Trabalhos Aprovados 2017

Ficha do Proponente

Proponente

    Túlio Cunha Rossi (UFF)

Minicurrículo

    Professor de métodos em pesquisa sociológica na Universidade Federal Fluminense, UFF – Campos; Professor colaborador do Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da UFMA; Doutor em sociologia pela Universidade de São Paulo – USP e mestre em sociologia pela UFMG. Atua nas áreas de sociologia da imagem, gênero, emoções, mídias e métodos de pesquisa sociológica.

Ficha do Trabalho

Título

    Cinema, sociedade e emoções: revisitando o amor hollywoodiano

Seminário

    Cinema e Ciências Sociais: diálogos e aportes metodológicos

Resumo

    Este texto revisita resultados de minha pesquisa de doutorado, publicada em 2015: Uma Sociologia do amor romântico no cinema: Hollywood – anos 1990 – 2000. À luz de novas reflexões, busca-se sublinhar a importância da mídia cinematográfica na construção e manutenção de modos socialmente legitimados de experimentar e comunicar emoções. Para tanto, parte-se das observações da tese focando no amor romântico como apresentado pelo cinema hollywoodiano, ressaltando suas especificidades narrativas.

Resumo expandido

    Este texto revisita resultados de minha pesquisa de doutorado realizada no período de 2009 a 2013 e publicada em 2015 sob o título: Uma Sociologia do amor romântico no cinema: Hollywood – anos 1990 – 2000 (ROSSI, 2015). Em relação à discussão desenvolvida anteriormente, é aprofundada a temática de gênero no sentido de apontar como a construção de referenciais de normas comportamentais a respeito da afetividade e dos sentimentos são, em seus aspectos mais básicos, formuladas a partir de diferenciações primárias de gênero, assumidas como naturais. Para tanto, promovem-se diálogos entre a tese e estudos de gênero focados na construção de imagens do feminino. Mais especificamente, questiona-se, em profundidade, a construção social de referenciais para a vida amorosa e a participação do cinema hollywoodiano na difusão de discursos, imagens e modelos de realização pessoal.
    A pesquisa teve como principal objeto de análise prescrições, modelos e ideais de amor romântico presentes em filmes hollywoodianos, enquanto construções sociais e históricas, entendendo que o cinema de grande público teria, ao longo do século XX até hoje, contribuído de forma significativa com essas construções. Seguindo a metodologia de análise sociológica de filmes de Pierre Sorlin (1982), foram estudadas cinco produções: Uma linda mulher (Pretty Woman, 1990); Sintonia de amor (Sleepless in Seattle, 1993); Titanic (1997); Closer (2004); O amor não tira férias (The Holiday, 2006). Observaram-se construções recorrentes do “amor ideal” sobrevalorizando não apenas seu aspecto imaginário, mas, principalmente, sua relação metalinguística e citacional com imaginários próprios do cinema hollywoodiano. Concordando que “A vida afetiva […] é ao mesmo tempo imaginária e prática” (Morin, 1972, p.12), debateu-se como este cinema contribui para constituir modelos específicos de realização amorosa, enquanto parte de um referencial de posturas e valores específicas em relação às emoções.
    Além de estudos em sociologia do cinema, mobilizaram-se referências importantes em sociologia das emoções (Shields, Cancian, Solomon et al.) e outras que também problematizaram mais especificamente amor e romantismo (Beck, Beck-Gernsheim; Campbell; Chaumier et al.). Adotou-se uma abordagem compreensiva do amor enquanto “significação”, enfatizando seu caráter de atribuir sentido específico a sentimentos, experiências e relações íntimas e, a partir disso constituir expectativas e projetos de vida correspondentes conforme normas culturais de relacionamento referentes a como, o quê e por quem sentir.
    Nesse sentido, a presente comunicação se debruça mais especificamente em duas questões: a primeira, referente a como estudos relacionados à afetividade nas ciências sociais ainda tendem a análises prioritariamente feministas e/ou queer, revelando, mesmo na academia, uma leitura gendrada sobre emoções que, nem sempre oportunamente, é diluída na militância, afastando-se de qualquer proposta metodológica de sistematização e questionamento reflexivo das análises. A segunda, mais associada ao estado contemporâneo do trânsito de imagens a partir de mídias digitais conectadas à rede mundial de computadores pelos mais variados dispositivos que, não somente promove relações diferenciadas com imagens cinematográficas para as novas gerações, como também oferece um aporte para a incorporação de referências fílmicas (seja fotogramas, excertos, citações) como parte da linguagem e expressão de usuários de redes sociais.
    Por fim, propõe-se uma reflexão sobre a relevância das mídias audiovisuais contemporâneas – com destaque para o cinema e suas conexões com outras mídias, especialmente as digitais – na socialização de valores, crenças e posturas relacionados às emoções. Intenta-se, assim, lançar luz sobre desdobramentos teóricos e analíticos, bem como aportes metodológicos para leituras sociológicas da constituição de emoções nas sociedades contemporâneas a partir de suas imagens e de sua repercussão no cinema.

Bibliografia

    BECK, Ulrich & Elisabeth. The normal chaos of love. Cambridge: Polity, 2002
    CAMPBELL, Collin. A ética romântica e o espírito do consumismo moderno. Rio de Janeiro: Rocco, 2001.
    CANCIAN, Francesca M. & GORDON, Steven L. Changing Emotion Norms in Marriage. Gender & Society, v.2, n. 3, pp. 308-342, set. 1988.
    CHAUMIER, Serge. La déliaison amoureuse. Paris: Armand Colin, 1999.
    MORIN, Edgar. As estrelas: Mito e Sedução no Cinema. Rio de Janeiro: José Olympio, 1972
    ROSSI, Túlio. Uma sociologia do amor romântico no cinema: Hollywood, 1990-2000. São Paulo: Alameda, 2015.
    SHIELDS, Stephanie A. Speaking from the heart: Gender and the Social Meaning of Emotion. Cambridge: University Press. 2002.
    SOLOMON, Robert. About love – reinventing romance for our times. Lanham: Rowman & Littlefield, 1994.
    SORLIN, Pierre. Sociologie du cinéma. Paris: Aubier Montaigne, 1982