Ficha do Proponente
Proponente
- Davi Pessoa Carneiro Barbosa (UERJ)
Minicurrículo
- Davi Pessoa Carneiro é professor adjunto de literatura italiana na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). É autor de Terceira Margem: Testemunha, Tradução (Editora da Casa, 2008). Atua também como tradutor de literatura e filosofia italiana. Traduziu Nudez, O tempo que resta, Meios sem fim, do filósofo Giorgio Agamben (Autêntica), Uma gozação bem sucedida (Carambaia, 2017), de Italo Svevo. Atualmente está traduzindo o livro póstumo Petróleo, de Pier Paolo Pasolini (Editora 34).
Ficha do Trabalho
Título
- Em busca do retorno do mútuo: as retratações de Pasolini
Mesa
- Pasolini em três tempos
Resumo
- A comunicação tem por objetivo ler a contrapelo o documentário “Os muros de Saná” (1969), de Pier Paolo Pasolini, a partir da noção de montagem, retratação, “appunti”, como método de desvio colocado em prática por Pasolini, para repotencializar certos aspectos de suas ações contra as anarquias do Poder, o qual produz genocídios culturais e mutações antropológicas nas sociedades.
Resumo expandido
- Em 1969, em Nova Iorque, Pasolini é entrevistado por Giuseppe Cardillo, e este pede para que Pier Paolo “descreva seu mundo”. O entrevistado, assim, começa fazendo referência ao seu ensaio “Observações sobre o plano sequência”, no qual estabelece um confronto entre “semiologia do cinema” e “semiologia da realidade”, e nessa relação Pasolini constata que a realidade não é como se apresenta aos nossos olhos, visto que ela é um plano sequência infinito, e que o cinema é, portanto, uma filmadora ideal diante desse plano sequência, ou ainda, o cinema é hipotético, impossível, plano sequência infinito, como infinita é a realidade diante de nossos olhos. Por isso, a montagem tem um papel fundamental na obra de Pasolini, e não apenas cinematográfica. A montagem, além disso, traz uma relação muito íntima com a morte, pois para Pasolini não nos manifestaríamos se fôssemos imortais. Desse modo, Pasolini não pode “descrever seu mundo”, ou a totalidade de seu mundo, mas, ao contrário, monta fragmentos. Numa entrevista com Jon Halliday, em 1968, Pasolini diz: “Em primeiro lugar, gostaria de dizer que minha natureza de pasticheur (pasticheur por paixão, isto é, não por cálculo) se constata no cinema como em outras formas expressivas”. Assim, Pasolini, a partir de uma série de montagens, de cortes da linha infinita da realidade, entra em contato com o mais distante pela observação incansável do mais próximo, por exemplo, ao filmar “Il Decameron”, ao traduzir alguns textos teatrais de Sófocles e de Plauto, bem como quando reescreve alguns cantos do “Inferno”, de Dante Alighieri, sempre com o intuito de ler as marcas do passado no presente. Assim, poderíamos pensar o método por desvio de Pasolini como procedimento que busca sabotar a máquina de destruição posta em prática pelos totalitarismos do Poder? Ao contrário do estatuto de completude temos, ao longo de toda sua obra múltipla, uma constante “retratação”, ao modo de Santo Agostinho, isto é, o de tratar algo de novo. A partir dessa reflexão, nosso objetivo é discutir o documentário “Os muros de Saná”, produzido entre 1969 e 1970, o qual retrata uma série de outros textos em que Pasolini traz uma discussão sobre as mutações antropológicas em vigência em várias partes do mundo.
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio. Il fuoco e il racconto. Roma: Nottetempo, 2014.
PASOLINI, Pier Paolo. Pasolini su Pasolini: conversazioni con Jon Halliday. Parma, Guanda, 2013.
. Pasolini su Pasolini: conversazioni con Jon Halliday. Parma: Guanda, 2014.
. Empirismo eretico. Milano: Garzanti, 1991.
. Pasolini rilegge Pasolini; intervista con Giuseppe Cardillo. A cura di Luigi Fontanella. Milano: Archinto, 2005.