Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Eduardo Antonio de Jesus (UFMG)

Minicurrículo

    É Doutor em Artes pela ECA/USP, professor do Departamento de Comunicação Social da FAFICH-UFMG. Atuou em diversas edições do Videobrasil e entre suas curadorias estão FIF – Festival Internacional de Fotografia (Belo Horizonte, 2013, 2015 e 2017) e esses espaços (Belo Horizonte, 2010), entre outra Tem publicado textos em torno da produção artística contemporânea. Recentemente organizou o livro póstumo de Walter Zanini “Arte: vanguardas, desmaterializações, tecnologias (Martins Fontes – no prelo)

Ficha do Trabalho

Título

    Entre acumulação e passagem: imagem em movimento na arte contemporânea

Resumo

    Tomando referências históricas do cruzamento entre arte e imagem em movimento, o artigo analisa as formas do audiovisual que se movem entre cubo branco e caixa preta. Obras de Barbara Wagner, Leon Hirszman, Jonathas de Andrade, Grada Kilomba, Rosa Barba e o Video nas Aldeias apresentadas na 32ª Bienal de Arte de São Paulo nos mostram como a duração, as formas de exibição e o constante diálogo entre os espaços reconfigura dinamicamente o cinema e seus desdobramentos contemporâneos.

Resumo expandido

    A presença da imagem em movimento no circuito da arte contemporânea, não é uma novidade. Hoje em dia é quase ubíqua e apesar disso, ainda causa certa controvérsia sobretudo em relação à duração e aos modos de experimentar as obras. Existe uma dinâmica e um jogo entre a caixa preta, tradicional espaço para a exibição de filmes, e o cubo branco, forma mais sedimentada de constituição dos espaços expositivos para a arte. Essa forma, duramente criticada por Brian O´Doherty (A ideologia do cubo branco – a ideologia do espaço na arte), em uma série de ensaios publicados no meio da década de 1970, parece hoje se contrapor a outras espacialidades, ainda mais complexas, exigindo novas formulações críticas.

    Ao longo do tempo foram muitos os desenvolvimentos artísticos que reposicionaram e tensionaram o espaço expositivo. Obras de Marcel Duchamp como “1200 sacos de carvão” (1938), as ocupações de Kurt Schwitters, entre muitas outras obras e contribuições no contexto das vanguardas do início do século XX acabaram ativando outras potências do espaço expositivo. Posteriormente as instalações, performances e happenings abriram outras possibilidades trazendo o efêmero para o contexto expositivo da arte, que sempre privilegiou os tempos mais sedimentados típicos do museu, uma heterotopia de acumulação como apontou Foucault (“heterotopias nas quais o tempo não cessa de se acumular e de se encarapitar no cume de si mesmo”). O museu como o espaço que abriga obras prontas em exposições permanentes.

    A produção artística entre as décadas de 1950 e 1960 gradativamente se encaminhou para a desmaterialização do objeto artístico, que já estava em tensão com as aproximações, ao longo do tempo, da arte com a fotografia e o cinema. O surgimento da pop art, do minimalismo, da land art e da arte conceitual, entre outros movimentos, foi de perto acompanhado por um intenso diálogo, primeiramente, com o cinema e logo depois com a recém descoberta imagem eletrônica do vídeo. Junto com isso é inevitável pensar nos desenvolvimentos do cinema experimental, não apenas do contexto das vanguardas, mas também entre as décadas de 1940 e 1960 que criaram diversas formas transversais de diálogo com a arte e seus espaços de exposição.

    Já constituímos uma história das relações entre a arte e a imagem em movimento que atravessa a difícil e ainda pesada discussão em torno dos meios e suas especificidades. No domínio pós-mídia, como aponta Rosalind Krauss, as especificidades dos meios tem distintas formas de operação nas obras. Não se trata de um jogo de cartas marcadas, já que as especificidades dos meios e suas questões servem a distintas apropriações e construções. Obras como “Film” (2011) de Tacita Dean ou “The Clock” (2010) de Christian Marclay, entre outras, apontam para novas e ainda mais complexas relações entre os meios e suas especificidades. Todos esses gestos, processos e procedimentos se colocam hoje na produção artística contemporânea acionando outros modos de concepção e ocupação dos espaços expositivos, que passaram a abrigar distintas relações espaço-temporais. Museus, galerias e centros culturais tornaram-se um continuum entre as heterotopias de acumulação e as de passagem, redesenhando as relações entre efêmero e permanente, abrindo outras possibilidades de experimentar as obras.

    A questão que orienta o artigo toma as referências históricas do cruzamento entre as obras de arte e suas formas e estratégias de ocupar os espaços expositivos e a imagem em movimento fundada no dispositivo cinematográfico, para pensar as formas contemporâneas do audiovisual que parecem se mover em uma complexa escala de cinza entre o cubo branco e a caixa preta. Para tanto tomaremos um conjunto de obras apresentadas na 32ª Bienal de Arte de São Paulo (2016) para refletirmos como a duração, as formas de exibição e o constante diálogo entre os espaços reconfigura dinamicamente o cinema e seus desdobramentos contemporâneos.

Bibliografia

    BALSOM, Erika. Exhibiting cinema in contemporary art. Amsterdam: Amsterdam University Press, 2013.

    UROSKIE, Andrew V. Between the black box and the white cube – expanded cinema and postwar art. Chicago: The university of Chicago Press, 2014.

    FOUCAULT, Michel. Outros Espaços (1967). IN: FOUCAULT, Michel. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2006.

    REBOUÇAS, Julia e VOLZ, Jochen. 32ª Bienal de São Paulo: Incerteza Viva. Catálogo. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo, 2016.

    RAMOS, Fernão Pessoa. Mas afinal, o que sobrou do cinema? A querela dos dispositivos e o eterno retorno do fim. Galáxia (São Paulo) [online]. 2016, n.32.