Ficha do Proponente
Proponente
- Gisele Krodel Rech (Unesp)
Minicurrículo
- Gisele Krodel Rech é doutoranda em Comunicação da Universidade Estadual Paulista (Unesp – Bauru), mestre em Comunicação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) e jornalista formada pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná. Fez curso de roteiro cinematográfico na Universidade Complutense de Madri. Tem na relação entre cinema, literatura e jornalismo o foco principal de estudo e o presente estudo foi desenvolvido na Espanha, com fomento da Fundación Carolina.
Ficha do Trabalho
Título
- Mar Adentro: literatura e jornalismo como matéria-prima do cinema
Resumo
- Literatura e jornalismo estão intimamente ligados ao cinema, especialmente no que concerne ao ponto de partida para concepção dos roteiros. Mar Adentro, de Amenábar, abarca em sua narrativa referências tanto do jornalismo, que noticia a luta de Ramon Sampedro pela eutanásia, quanto da literatura, cujas referências provêm do livro escrito pelo próprio Sampedro. Neste estudo busca-se identificar em Mar Adentro as apropriações de elementos jornalísticos e literários no ato de escrever com luz.
Resumo expandido
- Na edição de 18 de janeiro de 1998 do jornal El País, o caderno especial de domingo foi dedicado a um intenso debate sobre a eutanásia, usando como gancho a saga do tetraplégico Ramon Sampedro, que nos anos 90 encampou na Espanha uma ferrenha luta pelo direito de tirar a própria vida. Coincidência ou não, o então jovem diretor Alejandro Amenábar também estava presente nas páginas do periódico naquele dia 18, graças ao destaque obtido por sua obra Abre los ojos, vencedora do festival de Sundance naquele ano. Oito páginas separam os dois na ocasião.
Seis anos depois, no mesmo jornal, um já consagrado Amenábar ganhava espaço com a estreia de sua película Mar Adentro, inspirada na vida de Sampedro e na luta dele pelo direito de morrer. A repercussão do caso na Espanha acabou alavancando o filme de Amenábar, que atravessou fronteiras e conseguiu uma boa distribuição fora do território ibérico.
Em entrevistas sobre a concepção da película, ele revelou que muito da inspiração para o roteiro veio do livro escrito por Sampedro, cujo desenvolvimento é um dos pontos altos do filme. No entanto, por se tratar de uma história verídica, é inevitável que estejam presentes na obra ficcional, elementos noticiosos contidos nos periódicos da época.
Neste estudo, a intenção é perceber por meio da análise fílmica as apropriações de elementos literários e jornalísticos, atentando para o processo de tradução de palavras em imagens, perpassando apontamentos sobre adaptação, com base nos estudos de Robert Stam e apoiando-se no referencial teórico das narrativas – jornalística, literária e cinematográfica – proposto em especial por Luiz Gonzaga Motta, e da linguagem cinematográfica, por meio do trabalho de Marcel Martin. Aliás, este é um estudo essencialmente de narrativas, que preza pela análise de cada uma delas e também para os pontos de confluência que as une para provocar emoção no espectador.
É importante, ainda, ressaltar, em um campo mais subjetivo, a importância da obra cinematográfica para dar à história de vida e luta de Ramón Sampedro o sentido de permanência, seja por meio do efeito de alta-voz que o cinema proporciona às páginas dos jornais, seja pela capacidade do filme de apropriar-se de toda a carga emocional do livro de Sampedro, que por meio da linguagem poética traduziu suas alegrias e angústias, como uma espécie de testamento.
Bibliografia
- GABLER, Neil. Vida, o filme – Como o entretenimento conquistou a realidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.
MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Editora Brasiliense, 2008.
MOTTA, Luiz Gonzaga. Análise Crítica da Narrativa. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2013.
SAMPEDRO, Ramón. Cartas desde el infierno. Madri: Planeta, 1996.
STAM, Robert. A literatura através do cinema. Belo Horizonte: UFMG, 2008.
WOLFE, Sergio. Cine/literatura: ritos de pasaje. Buenos Aires: Paidós, 2001
ZUMALDE, Imanol. La experiencia fílmica – cine, pensamiento y emoción. Madri: Cátedra, 2011.