Ficha do Proponente
Proponente
- Mariana Arruda Carneiro da Cunha (UFRN)
Minicurrículo
- Mariana Cunha é pesquisadora de pós-doutorado PNPD/Capes, vinculada ao Programa de Pós-Graduação em Estudos da Mídia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. É PhD em cinema (2010) e mestre em estudos críticos e culturais (2004) pela Birkbeck, University of London. É co-organizadora do livro “Space and Subjectivity in Contemporary Brazilian Cinema” (2017) pela Palgrave Macmillan.
Ficha do Trabalho
Título
- Paisagem, natureza e imanência em Post Tenebras Lux de Carlos Reygadas
Resumo
- Esta comunicação examina as formas de enquadramento da natureza e das figuras humanas na construção de paisagens fílmicas e afetivas em Post Tenebras Lux (2012) de Carlos Reygadas. O filme insere em sua narrativa várias cenas em espaços desconexos que desorganizam a continuidade lógica da narrativa. Com essa estratégia, Reygadas enfatiza o quadro como o lugar das emoções e dos afetos e como elemento que conecta natureza, humanos e animais, revelando o caráter imanente e corporal do filme.
Resumo expandido
- Carlos Reygadas é conhecido por dirigir filmes que exploram questões emocionais complexas através de uma série de recursos estéticos, como a duração prolongada dos planos-sequência, a atenção excessiva à mise-en-scène, a obsessão pela materialidade do filme. Post Tenebras Lux (2012) é o quarto longa-metragem do realizador mexicano, que retrata uma série de momentos na vida de uma família de classe média. O enredo é intercalado por sequências desconexas que desorganizam a linearidade temporal e a continuidade lógica do filme, enquanto a narrativa principal chega ao ápice numa tentativa de assassinato de Juan, o protagonista, durante um assalto, o que leva à decadência da família até sua. Filmado em torno da casa da família cercada de florestas, a construção espacial do filme se volta para os espaços naturais e para o mundo fenomenológico e sensorial, que espelha a ruína do casamento dos protagonistas. Ao intercalar espaços desconexos ‒ para usar a terminologia de Gilles Deleuze em O que é o ato de criação ‒ entre os espaços narrativos, Reygadas destaca o quadro como lugar da performatividade de estados emocionais e do surgimento de afetos.
Esta comunicação examina as estratégias usadas na construção do espaço fílmico como elemento que congrega natureza, paisagem, animais e humanos, revelando, assim, múltiplas subjetividades e criando um cinema da imanência. Em outras palavras, argumenta-se que Post Tenebras Lux põe em cena uma comunhão e uma presença imanente dos corpos, rostos, objetos e ambientes que transformam os quadros em imagens abertas (Chaudhuri e Finn, 2003), criando uma dimensão corporal e sensorial no filme. Com base nas discussões teóricas acerca do cinema sensorial (Barker, 2009; Marks, 2000; Margulies, 2003), de natureza e animalidade (Pick, 2011; Pick e Narraway, 2013; Berger, 2009), de espaços desconexos e imanência (Deleuze, 1987; Deleuze e Guattari, 1987), busca-se analisar a construção espacial das paisagens e o enquadramento dos corpos (humanos e animais). Considera-se que Reygadas ancora seu filme em conflitos sociais, mas privilegia o enquadramento afetivo de situações que são desdramatizadas, a fim de revelar a presença e a materialidade dos personagens, dos espaços e dos objetos.
Bibliografia
- Barker, Jennifer. The Tactile Eye: Touch and the Cinematic Experience. Berkeley: University of California Press, 2009.
Berger, John. Why Look at Animals. In: About Looking. Londres: Vintage, 1992.
Deleuze, Gilles; Guattari, Félix. Mil Platôs: Capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: Editora 34, 1997. v. IV.
Deleuze, Gilles. O ato da criação. Especial para a “Trafic”, tradução de José Marcos Macedo, publicado na Folha de S. Paulo de 27/06/1999.
Margulies, Ivone. Rites of Realism: Essays on Corporeal Cinema. Durham e Londres: Duke University Press, 2002.
Marks, Laura U. Touch: Sensuous Theory and Multisensuous Media. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2002.
Pick, Anat; Narraway, Guinevere (Eds). Screening Nature: Cinema Beyond the Human. Nova York e Oxford: Berghahn Books, 2013.
Pick, Anat. Creaturely Poetics: Animality and Vulnerability in Literature and Film. Nova York: Columbia University Press, 2011.