Ficha do Proponente
Proponente
- Eduardo Tulio Baggio (Unespar)
Minicurrículo
- Eduardo Tulio Baggio é docente no curso de Cinema e Vídeo da Universidade Estadual do Paraná e documentarista. Doutor em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP com a tese “Da teoria à experiência de realização do documentário fílmico”. Líder do grupo de pesquisa “CINECRIARE – Cinema: Criação e Reflexão” (UNESPAR/CNPQ), e membro coordenador do GT “A Teoria dos Cineastas” da AIM (Associação de Investigadores da Imagem em Movimento).
Ficha do Trabalho
Título
- Traços teóricos na obra documental de Joaquim Pedro de Andrade
Seminário
- Teoria dos Cineastas
Resumo
- Em continuidade ao estudo da obra documental de Joaquim Pedro de Andrade apresentado no encontro da Socine de 2015, o objetivo da comunicação é apontar e analisar os traços teóricos presentes nos filmes documentários do cineasta. O método proposto é o que considera objetos da investigação tanto os filmes do diretor quanto as manifestações das ideias deste. A apresentação da comunicação será um ensaio audiovisual, reforçando a proposta de trabalhar o potencial teórico que surge desta linguagem.
Resumo expandido
- Dos quatorze filmes dirigidos por Joaquim Pedro de Andrade, sete são documentários. Este é o corpo de filmes que interessa para esta investigação. Destes, quatro são documentários dedicados a grandes artistas brasileiros: O Mestre de Apipucos (1959), O Poeta do Castelo (1959), Cinema Novo (1967) e O Aleijadinho (1978). Dois são filmes marcados por críticas sociais, políticas e econômicas: Brasília, Contradições de Uma Cidade Nova (1967) e A Linguagem da Persuasão (1970). E Garrincha, Alegria do Povo (1963) é um documentário que aborda o grande jogador de futebol e sua transformação em um mito brasileiro. O que há de comum nas escolhas temáticas de Joaquim Pedro é o seu grande interesse pelo Brasil, algo que o cineasta havia frisado em uma famosa frase: “Só sei fazer cinema no Brasil, só sei falar de Brasil, só me interessa o Brasil.” (ANDRADE, 1988).
Partindo do que preconiza Jacques Aumont em Pode um filme ser um ato de teoria? (2008), podemos encontrar em alguns filmes traços teóricos. Estes traços, seguindo o que o autor considera ser o percurso lógico de uma formulação teórica, devem apresentar características de especulação, de coerência e de explicação. Num primeiro momento é possível afirmar que os documentários de Joaquim Pedro de Andrade especulam sobre o Brasil, transitando entre questões culturais e problemas de ordem socioeconômicas. Entretanto, ao pensarmos sobre formulações teóricas de um filme, ou de um conjunto de filmes, devemos ter em mente que estas são formulações dadas na linguagem cinematográfica. Logo, a pesquisa aqui proposta busca também as formulações teóricas presentes nos documentários do cineastas que possam emanar da estilística de seus filmes. Por exemplo, como a experiência com o Cinema Direto, em 1962, tornou-se presente na forma de abordagem de Joaquim Pedro para com os personagens de seus filmes a partir de então? E, mais, como essa influência foi incorporada no estilo do diretor e o que isso representa nos traços de especulação teórica presentes em seus documentários?
O traço da coerência é algo que pode ser investigado tanto no interior de cada filme, como em um conjunto de filmes, como também na relação dos filmes com os pensamentos do cineasta. Joaquim Pedro apresenta em seus documentários uma coerência interna, muito típica de um cineasta rigoroso, tanto do ponto de vista temático como em sua estilística. Quando observamos o conjunto de seus documentários também é possível encontrar fluxos específicos mais coerentes, como entre os seus dois primeiros curtas, filmados em um mesmo momento e atendendo a proposições comuns. Já Garrincha, Alegria do Povo (1963) e Cinema Novo (1967) apresentam traços coerentes, entre si, naquilo que especulam estilisticamente. Entretanto, é possível notar também a coerência dos documentários com a evolução do pensamento do diretor, que acaba por gerar choques entre os filmes a medida que a obra fílmica vai amadurecendo. Ou seja, aquilo que poderia parecer incoerente na sequência dos filmes do diretor, apresenta-se como coerência evolutiva de seu pensamento.
Segundo Aumont, o traço explicativo de uma formulação teórica é o mais difícil de ser percebido e analisado em um filme (AUMONT, 2008:29). No caso específico dos documentários de Joaquim Pedro de Andrade a explicação surge do diálogo dos filmes com os pensamentos expressos pelo cineastas, que, em conjunto, tornam possível a compreensão de uma obstinação pelo Brasil e uma forte tendência realista.
Em consonância com a ideia de que filmes podem exprimir ideias de caráter teórico, a proposta aqui apresentada prevê que a comunicação resultante desta pesquisa seja apresentada na forma de ensaio audiovisual, mesclando trechos de documentários, de entrevistas e de textos de Joaquim Pedro de Andrade, com asserções do autor da comunicação.
Bibliografia
- AUMONT, Jacques. As teorias dos cineastas. Campinas, SP : Papirus, 2004.
________. Pode um filme ser um ato de teoria?. Revista Educação e Realidade, v. 33 n. 1, jan/jun de 2008, pp. 21-34.
BENTES, Ivana. Joaquim Pedro: a revolução intimista. Rio de Janeiro : Relume-Dumará, 1996.
ARAÚJO, Luciana Corrêa de. Joaquim Pedro de Andrade: primeiros tempos. São Paulo : Alameda, 2013.
ANDRADE, Joaquim Pedro de. O Poeta Filmado. Suplemento Literário do Diário de Notícias, Rio de Janeiro, 17/04/1966.
________. Um Depoimento especial de Joaquim Pedro de Andrade. Folheto do Cineclube Macunaíma na ocasião da Retrospectiva Joaquim Pedro de Andrade, Rio de Janeiro, 1976.
________. Entrevista para Sylvia Bahiense no Programa Luzes, Câmera nº 31. São Paulo : TV Cultura, 8 de junho de 1976.
________. Só me interessa o Brasil. Entrevista para Teresa Cristina Rodrigues, jornal O Globo, 12/09/1988.
LABAKI, Amir. Joaquim Pedro, o Cinema Novo e o Documentário. In: É Tudo Verdade. São Paulo: Francis, 2005.