Ficha do Proponente
Proponente
- Afonso Manoel da Silva Barbosa (UFPB)
Minicurrículo
- Graduado em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo, pela Universidade Federal da Paraíba. Doutorando em Letras, na área Literatura, Cultura e Tradução, também na UFPB. Participa do Grupo de Pesquisa sobre Ficção e Produção de Sentido, orientado pelo professor Dr. Luiz Antonio Mousinho, que tem por objetivo a análise, interpretação e discussão de textos audiovisuais em correlação com seu contexto social e de produção.
Ficha do Trabalho
Título
- Autorreferencialidades em Saneamento básico: o espectador confabulado
Resumo
- Este trabalho pretende analisar dados autorreferenciais do filme Saneamento básico, de Jorge Furtado, observando a obra em sua porção metalinguística e assinalando sua predisposição em desvelar o discurso ficcional (STAM, 1981) ao utilizar-se da representação de uma comunidade interiorana (ROSENFELD, 2004) em seu primeiro contato com a realização cinematográfica. O estudo buscar observar a relação do filme com a recepção (STAM; SHOHAT, 2005), sobretudo em sua porção ficcionalmente representada.
Resumo expandido
- Este trabalho pretende analisar dados do longa-metragem Saneamento básico, o filme, de Jorge Furtado, com especial atenção às autorreferencialidades construídas em torno de algumas propostas da obra que se projetam no intuito de desvelar a posição do espectador na trama. Dentre os investimentos narrativos e metalinguísticos que devemos investigar, partiremos para o estudo de trechos do filme que se desdobram a partir das preocupações dos personagens quanto às reações potenciais do público em relação a um vídeo de curta-metragem que eles têm que produzir na tentativa de angariar fundos para resolver o problema de esgotamento sanitário da comunidade.
Para o desenvolvimento da discussão, nos apoiaremos em obras como O espetáculo interrompido, de Robert Stam, com o propósito de pensarmos os mecanismos de metalinguagem e os desdobrarmos do debate acerca do desvelamento ficcional. Já para a observação de certos dos padrões de ficcionalidade, a obra A anatomia da crítica, de Northrop Frye, deve nos auxiliar para essa via de mão dupla na análise das categorias narrativas como personagem e enredo, pensadas e debatidas, diegeticamente, por Marina (Fernanda Torres) e seus amigos de produção.
O referencial teórico passa também por autores como David Bordwell e seus estudos sobre certos arquétipos de parte da cinematografia hollywoodiana em O cinema clássico hollywoodiano: normas e princípios narrativos. Além disso, nosso trabalho busca discutir as relações entre ficção e o contexto social a partir do livro Literatura e sociedade, de Antonio Candido, que debate ainda a construção do personagem, juntamente como Anatol Rosenfeld, Décio de Almeida Prado e Paulo Emílio Salles Gomes na obra A personagem de ficção. Ainda abriremos espaço para o texto Teoria do cinema e espectatorialidade na era dos “pós”, de Robert Stam e Ella Shohat, na tentativa de averiguar noções da recepção num contexto de análise em que se observa a heterogeneidade dos interlocutores.
Personagens como Joaquim (Wagner Moura) e Seu Otaviano (Paulo José) – marido e pai de Marina, respectivamente – também merecem destaque neste estudo pelo fato de cada um, respondendo a uma caracterização específica, estabelecer ligações temáticas e semânticas com a recepção. Interessa-nos verificar como Seu Otaviano representa, metonimicamente, num primeiro momento, o espectador pirrônico que, aos poucos, vai aderindo à ideia, inicialmente inusitada para ele, de os moradores fazerem um filme de ficção e, com o dinheiro do advindo do edital para produções audiovisuais, dar conta do saneamento de Linha Cristal.
Quanto a Joaquim, é preciso investigar como o personagem nos sugere a discussão sobre elementos de verossimilhança, especialmente, a partir dos comentários, dúvidas e sugestões que ele faz para Marina e que acabam ressignificando a posição do espectador e deslocando a noção de público/recepção dos personagens no filme. Como dado a ser examinado, é importante assinalar que, no caso de Saneamento, a estrutura do filme aponta para a ideia do indivíduo que, até então, se restringe a ser público, sem pretensões artísticas, e, em seguida, se torna mola propulsora do dispositivo estético. Logo, é válido discutir como esse mesmo sujeito passa a encarar o público como uma entidade, às vezes amorfa, às vezes dotada de especificidade, mas de uma maneira mais complexa do que a impressão inicial lhe permitia enxergar.
Bibliografia
- BORDWELL, David. O cinema clássico hollywoodiano: normas e princípios narrativos. Trad. Fernando Mascarello. In: PESSOA RAMOS, Fernão (Org.). Teoria contemporânea do cinema, Volume II. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005.
CANDIDO, Antonio. Literatura e Sociedade: estudos de teoria e história literária. São Paulo: Nacional, 1980.
FRYE, Northrop. Anatomia da crítica. Trad. Péricles Eugênio da Silva Ramos. São Paulo: Cultrix, 1973.
ROSENFELD, Anatol. Literatura e personagem. In: CANDIDO, Antonio (Org.). A personagem de ficção. São Paulo: Perspectiva, 2004.
STAM, Robert. O espetáculo interrompido: literatura e cinema de desmistificação. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.
STAM, Robert; SHOHAT, Ella. Teoria do cinema e espectatorialidade na era dos “pós”. In RAMOS, Fernão Pessoa. Teoria contemporânea do cinema, v. 1: “Pós-estruturalismo e filosofia analítica”. São Paulo: Editora Senac, 2005.