Ficha do Proponente
Proponente
- Mariarosaria Fabris (USP)
Minicurrículo
- Doutora em Artes (Cinema) pela ECA/USP e docente aposentada da FFLCH/USP. Pesquisadora junto à Università degli Studi di Napoli e, em nível de pós-doutoramento, na Università di Roma – Tor Vergata. É autora de “Nelson Pereira dos Santos: um olhar neo-realista?” (1994), “O neo-realismo cinematográfico italiano: uma leitura” (1996) e de inúmeros textos publicados em periódicos e publicações coletivas no Brasil e no exterior.
Ficha do Trabalho
Título
- “Pasolini”, um Pasolini
Mesa
- Pasolini em três tempos
Resumo
- Willem Dafoe declarou estar representando “não ‘o’ Pasolini mas ‘um’ Pasolini”, ao interpretá-lo no filme de Abel Ferrara, colocando em evidência as várias leituras possíveis de um personagem famoso. Uma afirmação em consonância com as intenções do diretor ao recriar os últimos dias do polêmico intelectual. Uma recriação, de um lado, colada nos momentos finais de Pasolini; de outro, baseada em licenças poéticas, pois Ferrara tenta dar conta também de dois projetos inacabados de seu biografado.
Resumo expandido
- Em entrevista à publicação lusa “Ípsilon”, Willem Dafoe declarou que estava representando “não ‘o’ Pasolini mas ‘um’ Pasolini”, ao interpretar o papel do escritor e cineasta italiano no filme de Abel Ferrara (2014), colocando assim em evidência a questão das várias leituras possíveis de um personagem público. Uma afirmação em consonância com as intenções do diretor ao recriar os últimos dias do polêmico intelectual. Uma recriação, de um lado, colada nos acontecimentos daqueles momentos finais de Pasolini – dentre os quais, a entrevista a Philippe Bouvard sobre “Saló ou os 120 dias de Sodoma”, no programa “Dix de Der” de Antenne 2, em 31 de outubro; o convívio com familiares e amigos; o bate-papo com Furio Colombo, na tarde de 1 de novembro, seis horas e trinta e cinco minutos antes de ser assassinado, que deu origem a dois artigos, “Oggi sono in molti a credere che c’è bisogno di uccidere” (“Stampa sera”, 3 de novembro de 1975) e “Pasolini: Siamo tutti in pericolo” (“Tuttolibri, 8 de novembro de 1975); a saída noturna –; de outro, baseada em licenças poéticas, uma vez que Ferrara tentou também dar conta de dois projetos inacabados de seu biografado, que não o ocuparam necessariamente naqueles dias: o romance “Petrolio”, elaborado a partir de 1972, e a provável realização do filme “Porno-Teo-Kolossal”, concebida já em 1966 e retomada entre 1973 e 1974. O diretor norte-americano visualizou alguns trechos do livro publicado póstumo em 1992 e rodou algumas das sequências do roteiro deixado de lado pelo autor para priorizar a realização de seu último longa-metragem. Entre acertos e soluções dúbias, Ferrara realizou não “um filme sobre Pasolini, mas um filme para Pasolini”, como arrisca Vasco Câmara na citada revista portuguesa. O resultado foi um “filme de fã”, que não conseguiu furtar-se à hagiografia em relação à figura de Pasolini, bastante comum depois de sua morte, uma obra sem “escândalo”, sem polêmica nem contradições, uma realização pouco pasoliniana.
Bibliografia
- CÂMARA, Vasco. O Pasolini de Abel Ferrara não tem escândalo. “Ípsilon”, Lisboa, dez. 2014, p. 8-9; COLOMBO, Furio. “Oggi sono in molti a credere che c’è bisogno di uccidere”. “Stampa Sera”, Turim, 3 nov. 1975; ___. Pasolini: “Siamo tutti in pericolo”. “Tuttolibri”, Turim, ano 1, n. 2, 8 nov. 1975; JOUBERT-LAURENCIN, Hervé. Présentation de Porno-Teo-Kolossal. “Cahiers du Cinéma”, Paris, jul.-ago. 2013, p. 90-91; MOURINHO, Jorge. Um actor em busca do factor humano: Willem Dafoe. “Ípsilon”, cit., p. 4-7; NALDINI, Nico. Cronologia. In: PASOLINI, Pier Paolo. “Per il cinema”. Milano: Mondadori, 2001, p. XLVII-CXIV; PASOLINI, Pier Paolo. Appendice a Porno-Teo-Kolossal e Porno-Teo-Kolossal. In: “Per il cinema”, cit., p. 2755-2760, 2695-2753; ___. “Petrolio”. Turim: Einaudi, 1992; SITI, Walter; ZABAGLI, Franco. Appendice a Porno-Teo-Kolossal e Porno-Teo-Kolossal (1967-1975). In: PASOLINI, Pier Paolo. “Per il cinema”, cit., p. 3233-3234, 3230-3232.