Ficha do Proponente
Proponente
- Juliene da Silva Marques (UNISUL)
Minicurrículo
- Mestra no curso de Ciências da Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina – Unisul. Especialista em Língua Portuguesa pela Faculdade Capivari – Fucap. Graduada em Letras – Português/Espanhol pela Unisul. Professora de Língua Portuguesa na rede pública Estadual e Municipal.
Ficha do Trabalho
Título
- HOMENS E WALKERS: RESTOS E DEVIRES NA SÉRIE THE WALKING DEAD
Resumo
- Este estudo analisa a visibilidade homem/walker a partir de recortes das seis primeiras temporadas da série televisiva The Walking Dead. O seriado apresenta uma dualidade de sobrevivências que, no entanto, tornam-se próximas de acordo com a perspectiva rizomática de Deleuze e Guattari. Desse modo, foi perscrutada a relação homem/walker, considerando o devir-walker do homem, e os restos humanos do walker, como elementos que potencializam e conectam as formas de existência apocalíptica.
Resumo expandido
- Na série televisiva The Walking Dead é colocada em cena a dualidade homem/walker, contudo, percebem-se restos e devires que conectam essas formas de existência, provocando uma junção dessas visibilidades. Nota-se na construção da diegese que os homens apresentam um devir walker e que os walkers, por sua vez, dão vistas a restos humanos. Dessa maneira, interessa perscrutar como esses seres se aproximam e, para tanto, é necessário o visionamento das macroestruturas e das microestruturas em busca de recortes da obra, por meio de seus vários elementos constituintes, ou seja, a mise-en-scène, os planos, as sequências, a narrativa, dentre outros. Neste resumo serão apresentados alguns apontamentos de análises que darão vistas ao que foi realizado no trabalho completo desta pesquisa.
Didi-Huberman (2011) afirma que nada é destruído completamente, visto que os lampejos permanecem existentes como forma de testemunha. Já Agamben (2008) teoriza os restos afirmando que nada se finda em sua totalidade, pois considera que sempre há vestígios que engendram resistências. A partir desse olhar, nota-se que o walker como morto-vivo não deixa de apresentar várias características de sua vida humana, assim como o homem não tem como escapar de sua potência walker. Deleuze e Guattari (2011, p. 48) aduzem que “Um rizoma não começa nem conclui, ele se encontra sempre no meio, entre as coisas, inter-ser, intermezzo”. Diante dessa perspectiva, destaca-se que a construção das personagens se faz por meio de uma estrutura rizomática, pois não há como separar essas formas de existência.
Pode-se apontar a estrutura corporal como algo que resta de humano no walker, pois, mesmo perante a decomposição, quando há alguma distância, tanto os personagens envolvidos na trama quanto os espectadores que acompanham a diegese precisam de uma aproximação imagética para assim definir que tipo de corpo está sendo apresentado. Essas perspectivas dão visibilidade ao entremeio existente entre a posição homem e a posição walker, pois várias mise-en-scènes enquadram esses seres em conjunto, conectando-os.
Dentre outros exemplos, destaca-se o episódio de abertura da primeira temporada, “Days Gone Bye”, no qual se evidencia a dificuldade de Rick em distinguir homens e walkers, visto que, em determinados momentos, os restos que os conectam são mais evidentes do que as diferenças. O xerife é agredido por ser confundido com um walker e, nesse interim, ferido e debilitado, encontra na fala a única forma de evidenciar sua condição humana. Rick se percebe em uma posição semelhante no quarto arco, quando novamente fragilizado, faz com que seu filho Carl tema que ele seja um walker. O menino, por um momento, acredita que o pai se encontre no estado walker e se prepara para o atacar. Contudo, novamente, Rick consegue comprovar seu condicionamento por meio da linguagem verbal. Ainda na quarta temporada, Rick, por perceber-se cercado e com o filho ameaçado, usa a mordida como ataque ao inimigo e, assim como um walker, morde o adversário arrancando um pedaço de seu pescoço, levando-o à morte. Essa ação potencializa o devir-walker do protagonista, fazendo com que ele tome a mesma atitude da qual procura, de todas as formas, escapar.
A partir desses olhares sobre o devir e o resto, são ressaltadas as coexistências como formas de sobrevivência e resistência, e dessa maneira, as relações de entremeio permanecem conectadas sem uma disjunção total. Logo, a dualidade homem walker exibida no seriado TWD não demonstra uma forma de separação, mas sim, uma copresença permanente entre essas personagens.
Bibliografia
- AGAMBEN, Giorgio. O que resta de Auschwitz. São Paulo: Boitempo, 2008.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 2011. v. 1.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia. 2. ed. Rio de Janeiro: Editora 34, 2012. v. 4.
DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2011.
THE walking dead. Direção: Greg Nicotero et al. Produção: Robert Kirkman et al. EUA: AMC, 2010. (6 Temporadas).