Ficha do Proponente
Proponente
- Rafael Fermino Beverari (Unifesp)
Minicurrículo
- Mestre em Ciências Sociais pela UNIFESP, realizou os cursos Literatura e História no Cinema Latino-Americano na Fundação Memorial da América Latina em 2011 e o Seminário Cinema Documental na Cinemateca Brasileira em 2012. Destaca-se a publicação do artigo intitulado Comunicação e seus Aspectos Ideológicos, lançado pela revista Filosofia Ciência & Vida no ano de 2012 e a apresentação do artigo No-Do: imágenes del fascismo en España no IV Congresso da AsAECA em 2014.
Ficha do Trabalho
Título
- Ranchera e tango: México e Argentina na Segunda Guerra Mundial
Resumo
- O presente trabalho pretende discutir as relações audiovisuais estabelecidas entre Estados Unidos e México (Aliados); Espanha e Argentina (Eixo). Assim, a Segunda Guerra Mundial ganha ressonância em um entrave audiovisual estabelecido no território latino-americano, cujas turbulentas ondas do Pacífico trazem consigo um embate entre as nações beligerantes na disputa de disseminação ideológica neste continente por meio da dominação da produção, distribuição e exibição cinematográfica.
Resumo expandido
- A disputa envolvendo os países do Eixo e dos Aliados se inicia ainda no final dos anos 1930, quando o cinema se coloca como um dos principais meios de comunicação. Para além do acirramento dos conflitos nos fronts de batalha, o embate ideológico se expande para distintos territórios que rivalizam um embate de influências de ambos os lados da contenda.
Se por um lado a influência estadunidense se estabelece principalmente na indústria cinematográfica mexicana, por outro, países fascistas como a Espanha e a Alemanha buscam ampliar o espaço de divulgação de seu ideário em outros locais, como por exemplo na Argentina e Brasil. Assim, o entrelaçamento da Guerra Mundial que se desenvolve na Europa ganha novas dimensões cujo fluxo de balas das metralhadoras é substituído pela contínua produção e distribuição de material audiovisual na América Latina.
Pautado por uma política de alianças em distintos lugares, os Estados Unidos busca uma tênue aproximação com o México em diversas frentes da indústria cinematográfica. Reconhecido como um destacado estúdios cinematográficos da América Latina durante a 22ª edição do Festival Internacional de Cinema de Amiens, França, a história dos Estudios Churubusco Azteca de México começa em 1942 com uma conversa entre o empresário mexicano radicado nos Estados Unidos, Emilio Azcárraga Vidaurreta, e a produtora norte-americana RKO. Inaugurado em 1945, passa a ser controlado pelo governo mexicano a partir de 1958 depois de ter realizado 39 longa metragens. Apesar do controle estatal, o marco inicial que viabiliza a instauração deste estúdio em solo mexicano parte de um conjunto de iniciativas estadunidenses visando a aproximação do país vizinho com os interesses defendidos pelos Aliados. No mesmo ano de lançamento deste espaço destinado ao audiovisual, cria-se a Pelmex (Peliculas Mexicanas), responsável por grande parte da distribuição da produção audiovisual pela América Latina.
Enquanto a América do Norte se envolve, no começo da década de 1940, entorno da disseminação de ideia dos Aliados, alguns acordos também são estabelecidos entre o Eixo e países latino-americanos, como é o caso da Espanha e Argentina. A América Latina, este vasto território banhado pelos oceanos Atlântico e Pacífico, se agita diante da aproximação entre Franco e Perón. Contrariando a ruptura diplomática proposta pelo Conselho de Segurança da ONU à Espanha, este último dirigente firma um acordo comercial, em outubro de 1946. A partir daí, um noticiário chamado No-Do (Noticiarios y Documentales), controlado pelos gestores fascistas através da Vicesecretaria de Educación Popular, inicia uma intensa campanha a favor da Argentina. Um documentário intitulado “La primera dama argentina en España” é realizado e lançado em janeiro de 1947 com uma hora e quarenta e sete minutos de duração. Durante o primeiro semestre deste ano, um cinejornal também produzido pelo No-Do exibe durante 15 vezes alguma menção à Argentina que varia de partidas amistosas de futebol, até visitas oficiais de Eva Perón e do embaixador argentino Pedro J. M. Radío. Responsável pela distribuição do material deste noticiário para a América Latina, a produtora e distribuidora espanhola Cifesa (Compañía Industrial de Film Español) exerce um importante papel na divulgação das notícias vinculadas ao governo franquista ao redor do mundo. Com 1.504 números deste cinejornal enviados para a América Hispânica e 566 destinadas ao Brasil, sua tentativa de disseminação da ideologia fascista além de seus limites territoriais é algo notório em um contexto de intenso embate.
Diante de um cenário pautado pelas disputas em conflito, a guinada dos interesses mundiais também perpassa os cinemas dos países latino-americanos em suas múltiplas dimensões. Assim, México e Argentina e Brasil encontram-se diante de uma complexa rede de produção e distribuição que vai além de seus territórios, participando de embates estratégicos acerca da disseminação de audiovisual ora do Eixo, ora Aliado.
Bibliografia
- AMANCIO, Tunico; TEDESCO, Marina (Org). Brasil-México: aproximações cinematográficas. Niterói: EdUFF, 2011.
BERNARDO, João. Labirintos do fascismo. 1998. 443 f. Tese (Doutorado). Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação.
COMPANY, Juan Miguel. Cifesa como sintoma. Archivos de la Filmoteca. Espanha: Filmoteca Española, 1990.
DÍEZ, Emeterio. Los acuerdos cinematográficos entre el franquismo y el Tercer Reich (1936 – 1945). Archivos de la Filmoteca. Espanha: Filmoteca Española, 1999.
PEREDO CASTRO, Francisco. La batalla por los Estudios Churubusco. Archivos de la Filmoteca. Espanha: Filmoteca Española, 2004.
SORLIN, Pierre. Sociología del Cine. Mexico: Fondo de Cultura Económica, 1992.
TRANCHE, Rafael R. & SÁNCHEZ-BIOSCA, Vicente. NO-DO. El tiempo y la memoria. 7a. Edição. Madrid: Filmoteca Española / Ediciones Cátedra, 2005.
VIRILIO, Paul. Guerra e Cinema. São Paulo: Boitempo, 2005.