Ficha do Proponente
Proponente
- Maurício de Bragança (UFF)
Minicurrículo
- Graduado em História e Cinema, com Mestrado em Comunicação e Doutorado e Pós-Doutorado em Letras pela Universidade Federal Fluminense. Atualmente é Professor Adjunto do Departamento de Cinema e Video e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFF. Publicou A traição de Manuel Puig: melodrama, cinema e política em uma literatura à margem (EDUFF, 2010) e organizou, com Marina Tedesco, o livro Corpos em projeção: gênero e sexualidade no cinema latino-americano (7Letras, 2013).
Coautor
- Hadija Chalupe da Silva (ESPM/UFF)
Ficha do Trabalho
Título
- Latinas do tráfico, senhoras das mídias: versões de La reina del sur
Seminário
- Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais
Resumo
- Pensando uma cartografia midiática latino-americana construída pela indústria do entretenimento, analisaremos as duas versões audiovisuais do romance La Reina del sur, de Arturo Pérez-Reverte. Veremos de que maneira tais produtos são produzidos (no viés narrativo e de realização), como circulam no mercado das teleseries e como se estabelecem as relações de recepção com os dois textos, sobretudo na perspectiva de como se constrói o texto estelar das duas atrizes: Kate del Castillo e Alice Braga
Resumo expandido
- Empenhados em pensar uma cartografia midiática latino-americana construída no âmbito da indústria do entretenimento, constatamos que os crimes relacionados ao narcotráfico oferecem uma poderosa matriz capaz de indicar elementos importantes em torno das identidades culturais globalizadas. Se em outro momento, trouxemos a figura de Pablo Escobar como um catalizador destas imagens produzidas pelo e para o subcontinente, nesta oportunidade continuamos seguindo “a pista do pó” para alcançar outra personagem importante no mundo da narcocultura: La Reina del sur (ou A Senhora do tráfico). Assim como seu companheiro colombiano, esta personagem também impactou um público consumidor das histórias de crime e tráfico de drogas ao chegar ao mercado editorial em 2002 através do romance escrito pelo espanhol Arturo Pérez-Reverte. Para narrar a história da ficcional personagem de uma poderosa traficante internacional, o autor recorre ao universo de Culiacán, capital do estado de Sinaloa, cidade que, ao lado de Medellín, converteu-se num dos pólos centrais do mapa das drogas na América Latina, colocando Colômbia e México em posição de destaque nesta rota da cocaína. A história de Teresa Mendoza, traficante mexicana que, fugindo do cartel de Sinaloa ao perder seu noivo para o tráfico, chega à Espanha e converte-se num dos principais nomes do negócio de drogas na Europa, chegou às telas de TV de grande parte do planeta pela telenovela colombiana produzida pela RTI Producciones e Telemundo. O estrondoso êxito da produção protagonizada pela atriz mexicana Kate del Castillo acabou por impulsionar outra versão da história, desta vez produzida pelo Canal USA Television Network (exibida no Brasil pela teve por assinatura através do Canal Space), trazendo como estrela a brasileira Alice Braga. A série estadunidense Queen of the South é uma resposta positiva do mercado às produções com temáticas que envolvem o negócio do narcótico como temática, tais como os sucessos de audiência Narcos (Netflix) e Breaking Bad (AMC). Ela nos coloca um grande número de questões de várias ordens relacionadas desde as práticas de consumo deste tipo de narrativa até as permanências de modelos de star system latino no imaginário globalizado. Aqui, nesta proposta, pretendemos apontar discussões que passam pela produção, distribuição e consumo das versões de La Reina del Sur, como forma de problematizarmos a ideia de uma narcocultura no interior da indústria audiovisual feita por e para a América Latina. Desta forma, em perspectiva comparada (entre as duas versões), pretendemos perceber de que maneira tais produtos são produzidos (no sentido narrativo e de realização), como circulam no mercado (tendo em vista que a segunda versão vem a reboque do estrondoso sucesso da telenovela da RTI/Telemundo, tentando ampliar, porém, sua participação no mercado das teleseries) e como se estabelecem as relações de recepção com os dois textos, sobretudo na perspectiva de como se constrói o texto estelar das duas atrizes (Kate del Castillo e Alice Braga) no universo latino em diálogo com a dimensão da narcocultura. Aqui, pensamos a narcocultura como resultado do capitalismo, não apenas econômico, mas cultural, social e simbólico que funciona como uma “porta de entrada” desse popular contemporâneo latino-americano para a modernidade, no qual esse narco atua como uma espécie de passaporte para o mercado onde se inventa um novo popular latino-americano com feições globalizadas. Assim, a análise das questões de mercado devem vir acompanhadas das questões narrativas relacionadas ao mundo do crime que ressignificam padrões de consumo dos espectadores em escala global, sem deixar de dialogar com instâncias contextuais que conferem sentido às obras.
Bibliografia
- BRAGANÇA, Maurício de. A narcocultura na mídia: notas sobre um narcoimaginário latino-americano. Significação: Revista de Cultura Audiovisual, v. 37, p. 93-109, 2012.
CHALUPE da Silva, Hadija.; SILVA, Antonio Carlos Amancio da . Mercado comum de filmes. In: Carlos Gerbase, Eduardo Campos Pellanda; Juliana Tonin. (Org.). Meios e mensagens na aldeia virtual. 1aed.Porto Alegue: Editora Sulina, 2012, v. 1, p. 167-188.
MARTIN-BARBERO, Jesús. La globalización en clave cultural: una mirada latinoamericana. Globalisme et pluralisme. Colloque internationale. Montreal/abril de 2002. Disponível em http://www.er.uqam.ca/nobel/gricis/actes/bogues/Barbero.pdf acesso em 02/04/2016.
RINCÓN, Omar. “Todos temos um pouco do tráfico dentro de nós: um ensaio sobre o narcotráfico/cultura/novela como porta de entrada para a modernidade”. São Paulo: MATRIZes, jul/dez 2013.
FEATHERSTONE, Michell, Culturas globais e culturas locais. In: O desmanche da Cultura. São Paulo: Nobel, 1997.