Ficha do Proponente
Proponente
- Geisa Rodrigues (UFF)
Minicurrículo
- Geisa Rodrigues é Graduada em Comunicação Social pela UFES, Mestre em Comunicação e Imagem pela UFF e doutora pela PUC-Rio. Professora Adjunta do Departamento de Comunicação Social da UFF, publicou, além de diversos artigos, capítulos e ensaios, o livro As múltiplas faces de Madame Satã: Estéticas e políticas do Corpo, pela EDUFF, em 2013.
Ficha do Trabalho
Título
- Subjetividades femininas negras em devir em Kbela, de Yasmin Thainá
Seminário
- Cinema Queer e Feminista
Resumo
- Partindo da perspectiva da teórica feminista Rosi Braidotti, em sua abordagem da diferença sexual como prática política e da potência do nomadismo de corpo (inspirada no pensamento Deleuziano), o curta Kbela, de Yasmin Thainá, 2015, será analisado, com o objetivo de desvendar estratégias políticas contemporâneas produtivas de empoderamento de mulheres negras.
Resumo expandido
- Dentre as teorias feministas contemporâneas pós-estruturalistas, destaca-se o trabalho de Rosi Braidotti, ao propor uma perspectiva de abordagem da diferença sexual como prática política. Esta perspectiva permite um olhar sobre atos de resistência que conjugam as diferenças componentes dos próprios sujeitos do feminismo, como no caso das estratégias de ¬¬empoderamento de mulheres negras. Buscando desvendar movimentos de resistência produtivos na contemporaneidade, esta comunicação se debruça sobre o curta Kbela, de Yasmin Thainá, 2015. Propõe-se aqui uma reflexão sobre a combinação entre questões raciais e de gênero no filme por meio de uma abordagem experimental, capaz de promover desvios em identidades engessadas . Inspirada no pensamento Deleuziano, Rosi Braidotti aponta o nomadismo como uma forma eficaz de resistência na contemporaneidade. Para além da concepção espacial e geográfica do termo, o nomadismo a que se refere é um tipo de consciência crítica que resiste a uma normatização, a lugares estabelecidos e formas fixas de comportamento. O sujeito nômade é visto como uma forma de resistência aos microfascismos a que somos submetidos, na lógica atual de poder. Apesar das ressalvas da autora a certos entraves na concepção Deleuziana , principalmente no que tange ao reconhecimento da incidência da diferença sexual e à historicidade do gênero, a releitura crítica que a autora promove permite uma aproximação entre a filosofia em Deleuze e a filosofia feminista contemporânea. Em particular ao proclamar a potência de experiências estéticas capazes de abandonar categorias de representação, promover rupturas de formas discursivas canônicas e produzir novos formatos de inserção do desejo, por meio de um nomadismo de corpo. Tal potência é o que se revela em Kbela, na medida em que implode identidades fixas e submissas atribuídas ao corpo da mulher negra, inserido numa montagem pulsante de performances. Convém observar que a violência a que são submetidos os corpos negros no filme se explicita sem que se faça uso da representação direta de atos violentos, mas revelando a violência em hábitos cotidianos, rotineiros, que se enraízam no dia a dia e no discurso. O cabelo surge como símbolo e vítima maior do impacto do racismo e ao mesmo tempo da imposição de traços e hábitos de beleza eurocêntricos, impostos às mulheres de uma maneira geral. Levanta-se aqui também uma reflexão sobre a apropriação e (adaptação?) do pensamento Deleuziano para promover estratégias e mesmo abordagens produtivas no contexto contemporâneo. Arán, por exemplo, aponta aspectos produtivos da perspectiva apresentada em Anti-édipo e em Mil platôs (Deleuze e Guattari), em que “diferença e sexualidade não são pensadas a partir da ideia de filiação ou de dualidade sexual, e sim como um processo de afetação e contágio” . Neste processo de constante transformação, é pelos afetos que o corpo vai se definir, muito mais que pela sua substância. Em Kbela, a performance dos corpos postos em cena sugere uma relação muito mais pautada nos afetos e promove uma estética nômade, capaz de subverter e reconfigurar os padrões naturalizados e expor a violência de tal processo de naturalização. Para Braidotti, feministas nômades:
- nunca cessam de expor e explodir o racismo, o masculinismo, a violência masculina, (…), sem fazer concessões, nem para crenças essencialistas na superioridade das mulheres, nem na possível homologação, dentro do suposto fluxo de identidades pós-moderno que impõem o gênero. Elas tentam combinar complexidade com compromisso ao projeto de empoderamento das diferenças que o feminismo pode fazer.(2002, p.15).
O filme é composto por uma amálgama de experiências trocadas em forma de projeto, em que mulheres negras com biografias parecidas se encontram pra criar um projeto coletivo que se multiplica, se transfigura. Tudo é experiência estética pura, marcada na carne, na pele e nos cabelos.
Bibliografia
- ARÁN, Márcia. Políticas do desejo na atualidade: o reconhecimento social e jurídico do casal homossexual. Lugar Comum: estudos de mídia, cultura e democracia, nº21-22, Julho-dezembro 2005. Rio de Janeiro: Universidade Federal do Rio de Janeiro. P. 73-87.
BRAIDOTTI, Rosi. Affirming the affirmative: on nomadic affectivity.Rhizomes
11/12, fall2005/spring 2006. Disponível em http://www.rhizomes.net/issue11/braidotti.html
______________. Nomadic subjects: embodiment and sexual difference in
contemporary feminist theory. New York: Columbia University press, 1994.
______________. Diferença, diversidade e subjetividade Nômade. (trad. Roberta Barbosa). Revistalabrys, estudos feministas número 1-2, julho/ dezembro 2002 http://www. unb. br/ih/his/gefem
DELEUZE, G. , GUATTARI, F. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 5. São Paulo: Editora 34,1997,
LAURETIS, Tecnologias do gênero. In HOLLANDA, Heloisa Buarque de. Tendências e Impasses: O feminismo como crítica da cultura. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.