Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Patricia Rebello da Silva (UERJ)

Minicurrículo

    Professora adjunta da Faculdade de Comunicação Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FCS/UERJ) e do Programa de Pós-Graduação em Comunicação Social da UERJ (PPCCOM/UERJ). Doutora em Comunicação Social pela ECO/UFRJ. Integrante do comitê de seleção das mostras competitivas nacional e internacional do Festival Internacional de Documentários É Tudo Verdade desde 2008. Membro do conselho deliberativo da Socine. Editora-chefe da Revista LOGOS: Comunicação e Universidade.

Ficha do Trabalho

Título

    VARIAÇÕES DA DESMONTAGEM: ARQUITETURA DA TELA EM “PICTURESQUE EPOCHS”

Resumo

    A tela como um tabuleiro de montagem sobre o qual imagens de arquivo são dispostas em diálogo e tensionamento é o ponto de partida a partir do qual se desdobra uma reflexão a propósito de “Picturesque Epochs” (2016), de Péter Forgács. A protagonista do documentário é Mária Gánóczy. Nascida em 1927, a biografia de Mária e a da história da arte da Hungria se confundem nos inúmeros quadros pintados pela artista e nos milhares de rolos de 8mm de filmes de família e amadores colecionados por ela.

Resumo expandido

    A tela como um tabuleiro de montagem sobre o qual imagens de arquivo são dispostas em diálogo e tensionamento é o ponto de partida a partir do qual se desdobra uma reflexão a propósito de “Picturesque Epochs” (2016), de Péter Forgács.
    A protagonista deste documentário é Mária Gánóczy. Nascida em 1927, a biografia de Mária e a da história da arte da Hungria se confundem nos inúmeros quadros pintados pela artista e, principalmente, nos milhares de rolos de 8mm de filmes de família e amadores em seu arquivo. Fascinada pelo registro do cotidiano, da vida e seus acontecimentos em suas pequenas e iluminadas insignificâncias, as imagens de Mária falam de resistência e exílio (depois da Primeira Guerra Mundial, a Hungria perdeu cerca de 72% de seu território e 64% sua população diante da postura cada vez mais fascista e antissemita do governo a partir dos anos 1920), mas igualmente de uma graciosidade e leveza fundamentais para sobrevir ao caos. Descendente de uma família de mulheres artistas, cúmplice “fitzgeraldiana” de uma vida inteira do companheiro, o também pintor József Breznay (1916-2012), com quem criou os nove filhos do casal, os filmes e quadros de Mária desdobram ainda mais a multifacetada história de êxodos e chegadas da comunidade artística húngara na primeira metade do século XX.
    Os documentários de Péter Forgács, caracterizados notavelmente pela reapropriação de imagens de arquivo de famílias europeias e registros amadores dos cinquenta primeiros anos do século passado, marca de forma emblemática o cruzamento de campos e atravessamento de mídias que se instituem no âmbito das artes e do audiovisual contemporâneos. Assim como Agnés Varda, Jonas Mekas e Jean-Luc Godard (e dos ainda atuais, para sempre saudosos, Harum Farocki e Chantal Akerman), Forgács é um realizador que se concentra na exploração da natureza da imagem, na forma como ela pode ser enunciada, percebida e, ainda mais importante, forjada. Em anos recentes, o diretor também vem investindo na criação de instalações em espaços de galerias e museus. Em “Picturesque Epochs” esse deslizamento por diferentes áreas é ainda mais potencializado pelo uso da tela como superfície de montagem, tornada elemento narrativo ao se concentrar menos no teor dos arquivos do que na reconstituição das condições de visibilidade e legibilidade das imagens. Superfície de escrita, de experimentações de procedimentos de montagem, a tela é desprezada nos limites de espaço sobre o qual se contam as histórias e desdobrada em camadas pelo uso das mais variadas texturas e ferramentas: pinturas, fotografias antigas (por vezes rasgadas, amassadas, remontadas com fita adesiva), filmes de arquivo em 8mm, imagens de cinejornais da época, citações, referencias à literatura e poesia húngaras, documentos escritos à mão e gravações de rádio, bem como entrevistas recentes feitas em registros HD com Mária e József no estúdio de casa, revendo e comentando as imagens em arquivo. “Picturesque Epochs” combina arte, documentos de família, acontecimentos pontuais e viradas icônicas ao longo da extensa, e íntima, saga histórica de Mária Gánóczy.

Bibliografia

    BAKI, Péter & FORD, Colin (org). eyewitness: hungarian photography in the twentieth century. Londres: The Royal Academy of Arts, 2011.
    BLUMLINGER, Christa. Cinéma de seconde main: esthétique du remploi dans l’art du film et de nouveaux médias. Paris: Klincksieck, 2013.
    DIDI-HUBERMAN, Georges. Remontage du temps subi (l’oeil de l’histoire, 2). Paris: Les Éditions de Minuit, 2010.
    CHEVRIER, Jean-François. Jeff Wall. Paris: Éditions Hazan, 2013.
    ISER, W. O fictício e o imaginário. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2013.
    NICHOLS, Bill & RENOV, Michael (org). Cinema’s Alchemist: the films of Péter Forgács. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2011.
    RANCIÈRE, Jacques. Aisthesis: scénes du régime esthétique de l’art. Paris: Éditions Galilée, 2011.
    REBELLO, Patricia & SAMPAIO, Rafael (org). Péter Forgács: Arquitetura da Memória. catálogo. Rio de Janeiro: Centro Cultural Banco do Brasil, 2012.