Trabalhos Aprovados 2016

Ficha do Proponente

Proponente

    LUIZ GUSTAVO VILELA TEIXEIRA (UTP)

Minicurrículo

    Crítico de Cinema e Jornalista formado na PUC-MG (2006). Mestrando em Comunicação e Linguagens (UTP) e especialista em Comunicação e Cultura (UTFPR). É redator, editor e idealizador do site Cronico de Cinema (cronicodecinema.com). Colunista semanal na Rádio CBN Curitiba e Transamérica Light sobre Cinema e Audiovisual.

Ficha do Trabalho

Título

    A violência em Tarantino: uma abordagem pela Teoria dos Cineastas

Seminário

    Teoria dos Cineastas

Resumo

    O cinema de Quentin Tarantino é marcado pela exploração estética da violência. Seus personagens não apenas vivem em um mundo violento, como a praticam para resolver seus problemas. A violência é em si uma forma de expressão. Mas o que ele próprio vê de violência em seus filmes? A proposta deste painel é explorar o uso da violência de Tarantino partindo de sua própria visão sobre o assunto. A Teoria dos Cineastas, de Jacques Aumont, servirá como fio condutor teórico para as considerações.

Resumo expandido

    Logo nos primeiros parágrafos da introdução de seu livro As Teorias dos Cineastas, Jacques Aumont lança a definição que norteará seu estudo: “o cineasta é um homem que não pode evitar a consciência de sua arte, a reflexão sobre seu ofício e suas finalidades, e, em suma, o pensamento” (AUMONT, 2002, p. 7). No parágrafo seguinte, o pensador sistematiza o que considera “reflexão” e “pensamento” ao justificar o foco dado pelo livro.

    Isso significa que ele [o livro] privilegia os cineastas que tiveram a ambição senão a mais elevada, pelo menos a mais profunda e a mais consequente: para teorizar, para simplesmente refletir, é preferível aprofundar opiniões estáveis do que mudá-las o tempo todo ou permanecer na superfície. (AUMONT, 2002, p. 7).

    A noção de manutenção das ideias ao longo do tempo nos coloca em direção ao cinema de Quentin Tarantino e, principalmente, ao pensamento sobre sua arte. Mais notadamente em relação a uma declaração sua em uma entrevista de divulgação para a promoção de Django Livre (2012). Depois de dizer que seu uso de violência era duplo no filme – operando no nível da representação e no da catarse –, o entrevistador, Krishnan Guru-Murthy, insistiu em questionar a relação entre violência real e violência cinematográfica. A resposta do diretor é tão exemplar de sua personalidade quanto do nosso primeiro passo em direção à Teoria dos Autores.

    Eu recuso sua questão. Não sou seu escravo e você não é meu mestre. Você não pode me fazer dançar para sua música. Não sou um macaco (…) A razão pela qual não respondo isso é porque eu já disse tudo o que tinha para dizer sobre isso. Se alguém se importar com o que tenho para dizer sobre isso, podem procurar no Google. E eles podem ver 20 anos sobre o que tenho a dizer. Não mudei minha opinião nem um pouco. (TARANTINO, 2013).

    Para a sorte deste trabalho, o The Wire, site de notícias de entretenimento, à época da entrevista, fez uma coletânea das declarações de Tarantino sobre como o cineasta usa a violência em seus filmes. Algumas são exemplares, como esta de 1994, em uma coletiva de imprensa para o lançamento de Pulp Fiction (1994):

    Violência é apenas uma das muitas formas de fazer cinema. As pessoas me perguntam, ‘de onde vem toda esta violência em seus filmes?’ e eu respondo, ‘de onde vem toda a dança dos filmes de Stanley Donen?’ se você me pergunta como eu me sinto em relação à violência na vida real, bem, tenho muitos sentimentos sobre isso. É um dos piores aspectos da América. Nos filmes violência é legal. Eu gosto. (TARANTINO apud ZUCKERMAN, 2016, s/p).

    Ou esta para o Chicago Tribune, de 1993, sobre a violência em Cães de Aluguel (1992), quando diz que “ainda é um filme. No limite eu não sou responsável pelo que uma pessoa faz depois de ver um filme. Tenho uma responsabilidade. Minha responsabilidade é em criar personagens os mais verdadeiros que eu possa” (TARANTINO apud ZUCKERMAN, 2016, s/p).

    Vinte anos depois ele, de fato, seguiu dizendo as mesmas coisas, como mostra esta declaração de 2013, depois do lançamento de DJANGO LIVRE, para o site Fresh Air:

    Eu assistiria um filme de Kung Fu três dias depois do massacre de Sandy Hook? Eu assistiria um filme de Kung Fu? Talvez, porque eles não tem nada a ver um com o outro (…) Sim. Fico muito incomodado [com este tipo de pergunta]. Acho que é um desrespeito com a memória deles, na verdade (…) Com a memória das pessoas que morreram ao relacionar com filmes [suas mortes]. Acho que é totalmente desrespeitoso para sua memória. Óbviamente a questão é controle na venda de armas e saúde mental. (TARANTINO apud ZUCKERMAN, 2016, s/p).

    Fica claro, então, que Tarantino não é um cineasta que usa a violência como forma de encantar o público. Sua preocupação está no uso dela como recurso visual e narrativo: a catarse mencionada na entrevista à Guru-Murthy. Para ele a violência do mundo real não pode e não deve se relacionar com a da ficção, sempre contextualizada e caricatural.

Bibliografia

    AUMONT, Jacques. As Teorias dos Cineastas. Campinas, SP. Papirus, 2004.

    TARANTINO, Quentin in ZUCKERMAN, Esther. Everything Quentin Tarantino Really Thinks About Violence and the Movies. The Wire. Disponível em Acesso em 18 de maio de 2016.

    Filmes

    CÃES de Aluguel. Direção: Quentin Tarantino. Fotografia: Andrzej Sekula. TVSBT Canal 04 de São Paulo S/A./Columbia Tristar, 1992. 1 DVD (98 min), NTSC, color. Título original: Reservoir Dogs.

    DJANGO Livre. Direção: Quentin Tarantino. Fotografia: Robert Richardson. Columbia Tristar Buena Vista Films of Brasil Ltda., 2012. 1 DVD (145 min), NTSC, color. Título original: Django Unchained.

    PULP Fiction: Tempo de Violência. Direção Quentin Tarantino. Fotografia: Andrzej Sekula. Buena Vista Home Entertainment, Inc. / Videolar S/A, 1994. 1 DVD (154 min), NTSC, color. Título original: Pulp Fiction.