Ficha do Proponente
Proponente
- Karine Joulie Martins (UFSC)
Minicurrículo
- Bacharel em Cinema pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Tem experiência nas áreas de direção, produção e edição. É produtora cultural e atua no desenvolvimento de projetos de formação de professores, além da realização de mostras e festivais de cinema voltados para infância, educação e direitos humanos. Atualmente é mestranda no Programa de Pós-Graduação em Educação da UFSC na linha de Educação e Comunicação, com foco de pesquisa nas aproximações entre cinema e escola.
Ficha do Trabalho
Título
- Câmera também é brinquedo: cinema na escola e culturas infantis
Seminário
- Cinema e educação
Resumo
- No ato do brincar, as crianças se apropriam dos objetos ao seu redor para criar mundos e viver neles as suas aventuras. Partindo da experiência de uma oficina de cinema na escola, esta comunicação é uma reflexão inicial sobre a apropriação que as crianças fazem da câmera e dos momentos de “fazer cinema” enquanto manifestação das suas culturas infantis.
Resumo expandido
- Esta comunicação é parte do projeto de pesquisa intitulado “Cinema na escola: uma experiência de caos e criação coletiva”, desenvolvido no PPGE/UFSC, que investiga a possível relação entre crianças/jovens e participação social na escola a partir de uma pesquisa-intervenção (CASTRO; BESSET, 2008) com oficinas de cinema. Participaram das oficinas crianças e jovens de duas escolas de comunidades Florianópolis/SC. A pesquisa-intervenção tem como objetivo, para além do diagnóstico, o diálogo com a realidade das escolas e a criação de espaços democráticos para os participantes. Pautados pela perspectiva da mídia-educação – que valoriza tanto o saber quanto fazer e refletir – foram realizados 12 encontros em cada escola durante o segundo semestre de 2016, nos quais havia a exibição e discussão de curtas-metragens, momentos de introdução à linguagem cinematográfica, seguidos da produção e socialização de um audiovisual.
O objetivo desta comunicação é uma reflexão inicial sobre os modos de apropriação da linguagem e a produção de imagens pelas crianças enquanto manifestação das culturas infantis. Para tanto, faremos um recorte do projeto citado, considerando o material de pesquisa (imagens, áudios, diário de campo, audiovisuais) de um grupo de 11 alunos (entre 8 e 11 anos) da Escola Básica Municipal José Jacinto Cardoso. Por questões estruturais, nessa escola os encontros ocorreram no intervalo entre o almoço e o deslocamento dos alunos para as atividades de contraturno escolar – um momento destinado ao brincar.
Quando a câmera “invadiu” o espaço da brincadeira das crianças ela não foi recebida como um objeto técnico “complexo”, mas como um brinquedo a ser partilhado e usado para recriar o seu mundo na escola. É o que pode ser visto nas imagens produzidas que exploram movimentos inusitados para acompanhar a dinâmica da brincadeira dos colegas, os enquadramentos muito fechados que aproximam os colegas ou o foco “que deixa bonito” (DIÁRIO DE CAMPO, 29/08/2016). A câmera passou também a servir de passe para que as crianças pudessem ter acesso a espaços da escola que geralmente lhes eram negados fora de um determinado horário, como os pomares de framboesas, por exemplo.
Nesta pesquisa, nos propomos a reconhecer as crianças enquanto atores sociais. Para Sarmento e Pinto (1997) isso significa que, para além de garantir o direito de participação, é preciso também valorizar suas culturas que se apresentam pela capacidade de produção simbólica, considerando suas representações, suas crenças e outras manifestações. É na brincadeira que essas culturas infantis são criadas e reproduzidas, sempre de acordo com a singularidade do contexto em que a criança está inserida. Nesse sentido, Benjamin (2009) nos ajuda a perceber que através da brincadeira as crianças se apropriam e ressignificam objetos e relações para subverter a ordem e criar novos universos. Quando as crianças pegam a câmera e a utilizam para negociar espaços e tempos na escola, elas estão desafiando uma ordem pautada numa hierarquização adulta que muitas vezes não faz sentido para elas.
O cinema é também um universo inventado no qual se encontram e se sobrepõem diferentes práticas sociais, por isso é considerado documento da história e patrimônio cultural da humanidade. As imagens do cinema nos permitem conhecer não apenas aquilo que é representado, como também o que pauta o olhar de quem produziu as imagens. Por exemplo, a imagem da infância difundida no cinema comercial – em sua maioria – é formulada a partir de uma condição ocidentalizada, branca e de classe média. E isso se estende às outras formas midiáticas. Numa sociedade cercada de imagens homogeneizadas, fazer o próprio filme, construir a própria representação não é apenas a reivindicação de autoria, mas um ato político e uma maneira das crianças deixarem sua marca na história.
Bibliografia
- BENJAMIN, W. Reflexões sobre a criança, o brinquedo e a educação. São Paulo: Editora 34, 2009. 2ª ed.
CASTRO, L. R.; BESSET, V. L. (orgs). Pesquisa-intervenção na infância e juventude. Rio de Janeiro: Trarepa/FAPERJ, 2008.
FANTIN, M. Mídia-Educação e Cinema na Escola. In: TEIAS: Rio de Janeiro, ano 8, nº 15-16, jan/dez 2007. p. 1-13.
FRESQUET, A. Cinema e educação: reflexões e experiências com professores e estudantes de educação básica, dentro e “fora” da escola. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2013.
KRAMER, S. A infância e sua singularidade. In.: BEUCHAMP, J., PAGEL, S. D., NASCIMENTO, A. R. (orgs). Ensino fundamental de nove anos : orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Básica, 2007.
MIGLIORIN, C. Inevitavelmente Cinema: educação, política e mafuá. Rio de Janeiro: Beco do Azougue, 2015.
PINTO, M.; SARMENTO, M.J.(coords.) As crianças: contextos e identidades. Braga: Universidade do Minho, 1997.