Ficha do Proponente
Proponente
- Maria Alzuguir Gutierrez (USP)
Minicurrículo
- Maria Alzuguir Gutierrez é professora e pesquisadora de cinema. Mestre em letras e doutora em cinema pela USP, atualmente desenvolve, na mesma universidade, pesquisa de pós-doutorado sobre a incorporação das ideias de Brecht no cinema da América Latina. Coordenou a organização da edição brasileira do Festival Latinoamericano de la Clase Obrera (2006) e organizou os cursos Literatura e história no cinema latino-americano (2011) e Vertentes do cinema cubano (2012) no Memorial da América Latina.
Ficha do Trabalho
Título
- García-Espinosa, leitor de Brecht
Seminário
- Cinema e América Latina: debates estético-historiográficos e culturais
Resumo
- Nesta comunicação, vamos nos aprofundar nos diálogos que García-Espinosa estabeleceu com Brecht, tanto em seus ensaios teóricos como em sua obra fílmica. Ao fazê-lo, vamos refletir sobre as possibilidades da transposição da teoria do teatro épico – ou dialético, como teria preferido Brecht – para o cinema e para a América Latina.
Resumo expandido
- Confundida com uma defesa da imperfeição técnica, a ideia de “cine imperfecto” foi retomada pelo cineasta cubano Julio García-Espinosa uma a outra vez: o “cine imperfecto” é o cinema interessado, que só poderá superar esta condição na medida em que o homem seja livre, liberando também a arte da instrumentalização. Trata-se, ainda, de ultrapassar a divisão do trabalho: a busca é por um cinema que possa ser criado por todos, deixando para trás a separação autor/espectador. Só assim a arte poderá deixar de ser uma esfera autônoma em relação às outras atividades da vida. Segundo García-Espinosa, a aventura do cinema cubano após a revolução sempre foi uma busca pelo fim da dicotomia pensamento/diversão, e a tentativa de realizar um “cine popular”. Na proposta de superar a dicotomia pensamento/diversão e a separação autor/espectador, pode-se enxergar claramente a referência de Brecht. No entanto, há nas ideias de García-Espinosa uma contradição, pois se a utopia final é que a arte possa ser desinteressada, isto significa que ela recuperaria sua autonomia. Nesta utopia do desinteresse, García-Espinosa se afasta de Brecht: pois o alemão via a necessidade de uma revolução permanente, a revolucionar o revolucionado, e fazia a defesa do pensamento e da arte como intervenção, como práxis. Assim, a arte nunca poderia chegar a ser “desinteressada”. Nesta comunicação, vamos nos aprofundar nos diálogos que García-Espinosa estabeleceu com Brecht, tanto em seus ensaios teóricos como em sua obra fílmica. Em Son o no son… há um diálogo explícito com Brecht na voz over de um diretor que reflete sobre como fazer um filme musical em Cuba. Qual a função da arte? Como gerar reflexão se o público vai ao cinema para “desconectar-se”? Em Aventuras de Juan Quinquin não há menção explícita mas a incorporação das ideias de Brecht se faz patente na estratégia de partir dos condicionamentos do público para criticar o cinema “culinário” a partir de dentro. Em La inútil muerte de mi socio Manolo acompanhamos o encontro de dois velhos amigos, relação agônica iluminada no palco de um teatro. Ao nos aprofundar nos diálogos de García-Espinosa com Brecht, vamos refletir sobre as possibilidades da transposição da teoria do teatro épico – ou dialético, como teria preferido Brecht – para o cinema e para a América Latina.
Bibliografia
- BRECHT, B. El compromiso en literatura y arte. Barcelona: Ediciones Península, 1973.
GARCÍA-Espinosa, J. Un largo camino hacia la luz. La Habana: Casa de las Américas, 2002.
GILES, S. Bertolt Brecht and Critical Theory – Marxism, Modernity and the Threepenny Lawsuit. Bern: Lang, 1998.
MUELLER, R. Brecht and the Theory of Media. Lincoln/London: University of Nebraska Press, 1989.