Ficha do Proponente
Proponente
- Caio Menezes Graça de Carvalho (PUC-SP)
Minicurrículo
- Caio Carvalho é mestrando em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e bolsista do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). É Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) desde 2013 e vem também desenvolvendo trabalhos cinematográficos, como Vontade (2013, diretor e roteirista) e Cockshot (2014, co-diretor, roteirista), tendo já participado de vários festivais brasileiros de cinema.
Ficha do Trabalho
Título
- O ideal órfico de Kubrick a partir da crítica de Godard a The Killing
Resumo
- A partir de uma crítica de J. L. Godard ao filme The Killing (O Grande Golpe, 1956) de S. Kubrick, o trabalho a ser submetido empenha-se em discutir o quanto o ímpeto por originalidade em Kubrick foi desenvolvido de forma a jamais impor-se caso a capacidade da arte em surpreender fosse sacrificada. Tendo como ponto de partida o modus operandi da crítica estilística, coloca-se em foco, assim, um jogo de posicionamentos diante das potencialidades de relação entre imagem e palavra no cinema.
Resumo expandido
- A originalidade é, a princípio, um termo curiosamente ambivalente. Relativo a uma atribuição de tudo aquilo que é “original”, tal vocábulo evoca duas linhas de atuação perante a história: independência e tradicionalidade. Independência enquanto unicidade, exclusividade, e, contraditoriamente (e em maior sintonia com a própria raiz da palavra), tradicionalidade, legado, por remetimento ao conceito de fonte – e, portanto, ao de vínculo e de procedência. Contudo, como nos argumenta o crítico cinematográfico Michel Ciment (2013), este paradoxo é perfeitamente diluível em um posterior momento de análise. Qualquer pretensão de independência, de unicidade, pressupõe (ou, ao menos, deveria pressupor) o reconhecimento de uma tradição (ou das tradições), da “evolução das formas”, como o próprio autor define (ibidem, p. 51). “Para afirmar sua diferença, é importante ter consciência histórica, sentir-se ligado ao passado. Pintores, escritores e músicos já experimentaram isso há muito tempo” (idem, ibidem). Dessa forma, qualquer pretensão de novidade, na arte, não pode ser ingênua – sob o risco de acusação de inocência culposa ou, pior, dolosa, como pessoalmente gosto de definir. Essa “falta de ingenuidade” traduzida enquanto consciência histórica é, sem dúvida, uma das características da arte moderna – e o cinema, ainda segundo o crítico acima (ibidem), levou tempo para atingir este estágio de consciência. E Ciment completa: talvez o exemplo mais notável desta perda da “inocência cinematográfica” tenha sido Jean-Luc Godard – justamente aquele que, desde sempre, encarando o cinema como Eurídice, postou-se como Orfeu (1) , a seguir seu rumo sem deixar de olhar para trás com pesar. Um pesar que se traduziria como: “o que de potencial o cinema ainda pode nos oferecer?” Esta motivação artística, de um crítico que se fez diretor, assumindo-se como um autor de cinema de depois do cinema (MOTTA, 2015, p. 169), já se faz identificável desde seu ofício no Cahiers du Cinéma, como nos evidencia uma pequena resenha de autoria dele ao longa-metragem The Kiling (O Grande Golpe, 1956), de Stanley Kubrick, filme cujo roteiro baseou-se numa obra literária. Diante dessa crítica – que coloca nas entrelinhas questões relativas à relação palavra/ imagem dentro da linguagem cinematográfica –, o trabalho a ser submetido para o XXI ENCONTRO SOCINE se empenhará em discorrer sobre como a “consciência órfica” em Kubrick procurou desenvolver uma dialética entre duas rebeldias: uma contrária à novidade (transgressão artística) gratuita e outra contra a satisfação dos expectadores em reconhecer imediatamente a “assinatura” do artista. Esta rebeldia contra a novidade gratuita, a ir em frente sem abandonar o passado e ainda sim sem sacrificar a potencial capacidade da arte em surpreender, será discutida do ponto de vista do embate entre as diferentes tomadas de posicionamento de Kubrick e Godard perante o uso da palavra no cinema.
(1) Essa relação metafórica entre Orfeu e o diretor-autor (que faz seu caminho ainda que olhando para trás) foi posta em declaração pelo próprio Godard ao falar sobre Alfred Hitchcock, no ano do falecimento deste, em uma entrevista (MOTTA, 2015, p. 169).
Bibliografia
- CIMENT, Michel. Conversas com Kubrick. Tradução: Eloísa Araújo Ribeiro. São Paulo: Cosac Naify, 2013.
ECO, Umberto. A definição de arte. Tradução de Eliana Aguiar. 1º ed. – Rio de Janeiro: Record, 2016.
GANZ, Adam. ‘Leaping broken narration’: Ballads, Oral Storytelling and the Cinema. In: KHATIB, Lina (org.). Storytelling in World Cinemas, Volume 1: Forms. Columbia University Press, 2012.
GODARD, Jean-Luc. Un bon devoir. Fevereiro, 1958. CAHIERS DU CINÉMA. Paris: Editions de l’Etoile. No. 80.
HALLIWELL, Leslie. Halliwell’s Filmgoer’s and Video Viewer’s Companion. 9th edition. New York: Harper & Row, 1988.
MACHADO, Arlindo. O sujeito na tela: modos de enunciação no cinema e no ciberespaço. São Paulo: Paulus, 2007.
MOTTA, Leda Tenório da. Barthes em Godard. São Paulo: Iluminuras, 2015, 1º edição.
TRUFFAUT, François. Hitchcock/Truffaut. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.