Ficha do Proponente
Proponente
- Josette maria alves de souza monzani (UFSCar)
Minicurrículo
- Profa. do Bacharelado e do PPG em Imagem e Som da UFSCar, SP. Possui livros e artigos publicados sobre processos de criação e de recriação/ transcriação cinematográficas .
Ficha do Trabalho
Título
- Latino Bar (1991) de Paul Leduc: o grito dos marginalizados
Resumo
- Essa comunicação abordará uma leitura de Santa (1903), romance popular de Federico Gamboa, realizada por Paul Leduc em Latino Bar (1991). Irá se tratar dos recursos empregados por Leduc, tais como a ausência de diálogos, a ênfase na performance e a recorrência à música, para transformar, ou, transcriar cinematograficamente o melodrama naturalista em uma parábola de fundo político crítico que passa a retratar não apenas a sociedade mexicana mas a apontar as condições de vida dos excluídos atual
Resumo expandido
- Esse trabalho buscará analisar os procedimentos empregados pelo cineasta mexicano Paul Leduc na transcriação do melodrama naturalista de Federico Gamboa, Santa (1903), romance que se tornou bastante popular no México ao retratar pela primeira vez, na qualidade de protagonista, os reveses da vida da prostituta de nome Santa. Leduc transforma costumes mexicanos do final do século XIX no retrato de descendentes de africanos e de indígenas marginalizados em toda a América Latina. A parábola de fundo político é construída por Leduc a partir da eliminação dos diálogos – a ostentar o silêncio daqueles que não tem voz na sociedade -, e a ênfase visual (iluminação e movimentos de câmera, em especial) nas performances dos corpos que lutam, amam, dançam, repousam embalados pelas canções e pela teatralidade dos poucos cenários presentes, elementos que expressam a revolta e traduzem os gritos daquele grupo social que gira em torno do bar Latino. Porém, o que leva adensa a questão dos recursos escolhidos por Leduc é a discussão das formas performáticas sem voz, e com densidade musical e espacial, consideradas enquanto efeitos sensoriais produzidos no receptor, efeitos não apenas de ordem semântica (o que ocorria no caso do romance), mas que permitem atravessar as palavras, pelo viés do corporal, e levar o espectador à experiência poética. Nas palavras de Zumthor (abordando casos como esse) “trata [se] de uma acumulação de conhecimentos que são da ordem da sensação e que, por motivos quaisquer, não afloram no nível da racionalidade, mas constituem um fundo de saber sobre o qual o resto se constrói” [91]. O diretor pinça virtualidades do romance (a fúria repentina da protagonista é uma delas) e com elas cria seu processo de mostração, ou de concretização da narrativa também exacerbado pelo posicionamento da câmera e os cortes secos que levam ainda a certa atemporalidade presente na diegese. A operação criativa de informar (sensorialmente) e assim atingir e transformar o receptor – nomeada aqui como manifesto poético político de Leduc – é o que se pretende enfim abordar.
Bibliografia
- CAMPOS, Haroldo de. Transcriação. TÁPIA, M. e NÓBREGA, Thelma M. (ORG.). São Paulo: Perspectiva, 2013.
GREINER, Christine e BIÃO, Armindo. Etnocenologia. Textos selecionados. São Paulo: Annablume, 1999.
OLIVEIRA JR., Antonio Wellington (ORG.). O corpo implicado. Leituras sobre corpo e performance na contemporaneidade. Fortaleza: Expressão, 2011.
ORLANDI, Eni P. As formas do silêncio. No movimento dos sentidos. Campinas, SP: Editora da Unicamp, 1995.
XAVIER, Ismail. O olhar e a cena. São Paulo: CosacNaify, 2003.
ZUMTHOR, Paul. Performance. Recepção. Leitura. Trad: Jerusa P. Ferreira e Suely Fenerich. São Paulo: EDUC, 2000.