Ficha do Proponente
Proponente
- Daniel Lukan Schimith Silva (UnB)
Minicurrículo
- Formado em Letras/Francês no ano de 2013 na Universidade de Brasília, estou no último ano do mestrado no POSLIT/UnB na linha de pesquisa Literatura e Outras Artes; sob a orientação da prof.ª Junia Barreto, pesquiso intersecções da estética do suspense nas obras de Poe, G.K. Chesterton e Hitchcock. Também curso Comunicação Social – Audiovisual pela Faculdade de Comunicação da UnB, além de trabalhar como roteirista e como crítico de cinema, na página naosaoasimagens.wordpress.com.
Ficha do Trabalho
Título
- Considerações sobre o Trágico – O papel do amor patológico em Vertigo
Resumo
- Por meio da comparação entre cinema e literatura, essa análise pretende estabelecer as relações entre o amor e a tragédia no filme “Vertigo”, de Alfred Hitchcock, e o romance que lhe deu origem, “Sueurs Froides”, de Boileau-Narcejac. Partindo de uma ponderação sobre as definições de amor patológico, buscaremos estudar como a ‘psicopatia’ desses personagens serve como base para estabelecer uma estrutura trágica em suas narrativas, além de definir seus destinos.
Resumo expandido
- A conexão que o amor estabelece com a tragédia é um aspecto vastamente trabalhado desde os primórdios do que até hoje conhecemos como ‘narrativa’. De “Medéia”, de Eurípedes, até “Anna Kariênina”, de Tolstoi, uma gama de histórias já foi contada usando a união dessas duas noções como fio condutor. Essa profusão torna ostensiva a lógica trágica que irrompe em tais enredos; seja por suas características fatídicas ou mesmo pela estruturação. Partindo dessa ideia inicial, o escopo desse trabalho é investigar como o desenvolvimento patológico do amor pontua a estruturação trágica no filme “Vertigo”, do diretor Alfred Hitchcock, assim como no romance que lhe deu origem, “Sueurs Froides”, de Boileau-Narcejac, publicado quatro anos antes do lançamento do filme ainda com o nome “D’entre les morts”.
Desde Platão o conceito de amor recebe definições diversas, por exemplo, ‘Ágape’ e ‘Eros’. Para o filósofo grego, essa dicotomia diferencia um amor autêntico (Ágape), que tende a libertar o indivíduo do sofrimento, ou seja, o amor aduzido a um plano divino e altruísta; do amor possessivo (Eros), aquele que é incontrolável e egoísta, no qual o amante persegue o amado como um objeto a ser devorado. Esse amor possessivo é o que domina os protagonistas Scottie (Vertigo) e Flavières (Sueurs Froides) e, em função disso, ambos os personagens atingem os níveis mais altos de patologia amorosa. O que gera como consequência uma intensa busca pela ‘ressurreição’ de Madeleine, sendo que, nessa reconstrução dela enquanto amante, eles acabam por reconstruir todo o cenário da tragédia, na qual deixam de ser meros espectadores, e tornam-se os principais agentes.
Portanto, utilizando definições dos estágios do amor patológico (LINO, 2009), propomos investigar como ocorre a gradativa passagem desses protagonistas por cada um desses níveis – paixão, amor obsessivo, dependência amorosa, violência – até seu grau mais elevado: a psicopatia. Para isso, analisaremos o modo como essas categorias estabelecem as peripécias e os reconhecimentos de ambas narrativas e como essas estruturas trágicas também servem como impulso para a passagem desses estágios de amor patológico. Assim, visamos utilizar essas investigações para ponderar sobre como Hitchcock utiliza os recursos visuais particulares ao cinema, seja expandindo ou suprimindo estratégias narrativas existentes, a princípio, no romance de Boileau-Narcejac, para transparecer e dar significado à progressão patológica de Scottie, em “Vertigo”.
Em vista disso, temos como objetivo mostrar de que maneira a manifestação dessa patologia amorosa se apresenta distintamente no protagonista fílmico e no literário, de modo a estabelecer o diálogo entre as duas áreas e, também, observar como a profusão psicopatológica do amor nesses protagonistas será responsável por modular o paradigma trágico, que será motivador dos ‘destinos’ dessas histórias e inevitabilidade de suas execuções.
Bibliografia
- ARISTÓTELES. Poética. In: “Coleção Os Pensadores”. São Paulo: Abril Cultural, 1978.
BOILEAU, Pierre; NARCEJAC, Thomas. “Sueurs Froides”. Paris: Éditions Denoël, 2014.
BURIAN, Peter. Myth into muthos: the sahping of tragic plot. In: EASTERLING, P.E. “The Cambridge companion to greek tragedy”. 12ª Ed. New York: Cambridge University Press, 2012.
CATALÃO, Helena. Desejo, Niilismo e Testemunho Vertigo de Alfred Hitchcock em Desconstrução. In: “Revista Portuguesa de Filosofia”. Disponível em: http://www.jstor.org/stable/41803883?seq=14#page_scan_tab_contents acessado em 31/10/2015.
LEE, J. A. Love-styles. In R. J. Sternberg & M. L. Barnes (Coord.). “The psychology of love”. New York: Yale University, 1988. p. 38-67.
LESKY, Albin. “A Tragédia Grega”. São Paulo: Perspectiva, 2010.
LINO, Thiago Lopes. “A patologia do amor – da paixão à psicopatologia”. Disponível em: . Acessado em: 03 jan. 2016.