Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Edylene Daniel Severiano (UFRJ)

Minicurrículo

    Possui Bacharelado em Ciências Econômicas pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Bacharelado e Licanciatura em Letras (Português-Literaturas) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (2016), onde foi Bolsista de Iniciação Artística e Cultural pelo CeC-NuDCEN, atuando como revisora do periódico Ciências&Cognição e monitora de oficinas no Museu Itinerante de Neurociências. Atualmente é mestranda em Ciência da Literatura pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ficha do Trabalho

Título

    No limite e no limiar – O hiper-real no cinema de Akira Kurosawa

Resumo

    A comunicação proposta é dedicada às películas Rapsódia em agosto (1991) e Sonhos (1990) de Akira Kurosawa. Norteados pelos conceitos de Pós-modernidade, simulacro, simulação, hiper-real e cultura aleatória, buscaremos tecer uma leitura acerca da construção por jogos de cena de um real, já não mais com origem na realidade. Para tal propomos uma leitura do hiper-real, não como matéria, mas como fenômeno inaugural de uma nova fase da humanidade, o caminhar para uma cultura aleatória.

Resumo expandido

    A comunicação proposta é dedicada às películas Rapsódia em agosto (1991) e Sonhos (1990) de Akira Kurosawa. Norteados pelos conceitos de Pós-modernidade, simulacro, simulação, hiper-real e cultura aleatória, buscaremos tecer uma leitura acerca da construção por jogos de cena de um real, já não mais com origem na realidade.
    Nosso ponto de partida é a passagem da Modernidade para a Pós-modernidade, quando as categorias se esfacelaram, e corroboram a afirmação de Marx, recuperada por Bauman, de que o mundo sólido se desmancha no ar, por fim se liquefazendo. Ou melhor, se pulverizando.
    Jean-François Lyotard, um dos mais ferrenhos críticos da Pós-modernidade, em A Condição Pós-Moderna, afirma que “o grande relato” como matéria do pensar perdeu credibilidade, ou seja, a questão da legitimação, observada desde Platão, tomou novos contornos. Jean Baudrillard (1991), por seu turno, traça considerações desta nova conjuntura em Simulacros e simulação, em que problematiza a crise do real e a passagem deste para o hiper-real. Como matéria da Pós-modernidade o hiper-real reside na negação e incompreensão, pois, se, por um lado, há a sua negação, posta mesmo como negação da Modernidade, por outro, há a incapacidade de uma conceituação ideal e, consequentemente, o não entendimento da extensão de seus efeitos. Pensamos ser este o preâmbulo da cultura aleatória, pois se este não entender pode nos ser válido é no sentido de encaminhar uma superação de um imaginário de origem ou de fim pelo qual as sociedades estiveram obcecadas (Baudrillard, 1991).
    Isto posto, nos propomos intentar uma leitura da película Rapsódia em agosto a partir da re-presentação da morte do real, com foco no evento nuclear, a “apoteose da simulação”, ou seja, o momento da morte do real e nascimento do hiper-real. Deste modo, apreende-se o fazer rapsodo de Kurosawa como a tecitura que compõe este momento, com fragmentos do real, reunindo-os de modo a expô-los pelas última e primeira vez, representando-os e simulando-os, já como forma do hiper-real.
    Na película Sonhos, nos detemos no sonho O demônio que chora, que mostra a condição humana pós-holocaustos nucleares, em que, ao homem em fuga para não se tornar um demônio, resta apenas a sua própria humanidade e o vagar, sem fim, pois este já não existe. À vista disso, propomos este vagar como uma possibilidade de exórdio daquilo que Baudrillard (1991) denominou o encerramento do “imaginário obcecado pelo próprio fim”, passando a humanidade à “cultura sem qualquer imaginário”, a “sociedade aleatória”.
    Diante disso procuraremos refletir como as questões do nosso tempo se expressam na linguagem cinematográfica por meio do que consideramos re-presentação. Para isso nos deteremos no conceito de hiper-real, não como matéria, mas como fenômeno inaugural de uma nova fase da humanidade, o caminhar para uma sociedade da “cultura aleatória”, por meio de uma leitura em não analepse das referidas películas de Akira Kurosawa.

Bibliografia

    BAUDRILLARD, Jean. Simulacros e simulação. Tradução. Maria João da Costa Pereira. Lisboa: Relógio D’água, 1991.
    ______. La transparência del mal. Ensaios sobre los fenômenos extremos. Traducción: Joaquín Jordá. Barcelona: Anagrama, 1991.
    BAUMAN, Zygmunt. Modernidade liquida. Tradução por: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Zahar, 2001
    BENJAMIN, Walter. Estéticas do cinema. Ed., Apres. e notas Eduardo Gueda, trad. Tereza Coelho. Lisboa: Dom Quixote, 1985.
    LIPOVETSKY, Gilles; CHARLES, Sebastien. Os tempos hipermodernos. Trad. Mario Vilela. São Paulo: Barcarolla, 2004.
    LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. Rio de Janeiro: José Olympio, 2004.
    Filmografia
    RAPSÓDIA EM AGOSTO. Direção: Akira Kurosawa. Roteiro: Akira Kurosawa e Kiyoko Murata. Japão: Spectra Nova, 1991.1 DVD (97 min.) color.
    SONHOS. Direção: Akira Kurosawa. Produção: Hisao Kurosawa e Mike Y. Inoue. Roteiro: Akira Kurosawa. Japão e Estados Unidos: Warner Bros. Entertainment Inc, 1990.1 DVD (119 min.) color.