Ficha do Proponente
Proponente
- Adriano Carvalho Araújo e Sousa (MACKENZIE-SP)
Minicurrículo
- Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, é autor de Poética de Júlio Bressane: Cinema(s) da Transcriação (EDUC / FAPESP: 2015) em que discute a filmografia do cineasta tomando como embasamento teórico o conceito elaborado por Haroldo de Campos. Atualmente, desenvolve pesquisa de pós-doutorado sobre Fausto no cinema e na animação, no Programa de Educação, Arte e História da Cultura do Mackenzie-SP.
Ficha do Trabalho
Título
- O Homem Sem Sombra: Um Pacto Demoníaco do Conto para a Animação
Resumo
- A partir do conto A História Maravilhosa de Peter Schlemihl de Adelbert Von Chamisso, analiso a animação L’Homme sans ombre, realizada por Georges Schwizgebel (2004) segundo o processo de tradução de uma linguagem para outra. Discuto a perda da sombra como imagem arquetípica do pacto demoníaco, que leva o animador a realizar um trabalho particular com as cores e assim problematizar diálogos entre o cinema e a pintura.
Resumo expandido
- L’Homme sans ombre é considerado como uma tradução no sentido de tentar recriar as principais questões de um correlato fáustico, o conto de Adelbert Von Chamisso. Para traduzi-lo, procura trazer “propriedades sonoras [e] de imagética visual” (CAMPOS, 1992), ou seja, os elementos que fazem a complexidade do conto que lhe dá origem, para além do entrecho.
No conto, Peter Schlemihl conhece o homem em traje cinza, este lhe oferece a bolsa de Fortunatus, bolsa que contém dinheiro inextinguível, em troca de sua sombra. O protagonista logo descobre as desvantagens dessa privação e, após recusar uma oferta do mesmo homem enigmático para reaver a sombra em troca de sua alma, passa a vagar pelo mundo em busca de paz de espírito: travessia de quem carrega consigo, a exemplo do Judeu Errante, citado no conto de Chamisso (1992, p. 17), a maldição através dos tempos, em uma reverberação de Ahasverus (PIRES FERREIRA: 2000).
Do ponto de vista da linguagem, Schwizgebel dialoga com a pintura. O conto é uma narrativa tenebrosa, de uma “oposição brusca, quase patológica, entre a delicadeza silfídica dessa parte da produção de Chamisso e, pelo outro lado, uma busca verdadeira por temas violentos, até mesmo macabros” (MANN: 2003, p. 141-142).
A animação se insere nesse “tecido fáustico […] que funciona à maneira de hipertexto […] criando articulações” (PIRES FERREIRA, 2010, p. 313) com um trabalho com as cores que não segue a ordem natural do conto, o “Homem de cinza”, aquele que oferece a bolsa de Fortunatus, aparece em trajes vermelhos, por exemplo. Cinzenta é a vida do próprio protagonista, na escolha de Schwizgebel. Partindo do princípio de que se trata de uma versão voltada para o público jovem, proponho pensar uma mobilização do espectador que se dá através da palheta do animador, seu trabalho de fusão das imagens em um teatro de sombras.
Bibliografia
- CAMPOS, Haroldo de. Metalinguagem e Outras Metas. 4ed. São Paulo: Perspectiva, 1992.
CHAMISSO, Adelbert Von. L’Étrange histoire de Peter Schlemihl. Paris: Folio, 1992.
______. A História Maravilhosa de Peter Schlemihl. 2 ed. Posfácio de Thomas Mann. São Paulo: Estação Liberdade, 2003.
FRENZEL, Elizabeth. Diccionario de Argumentos de Literatura. Madrid: Gredos, 1976.
JUNG, Carl Gustav. Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo. 7ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2011.
PIRES FERREIRA, Jerusa. Fausto no Horizonte. São Paulo: Hucitec / Educ, 1996.
______. Fausto no Horizonte Latino-americano. In: GALLE, Helmut; MAZZARI, Marcus (orgs.). Fausto e a América Latina. São Paulo: Humanitas / Fapesp, 2010.
______. O Judeu Errante: A Materialidade da Lenda. Olhar, a. 2, n. 3, jun. 2000.