Ficha do Proponente
Proponente
- Alisson Gutemberg (UFRN)
Minicurrículo
- Doutorando em Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2016); mestre em Comunicação e Culturas Midiáticas pela Universidade Federal da Paraíba (2014 – 2016) e graduado em Comunicação Social / Jornalismo pela Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (2008 – 2012).
Ficha do Trabalho
Título
- A metrópole latino-americana no cinema contemporâneo
Seminário
- Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais
Resumo
- Analisaremos imagens de quatro metrópoles, a saber: São Paulo, Caracas, Cidade do México e Cidade do Panamá, através dos filmes: Linha de Passe, Pelo Malo, Amores Brutos e Sequestro a Domicílio. O intuito é compreender de que maneira essas cidades aparecem imbricadas e como formam uma paisagem simbólica ininterrupta e um único ambiente imaginário, a cinecidade. Um espaço composto por desigualdade social, desemprego e violência.
Resumo expandido
- Busca-se estudar imagens de metrópoles latino-americanas no cinema contemporâneo, através de filmes produzidos nos três continentes que compõem esse espaço. O intuito é elucidar de que forma as representações dessas metrópoles chegam a formar uma paisagem simbólica e um único ambiente imaginário: a cinecidade. A ideia de cinecidade nasce da compreensão da imagem fílmica como universo filtrado (MORIN, 1997) e do diálogo entre algumas abordagens: cidades contínuas (CALVINO, 1990), cidade imaginária (PRYSTHON, 2006) e cidade cinemática (COSTA, 2002; 2005). De Prysthon, a contribuição é a concepção da cidade imaginária como um mosaico construído a partir das imagens de postais que identificam os espaços. Por sua vez, de Costa, o aspecto crucial é a ideia de que a cidade cinemática é a interpretação midiática de um recorte urbano, construída a partir de uma correlação entre dois espaços – o fílmico e o real. Por fim, de Calvino, a contribuição principal é a noção de que as crises urbanas formam cidades contínuas. Em Lêonia, por exemplo, há a questão do lixo. Dessa forma, a noção de cinecidade é a de um espaço simbólico simultaneamente fílmico, real e imaginário, socialmente representativo pela produção de um sentido cultural próprio e comum para as cidades tematizadas. Ela nasce da concepção de que a cidade cinematográfica é a interpretação de um espaço real com implicações sobre esse espaço. Todavia, é uma interpretação que espetaculariza a realidade. No caso do cinema aqui estudado, essa espetacularização tematiza as grandes metrópoles por meio de um imaginário hiper-realista (COSTA, 2005), que domina a representação da cidade pela abordagem da catástrofe e da violência. Nesse sentido, o espaço real concreto aparece tão contaminado pelo imaginário como o imaginário se erige a partir das experiências oriundas do real concreto. Por meio da nossa noção de cinecidade, buscamos postular que o compartilhamento de imagens de metrópoles em crise, formulando uma atmosfera distópica, interliga diferentes espaços urbanos concretos e fílmicos num continuum conceptivo, tal como o faz a imbricação dos termos cine e cidade. Nesse sentido, as imagens de Londres (Invasão a Londres) e Nova Iorque (Nova York Sitiada), por exemplo, formam uma cinecidade, pois compartilham aspectos como a ameaça terrorista. A hipótese que pretendemos construir é que São Paulo, Caracas, Cidade do México e Cidade do Panamá também formam uma cinecidade, todavia, por questões distintas das estabelecidas para Londres e Nova Iorque. O que interliga os espaços latinos similarmente é a ambientação da metrópole em uma atmosfera de crise por sua própria dinamicidade interna, onde a hiper-realidade cria um panorama distópico, construído por elementos como violência urbana, desigualdade social e desemprego. Diferindo da Inglaterra e dos EUA, os países latinos não sofrem a ameaça terrorista, mas possuem uma herança de dependência econômica, cultural e política, que tem aprofundado as disparidades sociais ao longo dos séculos e ganhado novos contornos com a globalização e com o aprofundamento das políticas neoliberais (MARICATO, 2007). Essa similaridade, representada de maneira específica como um recorte determinado da realidade concreta pela linguagem do cinema, é a base da constituição dessas metrópoles como uma cinecidade. É importante destacar que a ideia de cinecidade não pretende apagar as particularidades dos espaços representados. Nos filmes, as singularidades são percebidas por aspectos diversos – idiomas, sotaques, monumentos, etc. Ainda assim, há uma representação da metrópole como vício (SCHORSKE, 2000) interligando os espaços citados. Também é importante ressaltar que a nossa hipótese não é a de que todos os filmes contemporâneos, que se passam nessas localidades, têm debatido os mesmos temas e apresentado sempre uma cidade dionisíaca (PAIVA, 2010), mas sim, a presunção de que uma parcela significativa de obras tem interpretado a cidade a partir desse recorte.
Bibliografia
- CALVINO, Í. As Cidades Invisíveis. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
COSTA, M H B e V da. Espaço, tempo e a cidade cinemática. Rio de Janeiro: Espaço e Cultura, Jan/Jun, 2002.
_________________________________. O cinema, a cidade a questão pós-moderna. In: Anais do Simpósio Nacional sobre Geografia, Percepção e Cognição. Londrina, 2005.
MARICATO, E. Globalização e política urbana na periferia do capitalismo. In: RIBEIRO, L C de Q; SANTOS JÚNIOR, O A. As metrópoles e a questão social brasileira. Rio de Janeiro: Revan, 2007
MORIN, E. O cinema ou o homem imaginário. Lisboa: Relógio D´água, 1997.
PAIVA, C C de. Dionísio na Idade Mídia: estética e sociedade na ficção televisiva seriada. João Pessoa: UFPB, 2010.
PRYSTHON, Â. Representações urbanas no cinema latino-americano contemporâneo. São Paulo: XXIX Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, 2006.
SCHORSKE, C. Pensando com a história: indagações na passagem para o modernismo. São Paulo: Companhia das Letras, 2000.