Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Mariana Ramos Vieira de Sousa (UFF)

Minicurrículo

    Bacharel em Cinema e Audiovisual pela Universidade Federal Fluminense. Cursa seu mestrado no PPGCOM-UFF, onde desenvolve sua dissertação a respeito da representação feminina dentro do cinema de horror. Como cineasta, dirigiu o curta metragem “Silêncio”, e atualmente trabalha em outros projetos como roteirista.

Ficha do Trabalho

Título

    Horror, Excesso e a Violenta Conformação dos Corpos Femininos

Seminário

    Corpo, gesto, performance e mise en scène

Resumo

    O trabalho se propõe a explorar como o excesso aparece no gênero do horror, fissurando a lógica narrativa e criando espaços de contestação de padrões e normas de gênero que ditam a conformação violenta de corpos e sexualidades femininas. Para isso, utilizarei os filmes Possessão (1981), de Andrzje Zulawski, e “Em Minha Pele” (2002), de Marina de Van, nos quais o excesso é materializado em corpos femininos monstruosos em performances de autodestruição para a câmera.

Resumo expandido

    Certas narrativas cinematográficas são arquitetadas em torno da espetacularização do sofrimento dos corpos femininos, o que, em alguns gêneros fílmicos como o horror, toma proporções ainda mais excessivas constituindo verdadeiros “espetáculos de vitimização feminina” (WILLIAMS, 1991), cumprindo uma agenda que, muitas vezes, perpassa o “simples” entretenimento, perpetuando discursos violentos de conformação destes corpos.
    Pensando o horror dentro de sua estrutura genérica, como um conjunto de relações de pertencimento, vemos que a constante determinada como símbolo máximo do mesmo, um dos cânones que definem tal gênero, é o encontro espetacular, “horrorífico” e assustador com um Outro monstruoso e abjeto.
    Tal encontro causa pulsões e identificações ambíguas em seus espectadores, através da proliferação de espetáculos sensoriais extremos protagonizados por corpos instáveis e perigosos, especialmente corpos femininos “excessivamente sexualizados”; corpos monstruosos que, em seu excesso, ultrapassam regras e normas e, fazendo o, criam fissuras profundas no próprio processo discursivo, narrativo, e põem em cheque a materialização dos padrões corporais e comportamentais vigentes.
    Para ilustrar tal discussão, me apoiarei na análise comparativa de dois filmes de horror: “Possessão” (1981), de Andrzej Zulanski, e “Em Minha Pele” (2002), de Marine de Van. Em ambos os casos, o corpo feminino capturado dentro de um momento de extremo prazer quando em contato com o monstruoso, é um dos cerne do discurso fílmico. Este corpo que não apenas flerta com o abjeto, mas que obtem um prazer sexual neste encontro, é codificado como monstruoso.
    Performances extremas de destruição e esfacelamento corporal, filmadas com uma sensualidade perturbadora, dentro de cenas de excesso máximo, trabalhado a partir uma mise en scene em si mesmo histérica, repleta de elementos de horror e abjeção que apenas adensam sensações de desconforto e incerteza, são pontos centrais nas duas obras.
    Vemos, em ambos os casos, mulheres colocadas como espetáculo, fazendo um espetáculo de/com seus corpos, em cenas performadas diretamente para a câmera. Tais performances excessivas e monstruosas convidam o escrutínio do olhar, chamando a atenção do espectador para algo que, por algum motivo, escapa a trama. O que parece se exibir na tela é uma parada espetacular de sensações que transbordam e excedem a diegese, atrações que pouco nos fala da ação dramática em si, mas que nos interpelam de tal forma que parecem ressoar por todo o filme, complicando seu entendimento.
    O excesso é, por excelência, aquilo que instiga o espetáculo sensorial, aquilo que chama atenção e convoca a percepção porque não pode ser preso dentro da ordem positivista e prática da função narrativa, tomando, nem que por apenas alguns breves momentos, as rédeas da mise en scène e lhe fazendo explodir em sensações.
    É através dessas fissuras, dos momentos onde o excesso corpóreo e cinemático explodem em tela e fraturam a narrativa, que transbordam os conteúdos antagônicos que podem nos auxiliar no processo de desconstrução de representações em um espaço de risco e desafio, que, talvez, nos permita traçar um mapa inicial para uma política de resistência para tais corpos.
    O espetáculo, especialmente o espetáculo do corpo feminino em processo de autodestruição, é exatamente aquela voz que, apesar das pressões externas, das exigências de racionalidade e finalidade narrativa, escapa à normatização e faz de sua presença inesperada o signo último da instabilidade que permeia e constrói o discurso hegemônico.
    Dessa forma, pensar tais momentos de excesso como espaços de significação que possam nos auxiliar a questionar e desestabilizar as normas que conformam e estigmatizam o corpo, a sexualidade e a própria vivência social feminina, torna-se um imperativo urgente que pretendo averiguar com essa apresentação.

Bibliografia

    BALTAR, Mariana. “Frenesi da Máxima Visibilidade”. E­Compós. 2010.
    BUTLER, Judith. Bodies that Matter: On the Discursive Limits of Sex. New York: Routledge, 1993.
    DE LAURETIS, Teresa. Technologies of Gender: Essays on Theory, Film, and Fiction. Indianapolis, USA: Indiana University Press: 1987.
    FREELAND, Cynthia A. “Feminist Framework For Horror Films”, I n: BAUDRY, L.; COHEN, M. (Org.). Film theory and criticism. New York: Oxford University Press, 2004 .
    PAASONEN, Susanna. Carnal Resonace. Affect and online pornography. Cambridge, The MIT Press, 2011

    RUSSO, Mary. O Grotesco Feminino: risco, excesso e modernidade. Rio de Janeiro: Racco, 2000.
    STRAUVEN, Wanda (org). Cinema of attractions reloaded. Amsterdam University Press, 2006.
    THOMPSON, Kristin. “The Concept Of Cinematic Excess”. In. BRAUDY, Leo e Cohen, Marshall (eds.) Film Theory and Criticism. New York: Oxford Univeristy Press, 2004.
    WILLIAMS, Linda. Film Bodies: Gender, Genre, and Excess. Film Quarterly, Vol. 44