Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Iomana Rocha de Araújo Silva (UFPA)

Minicurrículo

    Coordenadora e professora do curso de Cinema e Audiovisual da UFPA, doutora e mestre em comunicação pela UFPE, coordenadora do grupo de pesquisa Outros Cinemas, atualmente desenvolve pesquisa ligada ao cinema brasileiro contemporâneo e suas peculiaridades estéticas. Desenvolve trabalhos práticos na área de direção e produção de arte para cinema desde 2007.

Ficha do Trabalho

Título

    Outros Cinemas Pernambucanos

Seminário

    Interseções Cinema e Arte

Resumo

    Observa-se no estado de Pernambuco uma interessante produção audiovisual que se desvincula do conceito tradicional de cinema. Propõe-se aqui uma observação sobre estes outros cinemas pernambucanos. Para tanto apresento neste artigo um recorte panorâmico com os filmes “Poema: O filme é a ponta e a ponta é o filme” (1979) de Paulo Bruscky, “Resgate Cultural” (2001) do coletivo Telephone Colorido e “Estás vendo coisas” (2016) de Barbara Wagner e Benjamim de Burca.

Resumo expandido

    Observa-se atualmente nos circuitos de museus, galerias, mostras de arte contemporânea e centros dedicados à artemídia, uma crescente e fervilhante produção audiovisual originada da apropriação, por parte dos artistas contemporâneos, da linguagem e dos meios técnicos próprios do cinema. Tal produção apresenta variados modos de projeção, difusão e recepção das imagens em movimento. Engloba muitas maneiras de se trabalhar a linguagem audiovisual, ampliando-a e multiplicando-a para além do espaço da tela, jogando com as margens do cinema, da fotografia, do vídeo, da performance, das imagens produzidas no computador. Acompanhando essa tendência mundial, observa-se no estado de Pernambuco uma vasta produção dentro destas manifestações que se desvinculam do conceito tradicional de cinema. Produção esta que não é exatamente recente, e nos remete as experimentações pioneiras de artistas como Paulo Bruscky, que realizou cerca de 30 filmes de artistas e videoartes entre 1979 e 1982, depois disso produziu videoinstalações, além de ter criado técnicas especificas como o xerox-filme, com base em sequências xerográficas. Depois disso, vários outros artistas pernambucanos vêm seguindo por diversas experimentações, como as em super 8 de Jomard Muniz de Brito, com obras marcadas pela transgressão e anarquia, as polêmicas experiências em vídeo do coletivo Telephone Colorido, chegando na produção contemporânea de Jonathas de Andrade, Marcelo Coutinho, Barbara Wagner, além de artistas como Gabriel Mascaro e Marcelo Pedroso, que ao mesmo tempo estão ligados a forma cinema, bem como propõem obras instalativas ou outras experiências estéticas com as imagens de seus filmes. Diante disso, propõe-se uma observação sobre estes outros cinemas pernambucanos. Para tanto apresento neste artigo um recorte panorâmico, observando os filmes “Poema: O filme é a ponta e a ponta é o filme” (1979) de Paulo bruscky, poema visual em que o artista recolheu durante mais de um ano pontas brancas (que vinham antes de começar a parte projetável) dos filmes super 8, realizou intervenções, transformou-as em filme e velou trechos para se tornarem as pontas. Evidencia-se com esta obra um período de livre experimentação, o cinema como meio plástico a ser explorada pela criatividade do artista; o segundo filme, “Resgate Cultural” (2001) do coletivo Telephone Colorido, curta de autoria coletiva, modus operandi anárquico e montagem fragmentada e não linear, usa como mote central um bem humorado sequestro como um artificio para escancarar algumas questões sobre a tradição artística pernambucana e sua indústria cultural. Marca-se assim a importância dos coletivos artísticos para a produção audiovisual pernambucana, a produção marginal possibilitada pelo advento do vídeo e uma postura crítica e ativista de seus autores. E por fim “Estás vendo coisas” (2016) de Barbara Wagner e Benjamim de Burca, esta obra apresenta o universo brega de Recife por meio de um olhar ao mesmo tempo documental e alegórico, com participação direta de figuras reais do contexto brega e fortes influências do gênero musical, o filme acompanha dois personagens que se deslocam entre seus empregos comuns (cabeleireiro/ bombeira) e suas vidas junto ao universo de shows das bandas que participam. Uma produção contemporânea que demonstra uma consciência da via de mão dupla entre artes visuais e cinema, bem como evidencia as dinâmicas de exibição e circulação desse tipo de obra, que permeia os universos das artes visuais e do cinema, sendo exibidos tanto em bienais e galerias, como em festivais de cinema tradicionais. Com este recorte busca-se apontar peculiaridades relacionadas aos contextos de cada obra, seus processos artísticos, as redes de criação que estabeleceram no estado, apontando uma produção madura, rica e heterogênea em linguagem e técnicas.

Bibliografia

    BELLOUR, Raymond. Entre imagens. Campinas. São Paulo: Papirus. 1997.
    CANONGIA, Ligia. Quase cinema: cinema de artista no Brasil, 1970/80. Rio de Janeiro: FUNARTE, 1981.
    DUBOIS, Philippe. Cinema, Vídeo, Godard. São Paulo: Cosac Naify, 2004.
    _________________.Movimentos improváveis: o efeito cinema na arte
    contemporânea. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2003.
    FREIRE, Cristina. Paulo Bruscky: arte arquivo e utopia. Companhia Editora de Pernambuco, 2006.
    MACHADO, Arlindo (Org.). Made in Brasil: três décadas do vídeo brasileiro. São Paulo: Itaú Cultural, 2003.
    MACIEL, Kátia (Org.). Transcinemas. Rio de Janeiro: Contra Capa, 2009.MENDONÇA FILHO, Kleber. ESP 2 Telephone Colorido. In: III Janela Internacional de Cinema do Recife. Pernambuco: Revista da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco – FUNDARPE, 2010.