira, funciona recorrentemente, enquanto som fora de campo ativo (CHION, 2011), instrumento basilar no alcance do efeito preciso perseguido por este gênero “(…) de ampliar a tensão e a inquietude da plateia.” (CARREIRO, 2011, p.48).
Fora deste lugar de fala específico, é possível, embora não seja comum, localizarmos filmes que propõem novos formatos e papéis para este recurso sonoro, é o caso de A mulher sem cabeça (Lucrecia Martel, 2001) e Ensaio sobre a cegueira (Fernando Meirelles, 2008). Ambas as produções, na estruturação do leitmotiv, subvertem a convenção clássica de utilizar ruídos figurativos e referenciais ao operarem com sound effects, componentes da banda sonora que não pertencem ao universo ficcional, e que, portanto, não estão associados a nenhuma fonte concreta presente na cena, mas que, ainda assim, evocam significações fundamentais sobre a diegese (OPOLSKI, 2013).
Propomos nesta pesquisa a investigação da produção de sentido suscitada pelo sound effect enquanto leitmotiv, a partir da noção conceitual de objeto sonoro não identificado ou USO (unidentified sound object), uma sigla da versão inglesa deste termo (FLORES, 2013; FLÜCKIGER, 2001). “Os USO são sons utilizados com uma enorme abertura para associações de sensações e que trabalham mais (…) num nível sonoro abstrato, como significantes de alguma coisa, sem a compulsão de ter que significar algo objetivo no filme” (FLORES, 2013, p. 129) .
Assim, estes eventos acústicos operam puramente com o engendramento de sensações em detrimento da evocação de componentes narrativos concretos. Nos dois filmes citados, a dimensão sensorial deste “signo aberto” (FLORES, 2013), é aproveitada para promover uma exploração do leitmotiv como ferramenta essencialmente sensória em detrimento de suas funções clássicas convencionais citadas por Baptista (2007, p.137) no início do texto.
Diante do exposto, o presente artigo intenta compreender como o sound effect explorado enquanto leitmotiv promove operações de sentido nos filmes analisados? Por quais chaves este recurso suscita a imersão do espectador nesses universos diegéticos? Com o objetivo de responder tais questões, esta pesquisa tenciona uma investigação da estrutura narrativa e estilística de ambos os leitmotivs elencados, usando como ferramenta metodológica para o alcance deste fim o conjunto de procedimentos que compõe a análise fílmica.
Bibliografia
- BAPTISTA, A. Funções da música no cinema – Contribuições para a elaboração de estratégias composicionais. 2007. 174 f. Dissertação (Mestrado em Música e Tecnologia) – Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
CARREIRO, R. Sobre o som no cinema de horror: padrões recorrentes de estilo. Ciberlegenda, v. 24, pp. 29-42, 2011.
CHION, M. A Audiovisão. Lisboa: Texto & Grafia, 2011.
CONSTANTINI, G. Leitmotif revisited. 2001. Disponível em http://filmsound.org/gustavo/leitmotif-revisted.htm . Acesso em: 06. Fev.2017
FLORES, V. Além dos Limites do Quadro: O Som a partir do Cinema Moderno. 2013. 213 f. Tese (Doutorado em Multimeios) – Instituto de Artes da Unicamp, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2013.
FLÜCKIGER, B. The unidentified sound object. 2001. Disponível em http://www.zauberklang.ch/uso_flueckiger.pdf . Acesso em: 15. Jan. 2017
OPOLSKI, Débora. Introdução ao desenho de som. João Pessoa: editora da UFPB, 2013.