Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Afonso Manoel da Silva Barbosa (UFPB)

Minicurrículo

    Graduado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal da Paraíba. Doutorando em Letras, na área Literatura, Cultura e Tradução, também na UFPB. Participa do Grupo de Pesquisa sobre Ficção e Produção de Sentido, orientado pelo professor Dr. Luiz Antonio Mousinho, que tem por objetivo a análise, interpretação e discussão de textos audiovisuais em correlação com seu contexto social e de produção.

Ficha do Trabalho

Título

    Autorreferencialidades em Saneamento básico: o espectador confabulado

Resumo

    Este trabalho pretende analisar dados autorreferenciais do filme Saneamento básico, de Jorge Furtado, observando a obra em sua porção metalinguística e assinalando sua predisposição em desvelar o discurso ficcional (STAM, 1981) ao utilizar-se da representação de uma comunidade interiorana (ROSENFELD, 2004) em seu primeiro contato com a realização cinematográfica. O estudo buscar observar a relação do filme com a recepção (STAM; SHOHAT, 2005), sobretudo em sua porção ficcionalmente representada.

Resumo expandido

    Este trabalho pretende analisar dados do longa-metragem Saneamento básico, o filme, de Jorge Furtado, com especial atenção às autorreferencialidades construídas em torno de algumas propostas da obra que se projetam no intuito de desvelar a posição do espectador na trama. Dentre os investimentos narrativos e metalinguísticos que devemos investigar, partiremos para o estudo de trechos do filme que se desdobram a partir das preocupações dos personagens quanto às reações potenciais do público em relação a um vídeo de curta-metragem que eles têm que produzir na tentativa de angariar fundos para resolver o problema de esgotamento sanitário da comunidade.
    Para o desenvolvimento da discussão, nos apoiaremos em obras como O espetáculo interrompido, de Robert Stam, com o propósito de pensarmos os mecanismos de metalinguagem e os desdobrarmos do debate acerca do desvelamento ficcional. Já para a observação de certos dos padrões de ficcionalidade, a obra A anatomia da crítica, de Northrop Frye, deve nos auxiliar para essa via de mão dupla na análise das categorias narrativas como personagem e enredo, pensadas e debatidas, diegeticamente, por Marina (Fernanda Torres) e seus amigos de produção.
    O referencial teórico passa também por autores como David Bordwell e seus estudos sobre certos arquétipos de parte da cinematografia hollywoodiana em O cinema clássico hollywoodiano: normas e princípios narrativos. Além disso, nosso trabalho busca discutir as relações entre ficção e o contexto social a partir do livro Literatura e sociedade, de Antonio Candido, que debate ainda a construção do personagem, juntamente como Anatol Rosenfeld, Décio de Almeida Prado e Paulo Emílio Salles Gomes na obra A personagem de ficção. Ainda abriremos espaço para o texto Teoria do cinema e espectatorialidade na era dos “pós”, de Robert Stam e Ella Shohat, na tentativa de averiguar noções da recepção num contexto de análise em que se observa a heterogeneidade dos interlocutores.
    Personagens como Joaquim (Wagner Moura) e Seu Otaviano (Paulo José) – marido e pai de Marina, respectivamente – também merecem destaque neste estudo pelo fato de cada um, respondendo a uma caracterização específica, estabelecer ligações temáticas e semânticas com a recepção. Interessa-nos verificar como Seu Otaviano representa, metonimicamente, num primeiro momento, o espectador pirrônico que, aos poucos, vai aderindo à ideia, inicialmente inusitada para ele, de os moradores fazerem um filme de ficção e, com o dinheiro do advindo do edital para produções audiovisuais, dar conta do saneamento de Linha Cristal.
    Quanto a Joaquim, é preciso investigar como o personagem nos sugere a discussão sobre elementos de verossimilhança, especialmente, a partir dos comentários, dúvidas e sugestões que ele faz para Marina e que acabam ressignificando a posição do espectador e deslocando a noção de público/recepção dos personagens no filme. Como dado a ser examinado, é importante assinalar que, no caso de Saneamento, a estrutura do filme aponta para a ideia do indivíduo que, até então, se restringe a ser público, sem pretensões artísticas, e, em seguida, se torna mola propulsora do dispositivo estético. Logo, é válido discutir como esse mesmo sujeito passa a encarar o público como uma entidade, às vezes amorfa, às vezes dotada de especificidade, mas de uma maneira mais complexa do que a impressão inicial lhe permitia enxergar.

Bibliografia

    BORDWELL, David. O cinema clássico hollywoodiano: normas e princípios narrativos. Trad. Fernando Mascarello. In: PESSOA RAMOS, Fernão (Org.). Teoria contemporânea do cinema, Volume II. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005.

    CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história literária. São Paulo: Nacional, 1980.

    FRYE, Northrop. Anatomia da crítica. Trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Cultrix, 1973.

    ROSENFELD, Anatol. Literatura e personagem. In: CANDIDO, Antonio (Org.). A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2004.

    STAM, Robert. O espetáculo interrompido: literatura e cinema de desmistificação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

    STAM, Robert; SHOHAT, Ella. Teoria do cinema e espectatorialidade na era dos “pós”. In RAMOS, Fernão Pessoa. Teoria contemporânea do cinema, v. 1: “Pós-estruturalismo e filosofia analítica”. São Paulo: Editora Senac, 2005.