Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    Ricardo Tsutomu Matsuzawa (UAM)

Minicurrículo

    Possui graduação em Comunicação Social – Habilitação Radialismo e Especialização em Fundamentos das Artes e Cultura pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – UNESP. Mestre em Comunicação Contemporânea, Doutorando em Comunicação Audiovisual e professor da Universidade Anhembi Morumbi. Atua na área de Comunicação, com ênfase em Audiovisual. http://lattes.cnpq.br/9120849992278402

Coautor

    Ivan Ferrer Maia (UAM)

Ficha do Trabalho

Título

    STAR TREK: 50 ANOS. IMAGEM COMETA E A PARTILHA DA ACEITAÇÃO

Resumo

    Esta comunicação tem o objetivo de abordar o modo como a série de televisão Star Trek (1966) e as suas produções derivadas discutem e apresentam temas como preconceito racial e xenofobia, por meio de narrativas estéticas, imagens intermitentes e composições plásticas estruturadas pela Direção de Arte e pela Fotografia. São imagens cometas que atravessam o horizonte, eclodem como bola de fogo, de cunho social que levantam questões sobre discriminação, produzidas em pleno período da Guerra Fria.

Resumo expandido

    Didi-Huberman (2011), na sua obra “Sobrevivência dos Vaga-Lumes”, evoca Walter Benjamin e Giorgio Agamben para estabelecer a distinção entre imagem e horizonte. A imagem caracteriza-se pela sua intermitência, pelos seus intervalos de aparições, enquanto o horizonte é imenso e imóvel. “A imagem é lucciola das intermitências passageiras; o horizonte banha na luce dos estados definitivos, tempos paralisados” (p. 115). A imagem é um cometa que transita em toda a imobilidade do horizonte. De aparição súbita, preciosa, como uma bola de fogo que queima, coisa que cai.
    O horizonte é estendido, é maior que nós – é galáctico. Enxergar o horizonte é contemplar uma jornada, os múltiplos planos, camadas e universos. Em analogia ao horizonte, é possível citar a série Star Trek (1966-1968), atravessada por imagens, cometas ou bolas de fogo, que completa cinco décadas de existência em 2016.
    Durante a jornada interestelar, as imagens intermitentes misturam-se com a ordem do horizonte, eclodem como bolas de fogo, transitam no céu, colidem no chão e deixam rastros. São imagens de impacto social que levantam questões sobre discriminação, produzidas em pleno período da Guerra Fria.
    Diante desse contexto, esta comunicação pretende abordar o modo como a série televisiva Star Trek e suas produções derivadas discutem e apresentam temas como preconceito racial e xenofobia por meio de narrativas estéticas, imagens intermitentes e composições plásticas estruturadas pela Direção de Arte e pela Fotografia.
    A série destaca-se pelo caráter humanista e por oferecer visibilidade a personagens de diferentes culturas e etnias como protagonistas, além de mostrar o primeiro beijo interracial da televisão norte-americana – Plato’s Stepchildren (1968). Percebe-se que este debate é atual, pois há uma universalização radical do mercado, preconceitos e ações de xenofobia em evidência em todo o mundo e obras audiovisuais que ainda transmitem discursos ideológicos e excludentes.
    Como escreveu Rancière (2009), “O real precisa ser ficcionado para ser pensado” (p. 58). E a ficção pode estar no mesmo status que o real ou, de outra forma, Star Trek evoca um futuro e cria um universo nos quais os preconceitos estão resolvidos na humanidade. Em sua primeira exibição, deu visibilidade a uma mulher negra em uma ficitícia ponte de comando em nave capitânia da humanidade, em pleno 1966, quando eclodiam os movimentos dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, ano que, em alguns Estados Americanos, ainda era proibido o casamento interracial. Ainda em Rancière (2009), “a partilha do sensível faz ver quem pode tomar parte no comum em função daquilo que faz, do tempo e do espaço em que essa atividade se exerce” (p. 16).
    A estética partilhada em Star Trek são cometas intermitentes cujos rastros trazem discursos de tolerância racial e de gênero, ao mesmo tempo em que escancaram problemas de aceitação. Por exemplo, no episódio Let That Be Your Last Battlefield (1969), a tripulação da nave encontra dois alienígenas praticamente idênticos, cuja diferença se dava pela coloração invertida visível em seus rostos. De um lado, pigmentos brancos, de outro, pretos. Ambos pertencem à mesma espécie, no entanto, acreditam ser diferentes devido à coloração invertida nos rostos. Pela intolerância, estão em luta há 50 mil anos, com desprezos mútuo.
    São narrativas que comungam o sensível e revelam, ao mesmo tempo, “a existência de um comum e dos recortes que nele definem lugares e partes respectivas” (RANCIÈRE, 2005, p. 15). Partilhas de espaços e tempos, mas, antes de tudo, de atividades que estabelecem modos e comportamentos comuns ou excludentes e além de evidenciar como uns e outros se envolvem nessa partilha. São imagens que queimam, de aparições, de desaparecimentos, de reaparições e de redesaparecimentos incessantes, que partilham sentidos ainda necessários para os tempos atuais.

Bibliografia

    AGAMBEN, Giorgio. O que é o dispositivo & o amigo. Chapecó :Argos, 2014.
    BENJAMIN, Walter. Obras escolhidas: Magia e técnica, arte e política. V.1. São Paulo: Brasiliense, 2012.
    BORDWELL, David. The way Hollywood tell it: Story and style in modern movies. Los Angeles: Universitiy of California Press, 2006.
    DELEUZE, Gilles. Cinema II: a imagem-tempo. São Paulo: Brasiliense, 2005.
    DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobrevivência dos vaga-lumes. Belo Horizonte: UFMG, 2011.
    DUBOIS, Philippe. Cinema, vídeo e Godard. São Paulo: Cosac Naif, 2004.
    GARDIES, René. Compreender o cinema e as imagens. Lisboa: Texto e Grafia, 2008.
    HAN, Byung-Chul. Sociedade do Cansaço. Petrópolis: Editora Vozes, 2015.
    OLIVEIRA JR, Luiz Carlos. A mise em scène no cinema: Do clássico ao cinema de fluxo. Campinas: Papirus, 2013.
    RANCIÈRE, Jacques. A partilha do sensível; estética e política. São Paulo: Editora 34, 2014.