Ficha do Proponente
Proponente
- Lia Bahia (UFF)
Minicurrículo
- Doutoranda e mestre em Comunicação Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF). Publicou o livro “Discursos, políticas e ações: processos de industrialização do campo cinematográfico brasileiro”. Atualmente é professora da ESPM RJ e coordenadora geral do audiovisual da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro.
Ficha do Trabalho
Título
- Uma política de formação possível: estudo de caso do Programa Elipse
Resumo
- O Programa Elipse, da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro, tem por objetivo fomentar a formação do jovem e a produção audiovisual universitária. Esta comunicação irá investigar os desdobramentos do programa e pensar o mesmo dentro da lacuna de políticas públicas voltadas para a formação e educação audiovisual no Brasil. O Elipse evidencia a potência de novas formas de se fazer e pensar programas na esfera pública, tendo a formação e educação audiovisual como eixos estruturantes.
Resumo expandido
- O foco prioritário na dimensão industrial do cinema orienta as políticas públicas e garante investimento em produção e distribuição de filmes e programas de televisão de empresas já estabelecidas no mercado. A ausência de políticas públicas voltadas para a formação e educação audiovisual é um gargalo histórico.
Observando a lacuna da política pública e a potencia do audiovisual, a Secretária de Estado de Cultura do Rio de Janeiro (SEC) elaborou um programa voltado para a formação e desenvolvimento de jovens e a produção de curtas universitários. A SEC, em parceria com a Fundação Cesgranrio, lançou em 2015 e 2016 um programa de formação destinado aos jovens universitários do estado do Rio de Janeiro. Uma opção de política pública que foge aos cânones industriais do cinema e busca um novo olhar de política pública e para o espaço audiovisual.
O Elipse tem como objetivo estreitar os laços entre as políticas públicas e a universidade e tem como consequência o fomento à realização de curta universitário. Desta forma os “cabeças de equipe” do curta devem ser universitários, assim como precisam, obrigatoriamente, ter um professor da universidade para supervisionar o projeto e que ficam com responsabilidade de escrever um pequeno texto para constar no catálogo.
Acredito que esta aliança – políticas públicas para o audiovisual e a universidade – possa apontar outras experiências éticas e estéticas, uma vez que a universidade é o espaço e o tempo em que a produção audiovisual pode acontecer de forma livre e arriscada. Onde o fazer e o pensar audiovisual torna-se um dispositivo de resistência aos aprisionamentos do confortável e adequado.
Na primeira edição, recebemos 100 inscrições e na segunda 120 projetos (a segunda edição ainda está em andamento). Para além do fomento de R$ 12.500 para os curtas selecionados, fizemos uma sessão aberta e gratuita de exibição no Cinema Odeon com os 12 contemplados em formato DCP. A sessão no Odeon durou mais de três horas de duração e teve um público de mais de 800 espectadores. Após a sessão houve um evento de premiação, fruto da parceria, que fechamos com o Canal Brasil que fez a aquisição dos três premiados.
O objetivo do Programa Elipse é investir em formação audiovisual, valorizando o espaço universitário como potência de pesquisa e transformação. Por isso, realizar uma exibição pública gratuita em uma sala de cinema, mostrar a possibilidade de aquisição por um canal de televisão, publicar um catálogo são tão importantes quanto o recurso para o fomento. Assim, no Elipse construímos um programa, ao optar por pensar de forma orgânica e circular; e não apenas mais um edital de fomento à produção .
Os filmes produzidos estão circulando em festivais nacionais e internacionais de diferentes perfis. A contribuição destes curtas-metragens vai além do espaço universitário, segue em direção à transformação da poética das imagens e da cultura política do audiovisual brasileiro contemporâneo.
O Programa Elipse não é o único que aponta para novos caminhos, ao colocar a educação e formação como protagonistas dentro do campo das políticas públicas. Estou longe de acreditar que o Programa Elipse dá conta da complexidade da formação e educação audiovisual no estado do Rio de Janeiro. Sei das limitações do Programa. E a principal para mim é de alcance (e quem está fora da universidade?). Fizemos uma opção política naquele momento. Porque fazer política pública é também fazer escolhas a partir de diagnósticos.
Parece fundamental que as ações de políticas públicas para a educação e formação audiovisual não sejam pontuais e isoladas, mas que sejam estruturais nas políticas nacionais, estaduais e municipais. Isso demanda uma revisão histórica sobre o pensar e fazer audiovisual no Brasil que envolve pesquisa, política pública e mercado.
Bibliografia
- BAHIA, L. Discursos, Políticas e ações: processos de industrialização do campo cinematográfico brasileiro. São Paulo: Itaú Cultural : Iluminuras, 2012.
CANCLINI, N.G. América Latina: mercados, audiências e valores num mundo globalizado. Conferência da 4º Cúpula Mundial de Mídia para Crianças e Adolescentes. Rio de Janeiro: Multirio, 2004.
CINEOP. Carta CINEOP in http://www.cineop.com.br/
SECRETARIA E ESTADO DE CULTURA. Catálogo Elipse, Rio de Janeiro, 2016.
MIGLIORIN, Cezar. Cinema e escola, sob o risco da democracia in http://www.fe.ufrj.br/artigos/n9/9_posfacio_cinema_e_escola_104_a_110.pdf
RANCIÈRE, Jacques. O espectador emancipado. Trad. José Miranda Justo. Lisboa: Orfeu Negro, 2010.