Ficha do Proponente
Proponente
- Ingrid Hannah Salame da Silva (Unicamp)
Minicurrículo
- Mestranda do Programa de Pós Graduação em Multimeios da Unicamp, com pesquisa centrada no cinema brasileiro durante as décadas de 1920 e 1930. Jornalista formada pela faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Juiz de Fora. Durante o período de graduação foi bolsista do Programa de Educação Tutorial (PetFacom/UFJF) e do projeto “Formas de produção e criação no cinema brasileiro de 1930 à contemporaneidade: o cinema independente”, do prof.dr. Luís Alberto Rocha Melo.
Ficha do Trabalho
Título
- Entre fatos e boatos: as aventuras de um mitômano no cinema silencioso
Resumo
- Esta proposta busca resgatar a biografia de Eugênio Pignone, um mitômano que, chegando a São Paulo em 1921, vira assunto na imprensa local após engabelar uma família de imigrantes italianos, para logo em seguida divulgar nesses mesmos jornais histórias de sua vida aventurosa. A partir de 1923, Pignone se apresenta como E. C. Kerrigan, e com esse pseudônimo assina a direção de cinco melodramas (quatro longas e um curta metragem) e pelo menos quatro cinejornais e dois naturais, todos silenciosos.
Resumo expandido
- A trajetória de Eugênio Pignone, que posteriormente adotaria o pseudônimo cinematográfico “E.C. Kerrigan”, é abundante em peripécias e não se restringe aos filmes que dirigiu, mas abarca invenções fantasiosas, rumores, denúncias, versões e contravenções. Em 1921, Pignone chega a São Paulo e se faz passar por conde Eugênio Maria Pignone Rossiglione de Farnet, supostamente membro pertencente à nobreza italiana cujas proezas ao redor do mundo foram registradas na imprensa paulista seguindo uma formatação que ora tende ao fait divers, ora ao folhetim, ora ao melodrama. Talvez esse tenha sido seu traço mais marcante: a capacidade de se reinventar a cada situação e de alimentar tudo o que pudesse acrescentar elementos extraordinários a sua vida. Tratando-se de um mitômano, muitas das informações concernentes a ele estão no limiar da ficção.
A partir de 1923, Eugênio abandona o sobrenome “Pignone” e passa a se apresentar como “E.C.Kerrigan” e com esse nome assina a direção de cinco posados – Sofrer para gozar (Apa Filme, 1923, Campinas), Quando elas querem (Visual Filme, 1925, São Paulo), Corações em suplício (Masotti Filme, 1925, Guaranésia), Amor que redime (Ita Filme, 1928, Porto Alegre) e Revelação (Uni Filme, 1929, Porto Alegre) –, pelo menos quatro cinejornais – Ita-Jornal 1,2, 4 e 5 – e dois naturais – Glória à Virgem do Rosário e Campeonato estadual de futebol (todos produzidos pela Ita em 1927). Para realizar os filmes de ficção, o italiano recorreu a duas estratégias comumente utilizadas no período silencioso brasileiro: em primeiro lugar, à criação de escolas de cinema, as quais possibilitaram que ele reunisse técnicos, artistas e produtores; em segundo, à realização de documentários com evocações elogiosas a instâncias de poder. Em todos os processos observa-se uma mesma linha de ação: Eugênio cria a persona do diretor com experiência nos estúdios da Vitagraph e da Paramount (Hollywood!) e essa “farsa” é convenientemente aceita (ou rejeitada) pelo público e pelo críticos conforme sua produção pode (ou não) oferecer traços do cinema estrangeiro; em outras palavras, conforme seus filmes são capazes de encerrar os princípios do que hoje entende-se como cinema clássico hollywoodiano. Afinal, o italiano alimenta o desejo de uma cinematografia em formação, fomentado nas páginas de revistas como Para Todos, Selecta, Cinearte. No entanto, a carreira de Kerrigan, assim como a de muitos cineastas, não resiste ao advento do cinema falado, que encarece e complexifica a produção, distribuição e exibição de filmes.
O presente trabalho propõe-se a resgatar a biografia de Eugênio Pignone/Kerrigan sobretudo através da pesquisa nos jornais Fanfulla, Il Pasquino Coloniale e Correio Paulistano, e nas revistas Selecta, Para Todos e Cinearte.
Bibliografia
- AUTRAN, Arthur. O pensamento industrial cinematográfico brasileiro. Tese de doutoramento apresentada ao Instituto de Artes da UNICAMP. Campinas, 2004.
MACHADO, Rubens. O cinema paulistano e os ciclos regionais sul-sudeste (1912-1933). In: RAMOS, Fernão (org). História do cinema brasileiro. (2.ed.) São Paulo: Art/Secretaria de Estado da Cultura, 1990.
GALVÃO, Maria Rita. Crônica do cinema paulistano. São Paulo, Ática, 1975.
GOMES, Paulo Emílio Salles. Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte. São Paulo: Perspectiva/Ed. Universidade de São Paulo, 1974.
SINGER, Ben. Melodrama and modernity – Early sensational cinema and its contexts. New York: Columbia University Press, 2001.
SOUZA, Carlos Roberto de. “O cinema em Campinas nos anos 1920 ou uma Hollywood Brasileira”. Dissertação de mestrado apresentada na Escola de Comunicação e Artes. São Paulo, 1979.