Ficha do Proponente
Proponente
- Cristiane da Silveira Lima (UEM)
Minicurrículo
- Professora do curso de Comunicação e Multimeios da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Doutora pelo Programa de Pós-graduação em Comunicação Social da UFMG, com formação complementar em Música. Coordenadora do projeto CINUEM, vinculado à Diretoria de Cultura da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da UEM.
Ficha do Trabalho
Título
- O MÚSICO, A MÚSICA E A CENA: PERFORMANCES MUSICAIS DE JARDS MACALÉ
Seminário
- Teoria e Estética do Som no Audiovisual
Resumo
- Propomos refletir sobre as performances musicais do compositor Jards Macalé no cinema brasileiro, a partir da análise de fragmentos de filmes pinçados de diferentes contextos, formatos e estilísticas. Qual o papel que o corpo do músico exerce nessas obras? Como esse corpo se articula à música? Interessa-nos compreender como Jards se configura como um artista do cinema, não apenas pelas trilhas presentes em inúmeros filmes desde os anos 60 até hoje, mas também por sua participação em cena.
Resumo expandido
- Nos últimos anos, a vida e a obra do músico carioca Jards Macalé foram objetos do interesse de diferentes produções audiovisuais: é o caso dos documentários brasileiros Jards Macalé (Suely Rolnik, 2005) , Jards Macalé: um morcego na porta principal (Marco Abujamra e João Pimentel, 2008); Jards (Eryk Rocha, 2012); o curta O pato – a very short portrait of Jards Macalé (Vincent Moon e Clara Cavour, 2011) , uma realização francesa; além do curta ficcional Tira os óculos e recolhe o homem (André Sampaio, 2007). Conforme esclarece a pesquisadora Lia Duarte Mota (2013), o compositor ganhou novo espaço após um período de relativo “desaparecimento” da cena pública, tendo ressurgido nos últimos anos graças a shows, entrevistas, espetáculos – além dos filmes. Ela afirma: “Se os anos de 1970 são marcados por uma produção intensa, a década seguinte é um momento de apagamento, período em que o artista perdeu seu espaço no mercado e gravou apenas discos como intérprete. No entanto, sua produção artística não deve ser reduzida à produção fonográfica” (p.1).
Nesse sentido, podemos afirmar que Jards Macalé nunca esteve longe do cinema brasileiro. Uma rápida pesquisa na base de dados “Filmografia Brasileira”, disponível no site da Cinemateca Brasileira, nos aponta a existência de ao menos 38 obras em que o compositor figura na ficha técnica – incluindo aí documentários e ficções, curtas e longas-metragem, que vão desde os anos 60 até os dias atuais. Seja como compositor da trilha musical, seja como identidade/elenco. Como ator de ficção, podemos citar sua atuação como o cego e violeiro Firmino em O Amuleto de Ogum (1974) e como Pedro Archanjo, na adaptação de Jorge Amado para o cinema de Tenda dos Milagres (1977), ambos de Nelson Pereira dos Santos. Sua música integra a trilha musical de inúmeros filmes (incluindo obras de Glauber Rocha, Joaquim Pedro de Andrade, Antônio Carlos da Fontoura, Ana Carolina) e em outros tantos ele aparece em momentos específicos, como no documentário Bethânia bem de perto – a propósito de um show (Júlio Bressane e Eduardo Escorel, 1966) e no experimental O vampiro da cinemateca (Jairo Ferreira, 1977).
Em 2016, no Encontro Anual da SOCINE, apresentamos uma análise detida do filme de Eryk Rocha, que acompanha o processo de gravação do álbum homônimo do músico. Na ocasião, demos especial atenção à montagem e ao desenho de som do filme, para refletir sobre a música de Jards em cena neste documentário específico. No trabalho a ser apresentado em 2017, propomos ampliar nossa escala de abrangência e nos indagar como se dão as performances musicais deste compositor no cinema brasileiro, a partir da análise de fragmentos pinçados de diferentes contextos, formatos e estilísticas. Nosso recorte privilegiará filmes em que Jards Macalé é visto em cena, seja interpretando a si mesmo, seja em papeis ficcionais, preferencialmente tocando ou cantando. Qual o papel que o corpo do músico exerce nessas obras? Como esse corpo se articula à música?
Conforme explica Marcia Carvalho (2015) ao falar da história da canção no cinema brasileiro, nos anos 60-70, “a valorização dos artistas do rádio passava a ser substituída pela preocupação com as habilidades performáticas diante da câmera, colocando a imagem do artista, seus gestos, danças e postura cênica como centro das atenções na difusão da música popular massiva” (p.124). Jards afirmou em uma entrevista para um programa de TV: “só fiz personagem de mim mesmo, mesmo sendo outro” . Por esse motivo, buscaremos incluir na análise aspectos que tensionem essa relação documental/ficcional, e nos ajudem melhor a compreender a relação entre o músico, a música e a cena.
Bibliografia
- CARLSON. Marvin. Performance: uma introdução crítica. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.
CARVALHO, Márcia. A canção no cinema brasileiro. São Paulo, Alameda: 2015.
DINIZ, Sheyla Castro.Desbundados e marginais: a mpb “pós-tropicalista” no contexto dos anos de chumbo. XII BRASA – Congresso Internacional da Brazilian Studies Association. King’s College, Londres, Inglaterra, 20 a 23 de agosto de 2014. p.1-15.
MOTA, Lia Duarte. Jards Macalé em cena. XIII Congresso Internacional da ABRALIC. Campina Grande, PB. 08 a 12 de julho de 2013. p.1-7. Disponível em: http://www.editorarealize.com.br/revistas/abralicinternacional/trabalhos/Completo_Comunicacao_oral_idinscrito_1313_2b7426ce9a86f838cc714d9bddda1c36.pdf. Acesso em: 29/03/2017.
ZAN, José Roberto. Jards Macalé: desafinando coros em tempos sombrios. REVISTA USP, São Paulo, n.87, p. 156-171, setembro/novembro 2010.
ZUMTHOR, Paul. Performance, recepção, leitura. São Paulo: EDUC, 2000.