Ficha do Proponente
Proponente
- Luiz Antonio Mousinho (UFPB)
Minicurrículo
- Luiz Antonio Mousinho é professor Associado IV do Departamento de Comunicação e da Pós-graduação em Letras da Universidade Federal da Paraíba – DECOM e PPGL/ UFPB. Desenvolve pesquisa junto ao CNPq (PQ) sobre análise e recepção de ficção audiovisual. É autor de Uma escuridão em movimento – relações familiares em Clarice Lispector (1997) e A sombra que me move – ensaios sobre ficção e produção de sentido (cinema, literatura, TV) (2012) (EDUFPB/ Ideia).
Ficha do Trabalho
Título
- Robert Stam, leitor de A hora da estrela
Resumo
- Robert Stam, em seu A literatura através do cinema, ressalta que um dado importante para os eventos das adaptações é a relação do filme com o modernismo, aspecto que aprofunda ao ler a relação entre A hora da estrela e sua adaptação cinematográfica. Vamos acompanhar o debate de Stam, procurando suplementá-lo na abordagem crítica das duas obras. Dentre as categorias que pretendemos mobilizar na abordagem, destacamos o amparo teórico nas conceitos de dialogismo, narrador e personagem.
Resumo expandido
- Robert Stam, em seu A literatura através do cinema, ressalta que um dado importante para os eventos das adaptações é a relação do filme com o modernismo (2008, p.30). Lembrando a vastidão do conceito de realismo, o autor ressalta que o mesmo só vai se firmar com viés programático no século XIX, por oposição aos modelos romântico e neoclássico. Sabemos que o gesto modernista em cinema irá por vezes se contrapor à estética hollywoodiana, baseada no “ideal não somente de enredos convincentes, coerentes de causa e efeito, que giram em torno de ‘conflitos maiores’, mas também de personagens motivados e críveis” (STAM , 2008, p.20).
Como ressalta Stam, os “primórdios do cinema coincidem com o auge do projeto verístico, conforme sua expressão no romance realista, na peça naturalista”. Já o modernismo artístico “que floresceu nas primeira décadas do século XX (…) promoveu uma arte anti-realista, não representativa, caracterizada pela abstração, fragmentação e agressão”. Em contraponto, o cinema “herdou as aspirações miméticas do realismo literário do século XIX” (STAM, 2008, p.20). Observando esse contexto, João Batista de Brito ressalta a crise de representação generalizada das artes tradicionais nas primeira décadas do século XX e a situação do cinema que se firmava nesse contexto. Para o autor, ao invés de acompanhar as vanguardas que se apresentavam, o cinema “preferiu seguir o modelo convencional do romance do século anterior, centrado na estória com começo, meio e fim, e aspirando ser três coisas (…): ficcional, narrativo e representacional” (2005, p.8).
Indicando essa contraposição entre o realismo dominante e o modernismo, Robert Stam finca a discussão em solo histórico, mostrando que fora “dos limites ocidentais, o realismo raramente dominou; a reflexividade modernista como reação ao realismo, portanto, dificilmente conseguiria exercer o mesmo poder de escândalo e provocação”. (p.28). Ressaltando as linhagens realista, por um lado, e mágico-instrumental-paródica, por outro, inauguradas por Dom Quixote e Robinson Crusoé, Robert Stam indica as muitas adaptações e reescritas para esses dois romances e aponta Madame Bovary, como desencadeador de “romances que empregam narradores problemáticos e auto-desmistificadores”, citando entre eles A hora da estrela. (STAM, 2008, p.15).
Noutro capítulo específico de A literatura através do cinema, Stam aborda a adaptação de A hora da estrela para o cinema, indicando uma questão crítica recorrente no confronto com o texto literário, que é a exclusão da reflexividade e do narrador-personagem Rodrigo SM da obra fílmica e a relação dessa supressão com as tensões entre cinema narrativo e modernismo artístico. Embora defendendo as várias possibilidades e escolhas de reacentuação nos processos de adaptação, para além de pruridos sobre fidelidade em relação ao texto-fonte, Stam defende a tomada de posição estética nos estudos de adaptação.
Pensando a adaptação para o cinema da novela literária de Clarice Lispector, o autor rebate argumentação da cineasta Suzana Amaral sobre impossibilidade de incluir a metalinguagem na fatura fílmica, mostrando como filmes audaciosos e com esse viés foram bem recebidos no Brasil. Porém, ao mesmo tempo admite que comercialmente seria difícil atingir o público do cinema dominante. Ao mesmo tempo, tais supressões, no entender de Stam, amaciam tensões e deslocamentos do espectador, ratificando hierarquias de classe, aspecto a ser debatido em nossa comunicação, no ambiente das discussões das relações entre ficção e sociedade (AUMONT, 1995; CANDIDO, 2000).
Vamos acompanhar o debate teórico de Stam, procurando suplementá-lo na abordagem crítica das duas obras, acrescentando ao corpus a adaptação para a TV da novela literária de Lispector, dirigida por Jorge Furtado. Dentre os categorias que pretendemos mobilizar na abordagem, destacamos o amparo teórico nas conceitos de dialogismo, narrador e personagem, além da observação das relações ficção-sociedade.
Bibliografia
- AUMONT et. al. A estética do filme. Campinas: Papirus, 1995.
BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoievski. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982.
BRITO, João Batista de. Literatura e cinema: narrativas em conflito. São Paulo: Unimarco, 2005.
CANDIDO, Antonio. Crítica e sociologia. In: Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. São Paulo: T.A. Queiroz,; Publifolha, 2000. p.5-16.
GENETTE, G. O discurso da narrativa. Lisboa, Vega, s
STAM, R. Bakhtin – da teoria literária à cultura de massa. São Paulo: Ática, 2000.
STAM, Robert. A literatura através do cinema – Realismo, magia e a arte da adaptação. Trad. Marie-Anne Kremer e Gláucia Renate Gonçalves. Belo Horizonte: EDUFMG, 2008.
STAM, Robert. Teoria e prática da adaptação: da fidelidade à intertextualidade. In: CORSEUIL, A. R. (ed.). Ilha do desterro: Film Beyond Boundaries. Florianópolis, UFSC, nº 51, Jul/Dez 2006.