Ficha do Proponente
Proponente
- Márcio Rodrigo Ribeiro (UNESP -IA – campus S)
Minicurrículo
- Doutor em Abordagens Históricas, Teóricas e Culturais das Artes pelo Instituto de Artes da UNESP com a tese “Do Cinemão ao Blockbuster Verde-amarelo: as hibridizações do aparelho cinematográfico brasileiro de 1975 a 2010”. Docentes dos cursos de Comunicação da Faculdade Cásper Líbero, Centro Universitário Belas Artes e Unisa. Jornalista de formação. Foi crítico e editor do caderno Fim de Semana, da Gazeta Mercantil e colaborador da Revista e Forbes e do jornal Valor Econômico.
Ficha do Trabalho
Título
- O Estado e o cinema: o Caderno 2 e a Retomada nos anos 1990
Resumo
- Por meio da análise de quatro cadernos especiais do Caderno 2, de O Estado de S. Paulo – publicados em março de 1995, março de 1996, março de 1999 e setembro de 2004, o objetivo desse trabalho é analisar a importância que reportagens e críticas publicadas no Estadão tiveram neste período para que o cinema brasileiro saísse de seu quase total colapso nos anos iniciais da presidência de Fernando Collor de Mello e voltasse a produzir cada vez mais longas-metragens no Brasil entre 1995 e 2002.
Resumo expandido
- Lançado pelo jornal O Estado de S. Paulo em 06 abril de 1986, o Caderno 2, suplemento diário do periódico paulistano dedicado aos assuntos culturais, teve papel essencial para a chamada Retomada do cinema brasileiro, movimento que emergiu gradativamente após a edição da Lei Federal do Audiovisual (8.685) em julho de 1993. Em suas páginas, profissionais veteranos como Luiz Zanin Oricchio e Luiz Carlos Merten realizaram reportagens, entrevistas e críticas que foram essenciais para que filmes lançados no Brasil a partir de “Carlota Joaquina; princesa do Brazil”, de Carla Camurati, pudessem ser presença cada vez mais constante no circuito exibidor brasileiro da segunda metade da década de 1990. Por meio da análise de quatro cadernos especiais do Caderno 2 – publicados respectivamente em março de 1995, março de 1996, março de 1999 e setembro de 2004 -, o objetivo desse trabalho, portanto, é refletir sobre a importância estratégica que um dos mais tradicionais jornais diários brasileiros exerceu na história recente do cinema brasileiro, colaborando para impulsionar a chamada Retomada.
Para tanto, serão revisitados na análise não apenas os cadernos supracitados, mas também livros como o editado por Felipe Lindoso para o programa Rumos Itáu Cultural, em 2007, na área de Jornalismo Cultural, em cujas páginas são debatidas o papel essencial que a crítica jornalística tem para a consolidação dos mais diferentes tipos de produção cultural no mercado de bens culturais brasileiro. Do mesmo modo, o trabalho também resgatará as principais reflexões de Luiz Zanin Oricchio sobre a Retomada, reunidas no livro “Cinema de Novo: um balanço crítico da Retomada”. Publicada, em 2003, a obra, como o próprio autor já adianta no prefácio, “é um relato analítico de um período de trabalho (no Estado de S. Paulo)” cuja intenção é “dar sentido à experiência fragmentária do cinema brasileiro” (2003, p. 22).
Deste modo, pretende-se ajudar a se preencher uma lacuna sobre a atuação recente da crítica jornalística que um dos periódicos mais antigos em circulação no País teve para que o cinema brasileiro pudesse viver um dos ciclos produtivos mais longevos de sua história e resgatar como a história recente deste mesmo cinema foi forjada com um olhar bastante otimista e positivo pelos críticos de O Estado de S. Paulo. Publicação da “quatrocentona” família Mesquita – sempre identificada com uma linha editorial conservadora no jornalismo brasileiro -, o Estadão, paradoxalmente, sempre teve uma postura bastante nacionalista e arrojada quanto à cobertura cinematográfica. A criação do Suplemento Literário do jornal, em 1956, com a participação de Paulo Emílio Sales Gomes, um dos críticos e intelectuais mais profícuos e entusiastas do cinema nacional, não deixam muitas dúvidas sobre a visão do periódico sobre o assunto.
Nem mesmo a extinção do Suplemento e a morte de Gomes, respectivamente em 1974 e 1977, parecem ter tirado do Estadão, no entanto, a opção e gosto por apoiar o cinema brasileiro mesmo em seus momentos mais críticos como, por exemplo, por ocasião do colapso da produção de filmes brasileiros no início dos anos 1990, devido à extinção da Embrafilme, em março de 1990, pelo então recém-empossado presidente da República, Fernando Collor de Mello. Em cadernos especiais, sempre publicados nos finais de semana, o jornal não apenas anunciou o ressurgimento do cinema nacional a partir de 1995, como, em um trocadilho com o Cinema Novo – talvez o mais importante movimento fílmico surgido no Brasil – anunciou a invenção de um “novo cinema brasileiro” (1996, p. D1). Um apoio crítico fundamental nas páginas de um meio de comunicação social tradicional e respeitado para os rumos que a produção de longas-metragens no País tomaria até os dias atuais.
Bibliografia
- CINEMA da Retomada faz dez anos. E agora? O Estado de S. Paulo, São Paulo, 25 de setembro de 2004, Caderno 2, p. D1.
LINDOSO, F. (org.). Rumos do Jornalismo Cultural. São Paulo: Summus e Itaú Cultural, 2007.
LORENZOTTI, E. Suplemento Literário – que falta ele faz! São Paulo: Imprensa Oficial, 2007.
MOCARZEL, E. O cinema solta sua voz. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 12 de março de 1995, Caderno 2, p. D1.
ORICCHIO, L. Z. Cinema de Novo: um balanço crítico da Retomada. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.
_______________. Entra em cena o novo cinema brasileiro. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 17 de março de 1996, Caderno 2, p. D1.
_____________. Próxima estação: Oscar 99. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 21 de março de 1999, Caderno 2, p. D1.
RIBEIRO, M. R. Do Cinemão ao Blockbuster Verde-amarelo: as hibridizações do aparelho cinematográfico brasileiro de 1975 a 2010. São Paulo, 2016. 316 p, dois volumes. Tese (Doutorado em Artes). Instituto de Artes da UNESP.