Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Jefferson Bruno de Sousa Cabral (UFRN)

Minicurrículo

    Mestrando em Estudos da Mídia (PPGEM) pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Possui graduação em História (2012) e especialização em nível de pós-graduação lato sensu em Cinema (2017), pela mesma instituição. É colaborador da pesquisa “A comunicação urbana nos centros históricos de Natal: expressões simbólicas e fluxos da cultura”. Tem interesse nas áreas de: cinema e arquivo; filme-ensaio; vídeo-ensaio; cultura remix; e apropriação audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    O ensaio nos arquivos: “Sinfonia e Cacofonia” e “Cinemacidade”

Resumo

    O presente trabalho parte da reflexão dos filmes “São Paulo, Sinfonia e Cacofonia” (1994) e “São Paulo, Cinemacidade” (1994) para discutir as tensões existentes entre os domínios do cinema documentário e cinema ensaio. Nesse sentido, a passagem entre imagem e documento nestes filmes de montagem proporcionam um elemento de tensão entre as formas, contribuindo para a problematização dos filmes ensaísticos e seu desenvolvimento no Brasil.

Resumo expandido

    Na cultura midiática contemporânea, a apropriação de imagens e sons se tornou prática comum entre os meios de comunicação e os processos de criação artística. Período este em que acompanhamos a difusão das imagens digitais através da ecranosfera, ou seja, estado generalizado das telas na sociedade hipermoderna, possibilitado pelas novas tecnologias da informação e da comunicação (LIPOVETSKY; SERROY, 2009). Nesse sentido, com a imagem documental não foi diferente, ela se fez disseminar fora do seu espaço oficial de origem, ou seja, o arquivo. Logo, tal expansão dilatou o lugar da informação e da memória, que encontrou espaço propício de problematização em filmes e vídeos de natureza ficcional, ensaística, documental e experimental. Este trânsito entre imagem e documento – cinema e arquivo – é o elemento de tensão entre os domínios do cinema documental e ensaístico que o presente trabalho organiza seus questionamentos centrais.

    A discussão encontra terreno próspero em torno da produção coletiva de dois filmes-ensaios documentais da década de 1990, situados no contexto do Cinema da Retomada, momento no qual a produção do cinema brasileiro se reorganizou com as leis de incentivo que entraram em vigor no período. “São Paulo, Sinfonia e Cacofonia” (1994, 40 min., de Jean-Claude Bernardet) e “São Paulo, Cinemacidade” (1994, 30 min., de Aloysio Raulino, Marta Grostein e Regina Meyer), são obras audiovisuais irmãs, produzidas pela ECA-USP e financiadas pela Fapesp – essencialmente construídas na montagem de imagens e sons apropriadas de diversos filmes brasileiros – na qual a noção de documento é ampliada para um escopo gigantesco de ressignificação espacial e social da cidade de São Paulo.

    A proposta desta apresentação é lançar luz sobre o desenvolvimento de filmes ensaísticos no Brasil, contribuindo para a expansão do significado do tema e da inteligibilidade da forma, reorganizados a partir da noção do ensaio como um quarto domínio do cinema (TEIXEIRA, 2015). “São Paulo, Sinfonia e Cacofonia” e “São Paulo, Cinemacidade” se apresentam como experiências pioneiras de filmes ensaios nos anos 1990, expressões poéticas de rica inventividade formal e de meticulosa pesquisa de imagens, criadas num período em que o cinema nacional apresentou seu maior estado de desestruturação na produção e exibição de longa metragens.

    Esta condição do cinema produziu uma profícua relação entre a crítica e realização, no momento no qual Jean-Claude Bernardet inter-relaciona sua experiência como pesquisador do cinema brasileiro com a elaboração de um pensamento audiovisual que possui uma forma de enunciado poético em imagem e som, usando o próprio cinema como suporte e linguagem (MACHADO, 2003). O uso do conceito de filme-ensaio é fundamental por suscitar novas perguntas a respeito da criação de obras que utilizam a apropriação documental, confrontando os discursos tradicionais que generalizam o documento histórico como pertencente a natureza do documentário, e estreitando as fronteiras que separam os filmes de ficção dos filmes documentário.

Bibliografia

    CORRIGAN, T. O filme ensaio: desde Montaigne e depois de Marker. São Paulo: Papirus, 2015.
    BERNARDET, J. C. A migração das imagens. In: TEIXEIRA, Francisco Elinaldo (Org.). Documentário no Brasil: tradição e transformação. São Paulo: Summus Ed., 2004. p. 69-80.
    __________. A subjetividade e as imagens alheias: ressignificação. In: BARTUCCI, Giovanna (Org.). Psicanálise, cinema e estéticas de subjetivação. Rio de Janeiro: Imago, 2000. p. 21-44.
    DELEUZE, G. O pensamento e o cinema. In: A imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2013, p. 189-226.
    LIPOVETSKY, G.; SERROY, J. A tela global: mídias culturais e cinema na era hipermoderna. Porto Alegre: Sulina, 2009.
    MACHADO, A. O Filme-Ensaio. In: Intermídias 5 e 6. Rio de Janeiro: Concinnitas/UERJ, v. 4, n. 5, p. 63-75, 2003.
    TEIXEIRA, F. E. (Org.). O ensaio no cinema: formação de um quarto domínio das imagens na cultura audiovisual contemporânea. São Paulo: Hucitec, 2015.