Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Isabel Veiga (UFRJ)

Minicurrículo

    Graduou-se em Comunicação Social – Cinema pela Universidade Federal Fluminense (2009). Realizadora, pesquisadora e produtora de cinema. Dirigiu os curta-metragens partedois – do outro lado do rio” (2010) e Mamulengos (2012). Produziu, coordenou e fez curadoria de diversas mostras e festivais de cinema. Ministrou oficinas de formação em audiovisual. Atualmente é mestranda em Tecnologias da Comunicação e Estéticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Ficha do Trabalho

Título

    O corpo como lugar de experimentação nos filmes de Leos Carax

Resumo

    Vamos partir de uma análise do corpo nos filmes Os Amantes da Pont-Neuf (1991), Pola X (1999) e Holy Motors (2012) dirigidos pelo cineasta francês Leos Carax, buscando investigar de que maneira os princípios de deformação, metamorfose e transfiguração são trabalhados nesses filmes. Cabe aqui refletir sobre como essas noções aparecem na obra do diretor, fazendo emergir o corpo como lugar de experimentação.

Resumo expandido

    Leos Carax realizou cinco longas-metragens e sete curtas-metragens desde 1980. Pode parecer pouco em se tratando de mais de três décadas, porém os longos intervalos entre a produção de um e outro filme dizem muito sobre a capacidade de reinvenção do realizador dentro de sua própria obra. Vamos nos ater principalmente aos três últimos longas dirigidos pelo diretor, por considerar que estes englobam as principais questões deste trabalho. São eles: Os Amantes da Pont-Neuf (Les Amants du Pont Neuf, 1991), com a dupla Denis Lavant-Juliette Binoche; Pola X (1999), com a dupla Guillaume Depardieu e Yekaterina Gobuleva; e Holy Motors (2012), com Denis Lavant.

    Iremos investigar como, nesses filmes, certos procedimentos de deformação, mutilação, desintegração, recomposição e transfiguração são utilizados e de que maneira eles tensionam a própria ideia de forma-Homem ou corpo orgânico. A escolha por esse conjunto de filmes se dá na medida em que acreditamos que o cineasta trabalha de forma singular e original a expressividade do corpo, assumindo-o como territórios de experimentações e espinha dorsal das narrativas.

    Algumas perguntas podem ser tomadas como norte para essa investigação: o que esses corpos estão liberando para o mundo (em imagens, em sensações)? Como se dá a utilização desses corpos no interior da narrativa? Ou no que a narrativa depende deles? Do que eles são feitos? Quais são suas características e particularidades? De que maneira eles tensionam a forma-Homem?

    Se é de corpos estranhos nos limites da loucura e da morte, e da força de administração das vidas pelas instituições (nesse caso um abrigo para mendigos, um hospital e posteriormente a prisão) que estamos vendo aparecer nos filmes de Leos Carax, o pensamento de Michel Foucault é de fundamental importância para refletirmos sobre a biopolítica, o constante embate com as instituições (família, prisão, hospital, escola, Estado) e as possíveis linhas de fuga criadoras de novos modos de existência.

    Pretendemos, portanto, fazer um breve panorama da obra do diretor Leos Carax contextualizando-o historicamente, e apontando também para como o uso do corpo assume lugar central desde seus primeiros filmes, considerando suas continuidades e rupturas. Ainda, perceber como são utilizados e desenvolvidos os procedimentos de deformação, metamorfose e transfiguração ao longo das narrativas. E por fim, investigar quais são as implicações éticas e estéticas que surgem a partir do tensionamento do corpo orgânico e da forma-Homem a partir dos filmes em questão.

Bibliografia

    BRENEZ, Nicole. De la figure en général et du corps en particulier. Bruxelas: De Boeck & Larcier s.a., 1998.
    DALY, Fergus; WOOD, Garin. Leos Carax. Manchester: Manchester University Press, 2003.
    DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. O que é a filosofia. Rio de Janeiro: Ed 34, 1992.
    DELUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Francis Bacon: lógica da sensação. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2007
    FERRAZ, Maria Cristina Franco. Genealogia, comunicação e cultura somática. Revista FAMECOS, Porto Alegre, v. 20, n. 1, pp. 163-178, janeiro/abril 2013
    MIRANDA, José Bragança de. Corpo de Imagem. São Paulo: Annablume, 2011
    FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1988.
    GIL, José. Monstros. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 2006
    JÚNIOR, Luiz Carlos Gonçalves de Oliveira. A mise en scéne no cinema – do clássico ao cinema de fluxo. São Paulo: Papirus. 2013.
    RANCIÈRE, Jacques. A fábula cinematográfica. Campinas: Papirus, 2013