Ficha do Proponente
Proponente
- Andressa Gordya Lopes dos Santos (UNICAMP)
Minicurrículo
- Andressa Gordya Lopes dos Santos é mestranda do PPG em Multimeios do Instituto de Artes da UNICAMP, graduada em Cinema e Vídeo pela Universidade Estadual do Paraná – UNESPAR/FAP e cursou Filosofia na UFPR. É membra da Associação Paranaense de Imprensa, cronista no site de jornalismo literário Parágrafo 2, cobriu o Olhar de Cinema – Curitiba Int’l Film Festival para o portal de cultura A Escotilha.
Ficha do Trabalho
Título
- Bonnie x Bonnie: paralelos entre Bonnie Parker Story e Bonnie&Clyde
Resumo
- Elas dirigem noite adentro, poucas horas de sono e um rastro de morte em seus caminhos, ninguém pode obriga-las a servir. Elas querem conquistar e consumir, nem que seja à força. Possuem amantes, mas são mais apaixonadas pelas pistolas que carregam, pelo poder de destruição que significam. Bonnie Parker trouxe personalidade e terror num período em que ser mulher era condenação. Este artigo analisa as representações de Bonnie em dois filmes: The Bonnie Parker Story (1958) e Bonnie&Clyde (1967).
Resumo expandido
- Esse artigo é uma extensão da dissertação de mestrado do Programa de Pós-Graduação em Multimeios da UNICAMP intitulada “Mad Love, Crise da Família Tradicional, Gênero e o Fetiche pela Violência nos Road Movies de Casais Fora da Lei”. O foco nas relações heterossexuais e nas representações de gênero neste tipo de filme foi, aos poucos, denunciando brechas nas representações de estereótipos de gênero, sobretudo os femininos, o que motivou o interesse pelo aprofundamento em dois filmes em específico: “The Bonnie Parker Story” (1958) de William Witney e “Bonnie&Clyde” (1967) de Arthur Miller.
O período da Grande Depressão que se iniciou com a quebra de Wall Street, em 1929 e se prolongou por toda a década de 1930, gerou um processo de mudanças sociais bastante severas nos Estados Unidos. A fome, o desemprego e a desestrutura num país cujo sistema é baseado no consumo gerou certa atratividade pelo mundo do crime. A necessidade de prover lares, de manter o status quo e a Lei Seca gerou uma onda de criminalidade no país e a tomada de territórios pela máfia (COHAN, HARK, 1997). E como nenhum filme de gênero é deslocado de seu contexto histórico de produção, o surgimento de filmes de gângsteres e de foras da lei se deu nessa época, período este em que o mais famoso casal de criminosos imortalizou sua história.
Apesar de tanto “The Bonnie Parker Story” quanto “Bonnie&Clyde” terem sido inspirados pela história real de Bonnie Parker e Clyde Barrow, dois jovens criminosos que aterrorizaram o sul dos Estados Unidos nos anos 1930, cada filme apresenta particularidades que geram discussão, principalmente no que se refere ao caráter transgressor de ambos. O filme de William Witney, “The Bonnie Parker Story” de 1959, é pouquíssimo conhecido, mas é considerado a primeira versão cinematográfica da história. Considerado uma versão inferior pelos produtores de “Bonnie&Clyde”, que se referiam ao filme com certo deboche, contudo, a obra é por vezes muito mais transgressora que o famoso filme de Arthur Miller.
Construído num anacronismo estilístico e narrativo, o filme de Witney mescla a atitude rebelde dos jovens dos anos 1950 com a violência do período pós-Depressão de 1929. A Bonnie de Witney é uma versão feminina de James Dean em “Juventude Transviada”, porém mais melancólica, pessimista e violenta. Um respiro de personalidade se comparada às mocinhas dos melodramas do período.
Já “Bonnie&Clyde” de 1967 é um divisor de águas do cinema hollywoodiano. O filme que marca o início da chamada Nova Hollywood e como se espera do período, devido a massiva maioria dos seus diretores homens, traz consigo uma sensibilidade demarcadamente masculina (GRANT, 2016). A relação de amor entre o casal traz novamente as romantizações de um cinema clássico quando seu antecessor, considerado um filme B, apresenta uma mulher muito mais livre sexualmente cuja relação com os homens perverte conceitos, ela que os usa, não é usada. Em “The Bonnie Parker Story”, a inexistência de Clyde Barrow é decisiva. Clyde Barrow é, na versão de Witney, Guy Darrow, um amante qualquer a serviço de Bonnie, a chefe do crime. Em “Bonnie&Clyde”, Bonnie Parker está frustrada e presa ao ambiente doméstico e vê em Clyde uma oportunidade de renegar suas obrigações familiares de mulher, filha e futura esposa. Todavia, por mais que tome a decisão de juntar-se a Clyde, ainda segue suas ordens e seus planos. De um lado, temos uma Bonnie sem vínculos emocionais, líder e livre. Do outro, uma Bonnie apaixonada, ludibriada pela violência e pelo falso sentimento de liberdade que a criminalidade lhe oferece por tempo limitado.
Dado esse contexto, o intuito deste artigo é apresentar uma comparativa entre ambas as representações de Bonnie Parker no cinema, contextualizar seus dados períodos históricos e com base nos estudos de gênero no cinema até então e, por fim, buscar compreender como uma mesma personagem pode ter representações tão diferentes quando ambos os filmes são baseados numa mesma história.
Bibliografia
- ALTMAN, R. Los géneros cinematográficos. Barcelona; Buenos Aires; México: Paidós, 2000.
BASSINGER, Jeanine. A woman’s view – How Hollywood spoke to women – 1930 – 1960. New England: Wesleyan University Press, 1993.
CHOPPRA-GRANT, Mark. Hollywood Genres and Post War America: Masculinity, Family and Nation in Popular Movies and Film Noir. London: L.B. Tauris & CO Ltd., 2006.
COHAN. Steve. HARK. Ina Rae. The Road Movie Book. London: Routledge. 1997.
GRANT, Barry K. Feminismo, Western e o filme Uma Balada para Jo. Alfredo Suppia (Org.). Gêneros Cinematográficos e Audiovisuais: Perspectivas Contemporâneas. Margem da Palavra, Bragança Paulista – SP, 2016, p. 15-38.
HARRIS, Mark. Pictures at a Revolution: Five Movies and the Birth of the New Hollywood. Penguin Press, 2009.
KAPLAN, E. Ann. A mulher e o cinema – Os dois lados da câmera. Rocco. São Paulo – SP. 1995.
LADERMAN, David. Driving Visions: Exploring the Road Movie. University of Texas Press, Austin, 2002.