Ficha do Proponente
Proponente
- Alessandra Souza Melett Brum (UFJF)
Minicurrículo
- Alessandra Brum é professora do curso de Cinema e Audiovisual e do Programa de Pós- Graduação em Artes, Cultura e Linguagens e do Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Juiz de Fora/MG. Autora do livro Hiroshima mon amour e a recepção da crítica no Brasil (Annablume, 2014). Atualmente coordena a pesquisa “Minas é cinema – Parte 2”, financiada pela Fapemig, um projeto do grupo de pesquisa CPCine: História, Estética e Narrativas em Cinema e Audiovisual.
Ficha do Trabalho
Título
- O Cinema Brasileiro em Carnets Brésiliens de Pierre Karst.
Resumo
- Este artigo tem por objetivo analisar a sequência dedicada ao Cinema Brasileiro no documentário L’Amazonie, Belem, Manaus, le Nordeste, le cinéma brésilien do cineasta francês Pierre Kast. Trata-se de uma das séries que compõem Carnets Brésiliens composta por quatro partes produzida para a Televisão pública Francesa exibidas entre janeiro e março de 1968.
Resumo expandido
- Carnets Brésiliens é uma série sobre o Brasil realizada pelo cineasta Pierre Kast em 1966 para a Televisão Pública Francesa – Office de Radiodiffusion Television Française (ORTF). A série foi dividida em quatro partes e exibidas na televisão francesa entre janeiro e março de 1968. Elas foram assim intituladas: Rio de Janeiro (54min) exibido em 14 de janeiro; L’architecture baroque des Minas Geraies, Brasilia, São Paulo (57min) exibido em 28 de janeiro; Bahia (59min) exibido em 11 de fevereiro; L’Amazonie, Belem, Manaus, le Nordeste, le cinéma brésilien (59min) exibido em 3 de março de 1968. Nessa comunicação nos propomos a analisar o trecho referente ao Cinema Brasileiro contido neste último episódio exibido na TV Francesa.
Em L’Amazonie, Belem, Manaus, le Nordeste, le cinéma brésilien (59min), Kast inicia o documentário por Belém do Pará, segue para Manaus com escala em Santarém. Em seguida viaja a Macapá, onde segue para Santarém no Nordeste. O Nordeste serve de pretexto para introduzir o Cinema Brasileiro. Já no Rio de Janeiro, realiza entrevistas com vários cineastas, entre eles Nelson Pereira dos Santos, Glauber Rocha, Luís Sérgio Person, Paulo César Sarraceni, Joaquim Pedro de Andrade, Ruy Guerra e Walter Hugo Khouri. Finaliza o documentário com uma apresentação musical de Sidney Miller, Luli, Edu Lobo e Nara Leão.
Pierre Kast é crítico, ensaísta, cineasta e escritor francês. Militante político, com papel importante na resistência francesa, aderindo ao Partido Comunista onde atuou como secretário nacional dos estudantes. Em 1945, Kast conhece Henri Langlois que o chama para ser seu colaborador junto à Cinemateca Francesa.
Apesar de iniciar sua carreira como cineasta antes do surgimento da Nouvelle Vague, Pierre Kast costuma ter seu nome associado ao movimento francês por ter sido crítico e conselheiro da Cahiers du Cinéma e ter realizado o longa-metragem Le Bel Âge no ano de 1959. Le Bel Âge engrossa a lista de filmes dos críticos da revista, ao lado de Claude Chabrol, François Truffault, Jean-Luc Godard dando origem ao movimento da Nouvelle Vague em 1959.
Em 1966, Pierre Kast vem ao Brasil com objetivo de filmar em cor Carnets Brésiliéns para a TV Francesa. Segundo Glauber Rocha em carta ao produtor francês Claude-Antoine, Pierre Kast teria disponível um orçamento 25 mil dólares por episódio (BENTES, p. 320). Em 1966 quando o documentário foi produzido e sobretudo em 1968 quando a série foi exibida na França, as imagens do Brasil já haviam ganhado às telas de cinema na França através dos filmes do Cinema Novo. Os cineastas brasileiros, sobretudo o grupo do Cinema Novo, já começavam a frequentar as páginas das principais revistas especializadas em cinema na França. Pierre Kast, como crítico e cineasta, acompanhou o surgimento do Cinema Novo e estabeleceu uma relação de amizade com muitos dos cineastas brasileiros.
Pierre Kast, em sua série, parece querer ampliar o olhar dos franceses sobre o Brasil e do cinema produzido por aqui. Diz ele em entrevista ao Jornal do Brasil: “pretendo mostrar aos europeus que aqui no Brasil também existe cultura, também existem intelectuais, no bom sentido. Assim quero filmar vários cineastas, artistas, jornalistas da nova safra, que estão formando uma elite cultural com características brasileiras” (JORNAL DO BRASIL, 12/3/1966).
Nessa comunicação, procuramos traçar algumas considerações sobre o trecho dedicado ao Cinema Brasileiro no documentário de Pierre Kast, apontando para as suas escolhas, referências e recortes temáticos, tendo em perspectiva as relações de sociabilidade, aqui entendida como: “a capacidade humana de estabelecer redes, através das quais as unidades de atividades, individuais ou coletivas, fazem circular as informações que exprimem seus interesses, gostos, paixões, opiniões…”. (BEACHLER, 1995: 65-66).
Bibliografia
- AMANCIO, Tunico. O Brasil dos Gringos. Imagens no Cinema. Niterói: Intertexto, 2000.
BACQUE, Antoine de. Les Cahiers du Cinéma. Histoire d’une revue. Tome I: À l’assaut du cinéma 1951-1959. Paris: Editions Cahiers du Cinéma, 1991.
BEACHLER, Jean. Grupos e Sociabilidade. In: BOUDON, Raymond (org.) Tratado de Sociologia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1995, p. 65-106.
BENTES, Ivana (org.). Cartas ao Mundo, 1939-1981. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
CARNETS Brésiliens. Direção: Pierre Kast. Produção: CECRT, Neyrac-films Paris, Thomas Farkas, Claude Antoine. Paris/São Paulo: ORTF, 1968, cor, 03h50.
SIMMEL, Georg. Questões fundamentais da sociologia. Rio de Janeiro: Zahar, 2006.
JORNAL DO BRASIL. Pierre Kast filma o Brasil para mostrar a franceses uma cultura que floresce. Rio de Janeiro,12 de março de 1966.