Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Karla Holanda (UFJF)

Minicurrículo

    Professora adjunto do Bacharelado em Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós-graduação em Artes, Cultura e Linguagens, do Instituto de Artes e Design, da Universidade Federal de Juiz de Fora, é doutora em comunicação, pela UFF, e mestre em multimeios, pela Unicamp. É também cineasta, tendo realizado, dentre outros filmes, “Kátia” (2012).

Ficha do Trabalho

Título

    Documentário moderno brasileiro – o lado B da história

Seminário

    Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais

Resumo

    Dentre os filmes que compõem a história do documentário moderno brasileiro, praticamente todos têm direção masculina. No entanto, dezenas de diretoras estrearam entre as décadas de 1960 e 1970 e pouco se sabe sobre seus filmes. Isso nos leva a investir na ideia de uma história do cinema moderno brasileiro de autoria feminina como outro lado da história que precisa ser melhor compreendido. É sobre esse outro lado que esta comunicação vai tratar.

Resumo expandido

    De maneira geral, o documentário brasileiro dito moderno, que se afirma entre os 1960 e os 1970, é marcado por uma espécie de adaptação aos métodos direto e verdade que ecoavam, sobretudo, dos Estados Unidos e da França. Possibilitado pelo avanço das novas tecnologias que permitiam captar o som sincronicamente com a imagem, que davam maior agilidade no manuseio da câmera, que viabilizavam filmagens por mais tempo sem interrupções, etc., essa nova forma de filmar colocava em jogo a complexidade da “verdade”. Grosso modo, num caso, pretendia filmar sem interferir no mundo, como se flagrasse a vida acontecendo e, noutro caso, o que interessava era revelar como os sentidos eram construídos, interagindo diretamente nas cenas e, assim, demonstrar que os acontecimentos surgiam no próprio processo de filmagem, sem, num caso ou noutro, apontar alguma verdade como dada e acabada. As realidades desses países eram abissalmente diferentes da do Brasil. Natural, portanto, que as influências desses modos de filmar, ao interagir com o contexto local, resultassem em formas particulares.

    Diferentemente dos modelos estadunidense e francês, os cineastas brasileiros, de maneira geral, não continham o impulso de “desvelar a verdade” – como se ela lhes surgisse cristalina à frente -, ao diagnosticar o país e sua população através de uma voz off que reconduzia qualquer tentativa de ambiguidade do discurso. Impulso que se justifica, afinal, imagens do Brasil profundo no cinema eram novidade, a desigualdade social alarmava; era preciso dizer, alardear. A marca maior do documentário moderno brasileiro, assim, foi trazer à tona os temas, corpos, figurinos e locações de nossa dramática realidade social, propondo discutir o país, dando voz ao “povo”, mesmo que para interpretá-la.

    Essa pode ser uma brevíssima síntese da história do cinema documentário brasileiro, cujos filmes tornados cânones por ela têm, quase todos, direção masculina, o que não surpreende, afinal, de fato, a participação feminina era rara, não só no cinema, mas em todas as áreas. No entanto, é possível identificar dezenas de diretoras que estrearam entre as décadas de 1960 e 1970. Muitos desses filmes só recentemente começam a ser discutidos e têm revelado características peculiares, temática e formalmente, que nos permitem acreditar na ideia de uma história do documentário moderno brasileiro de autoria feminina como uma história à parte.

    Esta comunicação, portanto, pretende se ater aos documentários de autoria feminina produzidos nessas duas décadas, buscando destacar aspectos particulares dessa produção. Se nos anos 1960 essa produção é pequena, na década seguinte ela se multiplicará exponencialmente, embalada pelo movimento feminista. O que nos dizem essas obras ainda tão pouco discutidas em seu conjunto? Quando a mulher assume o ponto de vista, que filmes passam a ser produzidos? Seria possível transferir os aspectos que caracterizam o documentário moderno brasileiro tal qual conhecemos ao documentário de autoria feminina? Essas são algumas questões que buscaremos tratar nesta apresentação.

Bibliografia

    BERNARDET, Jean Claude. Cineastas e imagens do povo. São Paulo: Brasiliense, 1985.

    HOLANDA, Karla. Da história das mulheres ao cinema brasileiro de autoria feminina. In: Revista Famecos: mídia, cultura e tecnologia. Porto Alegre: v. 24, n. 1, jan-abr de 2017. Disponível em http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/24361. Acesso em: 10 jan. 2017.

    RAMOS, Fernão. Mas afinal… o que é mesmo documentário?. São Paulo: Senac, 2008.

    PUPPO, Eugênio; HADDAD, Vera. Cinema marginal e suas fronteiras: filmes produzidos nas décadas de 60 e 70. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, 2001.

    VEIGA, Ana Maria. Cineastas brasileiras em tempos de ditadura: cruzamentos, fugas, especificidades. 2013. 397 f. Tese (Doutorado em História Cultural) – Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2013.

    WALDMAN, Diane; WALKER, Janet (editors). Feminism and documentary. Minneapolis: University of Minnesota, 1999.